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Formação Católica

23 setembro 2016

A VOCAÇÃO - SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS E DA SAGRADA FACE

Teresa ao treze anos.


Quero ser carmelita!

Teresa, abrasada em zelo pela salvação das almas e ansiosa por converter pecadores e lutar pelo reinado de Jesus Cristo, não parecia destinada à vocação missionária? Sentia-se, no entanto, cada vez mais atraída para o Carmelo. Compreendeu que muito mais vasto e poderoso é o apostolado da oração e do sacrifício.

A sede de almas que a devorava só na montanha santa do Carmelo poderia encontrar algum alívio. Desde três anos havia dito: "Hei de ser carmelita!" Agora, quando o mundo já lhe parecia tão pequenino e pobre e mesquinho, tão vazio, ambicionava a grande ventura de o deixar muito breve e sem demora voar para a Arca Santa do Carmelo.

Celina, a confidente de Teresa naquela época, depôs no "Processo Diocesano":

"Tinha-me tornado a confidente única de Teresa." A vida religiosa aparecia-lhe principalmente como um meio de salvar almas. Pensou até por isso mesmo fazer-se religiosa das missões estrangeiras; mas a esperança de salvar mais almas pela mortificação e pelo sacrifício de si própria decidiu-a a encerrar-se no Carmelo. 

A serva de Deus confiou-me o porque dessa decisão: Achava mais duro para a natureza trabalhar sem ver o fruto do seu labor, porque de todos os trabalhos o que mais custa é o que se empreende contra si próprio, para conseguir vencer-se. Assim, esta vida de morte, mais lucrativa que todas as outras para a salvação das almas era a que queria abraçar desejando, como ela própria dizia, tornar-se o mais cedo possível prisioneira, para dar as almas as belezas do céu. Enfim, entrando para o Carmelo, o seu fim especial era orar pelos padres, imolar-se pelas necessidades da Igreja.

Chamava este gênero de apostolado, fazer negócio por atacado, visto que, atirando a cabeça, atingia assim todos os seus membros. Declarou também bem alto, no exame canônico que precedeu a sua profissão, a sua intenção pessoal: "Vim, diz ela, para salvar almas e principalmente para rezar pelos padres". Esta resposta é especial. Cada uma responde o que quer nessa circunstância". Deram-lhe os "Anais das Religiosas Missionárias" que julgaram havia de atraí-la. Interrompeu a leitura, dizendo: - "Não quero ler mais. Tenho um desejo tão vivo, tão ardente de ser missionária! iria avivá-lo mais ainda com esta leitura, com este quadro de apostolado! Quero ser Carmelita!"

Havia de sacrificar-se generosamente pelas almas. Orar pela santificação dos sacerdotes e pela conversão dos pecadores! Este ideal sublime a encantava. "Quero esconder-me no claustro, quero dar-me inteiramente a Nosso Senhor, quero salvar almas pelo sacrifício e oração", diz Teresa a irmã.

Estudos e leituras.

Paulina, agora "Soror Inês", bem sabia da vocação de Teresa e a animava sempre mais em cada visita que esta fazia ao Carmelo. Maria, como mais velha, não se conformava com a ideia da menina. Achava-a muito nova para abraçar vida tão austera. Celina, a companheirinha querida de infância, compreendia perfeitamente Teresa. Entendiam-se bem.

Ao terminar cada dia a tarefa dos estudos, ambas no alto sentadas no "Belvedere" ante a paisagem encantadora dos jardins dos Buissonnets, palestravam largamente sobre a vida austera do Carmelo, e assuntos edificantes da vida religiosa. O Sr. Martin ocupava sempre as filhas nos trabalhos domésticos e desejava fossem todas boas donas de casa.

Celina e Teresa, apesar dos estudos e os colóquios de espiritualidade, haviam de achar tempo para a arrumação e cuidados da casa. As meninas começavam o dia pela assistência à Santa Missa na Catedral. Nesta época dificilmente permitiam a comunhão frequente dos fiéis. O Confessor de Teresa, porém maravilhado com a pureza daquela alma deu-lhe licença para comungar vários dias na semana. "Não é para ficar no cibório de ouro que Jesus desce todos os dias do céu, e sim para encontrar outro céu, o céu de nossa alma, onde tanto se delícia."

A Santa Eucaristia a sustentava nos duros combates pelo seu ideal sublime de carmelita e à custa de muitos sacrifícios não perdia uma só comunhão das que permitia o confessor. Cada dia após a Santa Missa e os arranjos domésticos continuava a frequentar as aulas da professora que escolherá o pai ao retirá-la do Colégio da Abadia.

A menina dotada de uma rara inteligência, aproveitava sempre, e a mestra se contentava com a sua admirável capacidade intelectual e a sede de estudos e de novos conhecimentos.

Sua leitura predileta e assídua era a de dois livros: O "Evangelho" e a "imitação de Cristo". Coisa admirável" Aos quatorze anos sabia toda a 'Imitação' de cor. Trazia sempre consigo esse livrinho de ouro. A tia, Madame Guