Meu Deus eu Creio, Adoro, Espero e Amo-Vos. Peço-Vos perdão para todos aqueles que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam.

Translate

English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified
Formação Católica

23 fevereiro 2016

OS ESCRITOS E O EXEMPLO DE SANTA TERESINHA REDUZIDOS A PRINCÍPIOS



Os escritos e o exemplo de Santa
Teresinha reduzidos a princípios

Este texto é um resumo (com algumas adaptações) do capítulo homônimo do livro "A Doutorinha de Lisieux ou A Santidade ao Alcance de Todos", de Leão do Norte, edição da Fundação Santa Terezinha, Taubaté, 1954.

  "Tudo o que S. Teresa do Menino Jesus praticava, declararam sob juramento as suas companheiras de vida religiosa, ensinava às noviças."

  (...)  A sua doutrina é a sua vida.  Desta sorte, para se praticar os ensinamentos teresianos força é imitar a Doutorinha.  Aliás, "não há talvez uma frase de sua obra e um fato da sua vida, escreve Petitot, que não tenham sido providencialmente destinados a nos servir de lição e de exemplo."

  Bem se percebe porque não quis ela receber graças extraordinárias (dom dos milagres, visões, êxtases, etc.):  "era necessário que tudo o que ela fizesse as almas pequeninas pudessem fazer também."


PRINCÍPIOS GERAIS
RELACIONADOS COM O NOSSO FIM ÚLTIMO


  I.  Devo, quero e posso ser santo.



DEVO:  "Ela meditava esta resposta do Catecismo, dizem as Carmelitas de Lisieux:  Deus me criou para conhecê-lo, amá-lo e servi-lo."  Fiel a esta máxima, escrevia a Santa a uma de suas primas:  "Desejas um meio para alcançar a perfeição?  Eu só conheço um: o Amor."

QUERO:  "...eu sempre aspirei à santidade": "Não quero ser santa pela metade..."

POSSO:  "Nosso Senhor não inspira desejos irrealizáveis; logo, não obstante a minha pequenez, posso tornar-me santa."

  II.  Para me santificar terei que sofrer muito.

  "Para ser santa é necessário sofrer muito, ambicionar o que há de mais perfeito e esquecer-se de si mesmo."


  III.  A santidade a que aspiro não é, todavia, a santidade eminente, mas a comum, isto é, aquela que consiste em suportar-me a mim mesmo com todas as minhas imperfeições.

  "Não me sendo possível elevar-me a um alto grau de perfeição, só me resta suportar-me tal qual me encontro com as minha inúmeras imperfeições."



PRINCÍPIOS PARTICULARES

AMOR DE DEUS

I.  Sabido que "a perfeição cristã consiste essencialmente no amor de Deus e do próximo", a minha maior preocupação há de ser amar a Deus sobre todas as coisas e ao meu próximo como a mim mesmo, por amor de Deus.

"Não alimento desejo algum, a não ser amar a Jesus até à loucura."
"Só há uma coisa a fazer neste mundo: amar a Jesus e salvar-lhe almas, para que Ele seja amado." "Só conheço um meio para se alcançar a perfeição: é o Amor.  Amemos, pois que o nosso coração só foi feito para isso."


  II.  Procurarei fazer todas as minhas ações, ainda as mais pequenas, por amor.

"Jesus nos ensina que as menores ações praticadas por amor são as que mais lhe agradam."

"A alma mais fervorosa é a que faz todas as coisas por amor."

Até porque "sem o amor, todas as nossas obras, mesmo as mais brilhantes, não valem nada."

Donde "o menor movimento que se faça por amor é mais útil à Igreja do que todas as obras feitas sem amor."

E a razão é porque "o Senhor não precisa das nossas obras, senão do nosso amor.

Quando, por exemplo, pedia à samaritana que Lhe desse de beber (Jo 7,4), era o amor de sua pobre criatura que Ele reclamava, tinha sede de amor!"


III.  Não farei caso das consolações, pois devo amar a Deus para causar prazer a Ele e não a mim.

"Eis uma coisa que eu nunca faria: pedir consolações!...  Isto porque "não desejo o Amor sensível; basta que Ele seja sensível para Jesus."

E justifica-se:

  "é tão doce servir a Deus nas trevas e nas provações!  Só temos esta vida para viver da fé!"  Aliás "é um grande amor amar a Jesus sem experimentar nenhuma doçura.  É um martírio..."

  "Há momentos em que me sinto menos consolada; é natural: não desejo a visita de Nosso Senhor para a minha satisfação, mas unicamente para lhe causar prazer."
  Cumpre-nos consolar a Jesus e não ser por Ele consoladas."

IV.  Nas securas espirituais timbrarei em dizer a Jesus que o amo, mesmo sem o sentir.

"Não tenhas receio de dizer a Jesus que O amas, mesmo sem o sentir: é um meio de obrigá-lo a vir em teu socorro."  E exemplifica:  "Quando estou em aridez, isto é, incapaz de rezar e praticar a virtude, busco então pequeninas ocasiões de dar prazer a Jesus; por exemplo: um sorriso, uma palavra amável, num momento em que desejasse calar, ou mostrar-me aborrecida, etc.  Se me faltam essas ocasiões, procuro ao menos repetir-lhe muitas vezes que O amo."

V.  Esforçar-me-ei por amar a Deus com exclusividade, isto é, não admitir neste amor mescla de outro amor, de tal sorte que a nenhum outro ser ame a não ser por amor de Deus.

  "Eu sinto um grande desejo de amar exclusivamente a Deus, de não procurar nenhuma satisfação fora dele."  "Jesus era meu único Amigo, acrescenta, eu só sabia falar com Ele; todas as conversações, mesmo as que versavam sobre coisas piedosas, me fatigavam a alma."

"Eu não quero que as criaturas tenham um átomo sequer do meu amor: todo ele pertence a Jesus."

E aconselhava:

"Que todos os instantes da nossa vida sejam dedicados só a Ele; que as criaturas só nos interessem de passagem."  "é tão bom trabalhar só para Ele!"


AMOR AO PRÓXIMO


VI.  Confiando na graça divina, lançarei mão de todos os meios ao meu alcance para suportas os meus semelhantes, não me espantar com as suas fraquezas e procurar tirar proveito de todos os seus atos de virtude.

  "A verdadeira caridade consiste em suportar todos os defeitos do próximo, não estranhar as suas fraquezas e procurar tirar proveito das suas virtudes, por pequeninas que sejam."

"Querendo aumentar esse amor (do próximo) no meu coração, e percebendo como o demônio busca pôr diante dos meus olhos os defeitos desta ou daquela irmã, trato logo de descobrir-lhe as virtudes ou boas intenções.  Reflito então que, se a vi cair em falta uma vez, bem pode ser que tenha alcançado muitas vitórias, que oculta por humildade; e o que se me afigura uma falta foi talvez um ato de virtude, pela intenção que a moveu a falar ou a proceder dessa maneira.  Facilmente me persuado disto, por tê-lo experimentado em casos que se deram comigo."

VII.  Tendo em vista a fraqueza humana (de que eu mesmo sou um testemunho irrefragável), não julgarei ninguém; por outro lado, não darei a mínima importância aos juízos que de mim venham a formular os outros.

"Quando a mim, repito com São Paulo, pouco se me dá ser julgada por quem quer que seja, pois nem sequer a mim mesma eu julgo...  Quem me julga é o Senhor.  Sim, é Jesus quem me julga!

E para que me seja favorável o seu julgamento, ou melhor, para não ser julgada, pois que Ele mesmo o disse:

"Não julgueis e não sereis julgados", quero pensar sempre dos outros com caridade."  "À opinião das criaturas, mercê de Deus, nunca dei a mínima importância."


VIII.  Tudo farei para tornar a vida suave àqueles com quem convivo; pelo que, com a graça de Deus, procurarei cumprir os itens que seguem:

1.  Não falar mal de ninguém  (a)
2.  Ser obsequioso  (b)
3.  Fazer bem aos que não gostam de mim  (c)
4.  Evitar discussões, deixando cada um com o seu modo de pensar (a menos que o meu silêncio significasse uma aprovação tácita do erro)  (d)
5.  Dar sempre que puder aos que me pedirem, e quando for obrigado a negar, fazê-lo suavemente  (e)
6.  A ninguém manifestar as minhas mágoas  (f)
7.  Estar sempre de bom humor  (g)

(a) "...não há nada mais doce do que pensar bem do nosso próximo." [volta]

(b) "Poder-se-ia dizer, atesta sua irmã Celina, que a caridade de Teresa ia até o sacrifício dos seus próprios interesses espirituais.  Tendo encontrado um livro que lhe era de grande utilidade, não o acabou de ler, passando-o a outras irmãs, de sorte que nunca rematou tal leitura, apesar dos seus desejos."

"Eis o que Jesus me ensina: Dá a todo aquele que te pedir, e ao tomar o que é teu, não lho torneis a pedir.  Não, não me basta dar a quem me pede, seja quem for: devo prevenir os seus próprios desejos, mostrar-me grandemente penhorada e até honrada com o ensejo que se me depara de prestar-lhe algum serviço.  E se me tomarem algum objeto do meu uso, devo portar-me de tal maneira que cheguem a pensar até que me parabenizo por ter ficado livre dele."  "...eu gostava de dobrar as capas esquecidas pelas irmãs e buscava mil outras ocasiões de lhes ser útil." [volta]

(c)  "Uma santa religiosa desta comunidade tinha outrora a habilidade de me desagradar em tudo; nisto andava metido o demônio, pois que só ele me podia fazer descobrir nela tantos pontinhos desagradáveis.  E não querendo eu por forma alguma ceder à antipatia natural que sentia, refleti que a caridade não devia consistir apenas nos sentimentos, senão também nas obras.

Procurei então fazer por esse irmã o que faria pela pessoa de minha maior estima.  Assim, todas as vezes que a encontrava procurava recomendá-la a Deus, oferecendo-lhe todas as virtudes e merecimentos da minha desafeta, certa de que, assim procedendo, dava sumo prazer ao meu Jesus...

Não me limitava a rezar muito pela irmã que me proporcionava tantas ocasiões de combate, ia mais adiante: buscava ensejo de lhe prestar quantos favores podia; e quando me vinha a tentação de lhe dar uma resposta desabrida, improvisava imediatamente um amável sorriso, procurando desviar a conversa, pois diz lá com muito acerto a Imitação de Cristo:

 "é de muito maior proveito afastar os olhos do que não te agrada, deixando cada um com o seu próprio parecer, do que divertir-te com porfias."  

Outras vezes também (e foram muitas), quando o demônio me tentava com mais veemência, achando meios de esquivar-me sem que ela desse pela luta que se travava no meu coração, fugia como soldado desertor..., tanto assim, que me disse ela certa vez, radiante de satisfação:  "Minha irmão Teresa do Menino Jesus quer dizer-me em confiança o motivo por que se mostra tão inclinada para mim?  Não se dá ocasião de nos encontrarmos sem que me favoreça com o mais gracioso dos sorrisos!" [volta]

(d)  "Querer persuadir nossas irmãs de que estão em erro, mesmo que tenhamos razão, não é boa tática de guerra, porque não somos responsáveis pelo seu procedimento.  Ademais, não convém que sejamos juízes de paz e sim anjos de paz.  Não tendes razão em criticar isto ou aquilo, desejando que todos se curvem à vossa maneira de ver as coisas.  Visto querermos ser criancinhas, devemos imitá-las: elas não sabem o que é melhor, acham tudo bom."

"Outrora, quando eu via uma irmã transgredir a regra, dizia comigo mesmo:  Ah, quem me dera poder admoestá-la e apontar-lhe as próprias faltas!  Hoje, a prática adquirida no ofício, me levou a mudar de opinião.  Assim, quando me acontece presenciar uma falta censurável, suspiro aliviada, dizendo para mim mesma: Ainda bem que não é noviça; não tenho obrigação de chamá-la à ordem!  E vou logo tratando de escusar a culpada, julgando que uma boa intenção a moveu a proceder daquela maneira."

Era assim que procedia a jovem mestra de noviças.  Entretanto, quando em consciência devia advertir ou censurar alguém, fosse quem fosse, não vacilava em fazê-lo, muito embora "preferisse receber mil repreensões a fazer uma só".  "Custe o que custar hei de cumprir o meu dever."  "é meu dever dizer a verdade às almas que me são confiadas e eu lhas digo."

Relata Petitot que "certa vez em que ela era de certo modo encarregada da direção das noviças, censurou publicamente, diante de quinze religiosas, a madre Maria de Gonzaga, dizendo:  "Madre Maria de Gonzaga não tem absolutamente nenhuma razão.  É um abuso evidente do poder proceder como ela tem procedido.  E o que me causa maior pesar é ver nisso uma ofensa a Deus." [volta]

(e)  Ver letra (b).  "...há maneiras tão delicadas de recusar o que não se pode dar que a mesma recusa causa tanto prazer como o bom despacho do pedido." [volta]

(f)  "Para atrairmos as luzes e o socorro divino sobre as almas que nos foram confiadas, força é nos abstermos de lhes contar as nossas mágoas, sob pretexto de alívio.  Aliás, desta maneira, nenhum alívio alcançamos, antes sofremos mais."

  "...com a graça de Deus esforço-me por não fazer sofrer aos outros com as provações que Nosso Senhor se digna enviar-me."  Por outro lado, "envidava todo o esforço possível por causar prazer aos outros." [volta]

(g)  "A fisionomia é o reflexo da alma, por isso deveis conservar o rosto sempre calmo e sereno, como as criancinhas.  E mesmo que estejais só, procedei assim, pois que estais constantemente na presença dos Anjos." [volta]


ABANDONO

IX.  Conformar a minha vontade com a de Deus para só querer o que Ele quer e da maneira como quer, há de ser o meu maior empenho.

"O total abandono - eis a minha única lei."  "O meu desejo é fazer sempre a vontade de Jesus.  Deixêmo-lo fazer tudo o que quiser; a perfeição consiste em fazer a sua vontade, entregando-se inteiramente a Ele."

  "Eu não quereria entrar no céu um minuto mais cedo por minha própria vontade."

  "Sofrer em paz não quer dizer experimentar sempre consolação ou alegria nos sofrimentos: para sofrer em paz basta querer só o que Nosso Senhor quer."

X.  Hei de fazer todo o esforço possível por conservar-me em estado de indiferença, tanto na dor quanto na alegria, de tal maneira que já não deseje o prazer nem o sofrimento, a vida nem a morte, aceitando o bem ou o mal como dádivas celestes.

"Não desejo mais morrer nem viver; se o Senhor me facultasse a escolha entre a vida e a morte, eu nada escolheria, porque só quero o que Ele quer."

"Meu Deus, eu só temo uma coisa: é fazer a minha vontade.  Tomai-a, porque eu escolho tudo o que vós quereis."

"Já não desejo o sofrimento nem a morte, entretanto os prezo a ambos!...  É só o abandono que me guia; não tenho outra bússola.  Não sei pedir mais nada com ardor a não ser o perfeito cumprimento da vontade de Deus sobre minha alma."

"O caminho em que estou não me proporciona nenhuma consolação, mas foi Jesus que o escolheu, e é a Ele e só a Ele que eu desejo contentar."

CONFIANÇA

  XI.  A medida da minha confiança em Deus será confiar nele sem medida.

"Não é por ter sido preservada do pecado mortal que me elevo a Deus pela confiança e pelo amor. Ah, não.  Sinto que ainda mesmo que tivesse consciência de haver cometido todos os crimes que se podem cometer, nada perderia da minha confiança; com o coração despedaçado pelo arrependimento iria lançar-me nos braços do meu Salvador.  Bem sei que Ele ama o filho pródigo, ouvi as palavras que dirigiu a S. Madalena, à mulher adúltera, à samaritana..."

"O Senhor leva em conta as nossas fraquezas, pois que conhece perfeitamente a nossa fragilidade.  Portanto, de que havemos de temer?"  "Sim, não tenho dúvida que o Senhor é mais terno que uma mãe!  E eu conheço a fundo mais de um coração materno!  Sei que uma mãe está sempre disposta a perdoar as pequeninas indelicadezas involuntárias de seu filho."

"Confio em Jesus, conto-lhe todas as minhas infidelidades, pensando com temerário abandono adquirir, assim, maior império sobre o seu coração; atiro-me com maior confiança ainda ao amor daquele que 'não veio chamar os justos, mas os pecadores.'  Jesus é onipotente; a confiança faz milagres."

"O que o ofende, o que lhe fere o Coração é a falta de confiança."

"O meu Caminhozinho é todo ele de amor e confiança, e não compreendo as almas que têm medo de um tão terno Amigo.  Nunca se confia demais em um Deus tão poderoso e tão bom.  Obtém-se dele tanto quanto se espera."

"Há de ser a confiança e só a confiança que nos levará ao amor."

DESAPEGO

XII.  Contando com a graça divina, procurarei viver sem nenhum apego aos bens deste mundo, particularmente às criaturas.

"Aqui na terra não nos devemos apegar a coisa alguma, nem mesmo às mais inocentes, porque elas nos faltarão no momento em que bem o não esperarmos; só o que é eterno nos pode contentar."

"Oh Jesus, fazei que eu não procure nem encontre nada além de vós!  Que as criaturas não valham nada para mim, nem eu para elas!  Que nenhum bem terreno perturbe a minha paz."

"...fazei o que puderdes por desapegar o coração das coisas terrenas, sobretudo das criaturas, e podeis ter certeza que Jesus fará o resto."

"Se soubésseis até que ponto eu desejo ser indiferente às coisas deste mundo!  Que me importam todas as belezas criadas?  Eu seria infeliz, se as possuísse.  Ah, como o meu coração me parece grande quando o considero com relação aos bens terrenos (os quais, reunidos, não poderiam contentá-lo)!"

"Só há um meio de se forçar Nosso Senhor a não julgar-nos: é apresentar-se diante dele com as mãos vazias."  -  Como assim? lhe perguntaram.  "é simples: não façais nenhuma reserva; dai os vossos bens à medida que os fordes ganhando.  Quanto a mim, se vivesse até os 80 anos, seria sempre pobre; não sei fazer economias: tudo o que tenho gasto logo comprando almas."

"Escrever livros de piedade, compor as mais sublimes poesias, etc., tudo isso não vale o menor ato de renúncia."  Escrevendo a um missionário, poucos dias antes de morrer, acentuava:  "No momento de comparecer diante de Deus, compreendo mais do que nunca que só há uma coisa necessária:  É trabalhar unicamente para Ele, nada fazendo para nós mesmos, nem tampouco para as criaturas."

A FÉ

XIII.  Contentar-me-ei em viver da minha fé, não aspirando a graças extraordinárias, como por exemplo visões, êxtases, dom dos milagres, etc.

"Deus e os anjos não podem ser vistos com os olhos do corpo.  É por isso que eu nunca desejei graças extraordinárias.  Prefiro aguardar a visão eterna."

  "Oh Jesus, para Te ver
  Eu aguardo a aurora,
  Pois não é meu desejo
  Ver-Te aqui na terra.
  Lembra-Te?"

"Só temos esta vida para viver da fé."  No dia em que se despediu de suas três irmãs (Paulina, Celina e Maria), 4.6.1897, assim lhes falou:  "Não se admirem se eu não lhes aparecer depois da minha morte, e se não virem nenhum sinal que denote a minha felicidade.  Lembrem-se de que não é do espírito do nosso Caminhozinho ter revelações."


FIDELIDADE NAS COISAS PEQUENINAS

XVI.  Sabido que "aquele que é fiel no pouco, se-lo-á no muito", esforçar-me-ei por ser sempre fiel nas coisas pequeninas.

"Se fores fiel em causar-lhe (a Jesus) prazer nas pequeninas ocasiões, Ele se verá obrigado a te ajudar nas grandes."

Uma tarde foi vista colocando à porta de sua cela um canivete de que se tinha servido durante o dia. Na manhã seguinte, interrogada sobre a razão desse ato, respondeu com simplicidade:  "Eu não tinha podido ir colocá-lo no seu lugar, e como não é objeto de cela, não quis conservá-lo durante a noite."

Quando apontava seu lápis, apanhava as mínimas parcelas de madeira que se desprendiam a fim de queimá-las.

"Certa noite, depois de Completas, procurei em vão o nosso candeeiro na estante onde o costumava colocar, e sendo já tempo do grande silêncio, não o podia reclamar.  Refleti então (e com razão) que alguma das irmãs o havia tirado por engano, tomando-o pelo seu.  Mas havia eu de ficar uma hora inteira às escuras por causa desta distração, e logo naquela noite em que esperava trabalhar bastante?
Faltasse-me nessa circunstância a luz interior da graça e me teria certissimamente lastimado; com ela, pelo contrário, não me agastei, antes fiquei até satisfeita, lembrando-me de que a pobreza consiste na privação não apenas das coisas agradáveis, mas também do indispensável."

"No meu Caminhozinho, só há coisas muito ordinárias: importa que tudo o que eu faço as almas pequeninas possam fazer igualmente."

"Uma só coisa nos cumpre fazer neste mundo: atirar a Jesus as flores dos pequeninos sacrifícios."
E que sacrifícios são esses?  "Conservar sempre o semblante calmo e sereno"; "tomar parte numa conversa ou recreação não por prazer, mas para causá-lo aos outros"; "atender prontamente a quem quer que nos chame"; "praticar pequeninos atos de caridade sem que ninguém o saiba"; "nunca nos queixarmos"; "não nos desculparmos quando nos acusarem injustamente"; "evitar discussões"; "reprimir uma palavra de réplica", e "mil outras coisas deste gênero".

HUMILDADE

XV.  Procurarei viver oculto, esquecido de todos e de mim mesmo, fugindo à estima e às honras do mundo.

"Eu quero viver oculta sobre a terra, sem em tudo a última."  "Que felicidade viveres tão oculta, que ninguém pense em ti!  Seres desconhecida até daqueles com quem convives!"  "...a verdadeira e única glória é a que dura sempre; para consegui-la, não é necessário praticar obrar brilhantes: basta ocultar-se aos outros e a si mesmo."  "Não esqueçamos de que Jesus é um tesouro oculto: poucas almas logram descobri-lo, porque, em geral, só se ama o que brilha...  Para se encontrar uma coisa oculta, força é ocultar-se também a si mesmo..."  "Estas palavras de Isaías:  'Ele não tinha beleza nem formosura...  o seu rosto estava como que velado e desprezível; vimo-lo e não O reconhecemos" (LIII, 2-3), tais palavras constituem o fundamento da minha devoção à Santa Face, ou melhor, a base de toda a minha piedade.  Também eu quisera ser como Jesus; sem beleza e desconhecida de todas as criaturas."  "Eu desejo sofrer muito e viver desprezada neste mundo."  "Oh Jesus, fazei que ninguém se importe comigo; de tal maneira que eu seja pisada aos pés, como um grãozinho de areia."  "...só aspiro ao esquecimento...; o desprezo e as injúrias ainda seriam muita glória para um grãozinho de areia; porque, quando se despreza um grão de areia, sinal é de que ele existe e se pensa nele...  Eu quero ser esquecida não apenas das criaturas, senão também de mim mesma, a fim de não alimentar nenhum outro desejo além do de amar a Deus."

XVI.  Farei todo o possível por quebrantar a minha vontade, procurando antes satisfazer os desejos dos outros que os meus.

"Toda a minha penitência consistia em quebrantar a vontade, represar uma palavra de réplica, prestar modestos serviços aos que me rodeavam, sem todavia os fazer valer, e a mil outras coisinhas deste gênero."

"Quando uma pessoa é verdadeiramente humilde, submete-se a todos."

"Considerai-vos não apenas como uma criadinha, mas como uma escrava inútil, a quem todos tivessem o direito de dar ordens e ela nenhuma razão para se queixar."

XVII.  Quando tiver outros sob minha jurisdição, não lhes mandarei fazer coisa alguma ordenando, senão pedindo.

"Suplico-vos, meu Jesus, que me envieis uma humilhação cada vez que eu começar por considerar-me superior aos outros."  "Devemos pedir as coisas de que necessitamos com humildade, como os pobres, que, quando são repelidos por aqueles a quem estendem a mão, não se zangam, pois que ninguém lhes deve nada."


XVIII.  Considerar-me-ei sempre um grande pecador, ainda que de nada me acuse a consciência.

"Bem sabeis, Senhor, que eu vos amo, mas tende compaixão de mim, que sou uma grande pecadora!"

"Se eu estivesse em lugar de N., há muito tempo que me teria perdido na vasta floresta deste mundo."

"Jesus me perdoou antecipadamente os pecados que eu teria de cometer."


XIX.  Esforçar-me-ei por não me aborrecer nem impressionar quando os outros disserem ou pensarem mal de mim.

"A humildade não consiste apenas em dizeres que estás cheio de defeitos, mas em gostares que os outros o digam e pensem."

XX.  Quando me assaltar tentação de vanglória proveniente de elogios ou coisa equivalente, lembrar-me-ei das minhas misérias passadas e presentes.

"...os elogios não me envaidecem porque penso constantemente nas minhas misérias."
  "Eu vos peço, ó meu Deus, que o óleo dos louvores, tão doce à natureza, não me amoleça a cabeça, quero dizer, o meu espírito, persuadindo-me que já possuo virtudes que apenas pratiquei algumas vezes. (salmo CXL)


XXI.  Não atribuirei as minhas faltas a causas físicas - enfermidades, intempéries, etc. -, senão às próprias imperfeições, sem contudo desanimar.

"Quando cometermos uma falta, não a atribuamos a uma causa física qualquer, como, por exemplo, a uma doença ou ao mau tempo, mas às nossas imperfeições, sem entretanto nos desencorajar nem entristecer."

"...humilhar-se e suportar com doçura as imperfeições, eis a verdadeira santidade."

XXII.  Por amor de Deus preferirei sempre o último lugar ao primeiro.

  "Por ti, Jesus, eu quero viver sempre oculta sobre a terra, ser em tudo a última."
  "Desde que Ele nos veja convencidos de que somos nada, estende-nos a mão.  Se, porém, procurarmos fazer algo de grandioso, mesmo sob pretexto de zelo, deixa-nos a sós."  "A única coisa que não é passível de inveja é o último lugar; tudo o mais está sujeito às vaidades e ao desassossego."

MORTIFICAÇÕES

  XXIII.  Farei consistir as minhas penitências ou mortificações ordinárias não em macerações, jejuns, vigílias, etc., mas em coisas pequeninas, como, por exemplo, reprimir o amor próprio, represa uma palavra áspera, não me queixar, obsequiar indistintamente a quem quer que me procure, etc.

"Longe de imitar as belas almas que desde a sua infância praticam toda sorte de macerações, eu fazia consistir as minhas unicamente em quebrantar a vontade, reter uma palavra de réplica, prestar pequeninos obséquios sem os fazer valer e mil outras coisas deste gênero."

"é necessário encontrar em tudo abnegação e sacrifício; assim, me parece que uma carta escrita sem certa repugnância e pelo único motivo de obedecer não produzirá fruto algum.  Sempre que trato com uma noviça, procuro mortificar-me, evitando, por exemplo, dirigir-lhe perguntas que viriam satisfazer a minha curiosidade.  Dando-se o caso de ela cortar um assunto interessante e passar a outro enfadonho, sem esgotar o primeiro, tomo cuidado por não a fazer reparar nesta interrupção, porque, a meu ver, nenhum bem pode fazer quem se busca a si mesmo."

Ver outras mortificações nos textos em abono do princípio XXV.


XXIV.  Esforçar-me-ei por disfarçar, através de um constante bom humor, os meus sofrimentos e mortificações.

"Jesus ama os corações alegres.  Quando aprendereis a ocultar-lhe as vossas penas, ou a dizer-lhe cantando que vos sentis feliz por sofrer por Ele?"

"O rosto é o reflexo da alma; portanto, deveis conservar o semblante calmo e sereno como uma criancinha, que está sempre contente.  Quando estiverdes só, procedei do mesmo modo, visto que estais continuamente na presença dos anjos."

"Eu me esforçava por sorrir em meio aos sofrimentos, a fim de que Nosso Senhor, como que enganado pela expressão do meu rosto, não soubesse que eu estava sofrendo."

Esteada na Escritura, assim justificava o seu proceder:  "'Conheço uma fonte onde depois que a gente bebe, ainda tem sede' (Eclo 24,20): é o sofrimento conhecido só por Jesus."

"No tempo em que minha irmã Maria do Sagrado Coração era provedora, punha todo o empenho em tratar-me com ternura maternal, a tal ponto que me podiam julgar muito mimada.  Entretanto, quantas mortificações não me obrigou a fazer, pois me servia de acordo com os seus gostos pessoais, que eram inteiramente opostos aos meus."  O seu estômago delicado (narram as suas companheiras) dificilmente se acomodava com a alimentação frugal do Carmelo, e certos manjares lhe causavam até enjôo e repugnância; ela, porém, o disfarçava com tanta habilidade, que nunca houve quem desse por isso.

XXV.  Obedecerei aos meus superiores como um escravo, sem me queixar nem discutir o porquê das suas ordens.

"Tomei a resolução de nunca considerar se as ordens que me davam eram úteis ou não."

"Vós vos devíeis considerar não apenas como uma simples criadinha dos doentes (dizia ela a uma enfermeira), mas como uma verdadeira escrava, a quem todos tivessem o direito de dar ordens e ela nenhum direito de se queixar."

"Só pela humildade se pode atingir esse grau de obediência.  Quando somos humildes, facilmente nos deixamos governar por todos."

ORAÇÃO

XXVI.  Não podendo fazer nada sozinho (cf. Jo 15,5) farei da prece o pão cotidiano do meu espírito.


"Constituem a prece e o sacrifício toda a minha força; são armas invencíveis que, mais do que as palavras - eu o sei por experiência - podem tocar os corações."  "Quão grande é o poder da oração!  Dir-se-ia uma rainha que tem sempre livre acesso junto ao rei, podendo obter dele tudo o que pedir."

 "Não é necessário, para sermos ouvidos, ler num livro belas fórmulas compostas conforme as circunstâncias; se assim fosse, ai de mim!  Costuma fazer como as criancinhas, que não sabem ler; digo simplesmente a Nosso Senhor tudo o que desejo, e Ele sempre me compreende." 

"A prece é, a meu ver, um ímpeto do coração, um simples olhar para o céu, um grito de reconhecimento e de amor, assim na prova como na alegria!  É enfim alguma coisa de sublime e sobrenatural que dilata a alma e a une a Deus.  

Por vezes, quando me encontro em grande secura espiritual, e não posso conceber nenhum pensamento bom, digo apenas um Pater e uma Ave Maria; essas duas preces me arrebatam, nutrem divinamente a minha alma e a satisfazem."

Vantagens da oração, segundo ela:

 "Não foi na oração que São Paulo, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, São João da Cruz, Santa Teresa e tantos outros servos de Deus foram buscar essa prodigiosa ciência, que arrebata os mais atilados dos gênios?  Disse um sábio que 'se lhe dessem um ponto de apoio, ele levantaria o mundo.'  Pois bem, o que não conseguiu Arquimedes, alcançaram-no plenamente os santos.  O Todo-Poderoso deu-lhe um ponto de apoio, que é Ele mesmo e só Ele!  Deu-lhes por alavanca a oração, que tem a virtude de abrasar em incêndios de amor; e desta sorte lograram levantar o mundo."

PUREZA


 XXVII.  No jardim do meu coração a minha flor predileta há de ser a pureza compatível com o estado de vida que abracei.

  "Façamos do nosso coração um canteiro de delícias, onde o nosso doce Salvador venha repousar; plantemos aí belos lírios de pureza..."

  "Os corações mais puros são muitas vezes os mais provados pela tentação; não raro estão nas trevas, pensam então haver perdido a sua pureza e que os espinhos que os cercam já dilaceraram a sua corola.  Engano: os lírios que estão no meio dos espinhos são os mais preservados; é neles que Jesus se delicia: 'Bem-aventurado aquele que é digno de sofrer tentação' (Tg 1,12).  

"Fazer o que estiver ao vosso alcance por desapegar o vosso coração das afeições terrenas, particularmente das criaturas, e podeis ter certeza que Jesus fará o resto."


SIMPLICIDADE

XXVIII.  Na prática da virtude evitarei a todo custo a singularidade, a fim de não despertar a curiosidade ou a inveja dos outros.

 "é necessário que as almas pequenas não me possam invejar em nada."  

"longe de imitar as belas almas que desde a sua infância praticam toda a sorte de macerações, eu fazia consistir as minhas em quebrantar a vontade, reprimir uma palavra de réplica, prestar pequenos obséquios, sem os fazer valer, e mil outras coisas deste gênero."  (Ver o Princípio XXIV) 

 "No meu Caminho tudo é fácil de suportar, e isso é o bastante."  

"Às almas simples não se devem impor meios complicados, e, como eu sou deste gênero, Nosso Senhor me inspirou um meio muito fácil de cumprir as minhas obrigações."  

"Ele me fez compreender esta palavra dos Cânticos, 1,3:  'Nós corremos após de ti ao odor dos teus perfumes.' "  "é preciso ir até aonde possam chegar as próprias forças sem se queixar."

  Uma das religiosas que lhe eram vizinhas à mesa tentou em vão descobrir quais eram as suas iguarias mais apetecidas.  E as irmãs que lidavam na cozinha, vendo como se satisfazia com qualquer bocado, serviam-lhe invariavelmente os sobejos.

TENTAÇÕES

XXIX.  Nas tentações, longe de enfrentar o tentador, preferirei combatê-lo pelo desprezo, dando-lhe as costas.
"Sempre que me vejo salteada ou provocada pelo inimigo, porto-me como soldado valente: sabendo que o bater-se em duelo é covardia, dou logo as costas ao adversário e corro pressurosa para Jesus, protestando-lhe estar pronta a derramar até a última gota o meu sangue para confessar a existência do céu..."

XXX.  Hei de servia a meu Deus sem levar em conta as consolações ou securas que ele me enviar.

 "é tão doce servir a Deus nas trevas e nas provações!"  

"Quando sinto aridez ou secura, e me julgo incapaz de orar ou praticar atos de virtude, busco então as pequeninas ocasiões, pequenos nadas, para causar prazer a Jesus; por exemplo: um sorriso ou uma palavra amável, quando desejava calar ou mostrar-me aborrecida.  E se nem essas ocasiões me é dado encontrar, procuro ao menos dizer-lhe muitas vezes que o amo..."

"Eu bem poderia atribuir a minha secura espiritual à falta de fervor e de fidelidade; deveria afligir-me por dormir freqüentemente durante a meditação e a ação de graças.  Mas, pelo contrário, não me penalizo por isso, porque penso que as criancinhas tanto agradam a seus pais dormindo como acordadas.  Estou que o Senhor conhece a nossa fragilidade e sabe que somos apenas poeira."

ZELO

XXXI.  Um dos meus maiores empenhos será a conversão dos pecadores e a formação do clero.

Interrogada, no exame canônico, sofre que motivos a levaram a fazer-se carmelita, a Santa respondeu:  "Vim para salvar as almas e sobretudo orar pelos padres."

Em carta ao Pe. Rouland acentua:

"Julgar-me-ei verdadeiramente feliz de trabalhar com V. Rev.ma. na salvação das almas, foi para isso que me fiz carmelita."

Ao mesmo sacerdote:

"Quisera salvar almas e esquecer-me de mim mesma por elas; quisera salvá-las mesmo depois da minha morte, por isso seria feliz se V. Rev.ma. dissesse então, em lugar da oraçãozinha que recita e que será realizada para sempre, a seguinte:  "Meu Deu, permiti a minha Irmã de Vos fazer amar ainda".  Se Jesus ouvi-lo, eu saberei mostrar-lhe a minha gratidão."

CONCLUSÃO

Nos 31 princípios que aí ficam procuramos encerrar senão toda a doutrina da Infância Espiritual, segundo a Doutorinha de Lisieux, pelo menos a essência desta doutrina.  E é o quanto basta, cremos nós, para o fim a que se destinam tais princípios.

Para não avolumar demais o nosso trabalho, não citamos todas as sentenças com que a Santa abona os princípios formulados, senão apenas algumas.  Em uma palavra: esforçamo-nos por dizer muito em poucas páginas.

A Doutorinha de Lisieux ou a Santidade ao alcance de todos ganhará talvez, assim, em intensidade o que perdeu em quantidade.  Trata-se de um simples vade-mecum, de fácil manuseio, pequenino materialmente como espiritualmente o deverão ser todos aqueles que desejarem ingressar na Escola da Infância:  "Quem for pequenino, venha a mim." (Prov. 9,4)

Nenhum comentário:

Postar um comentário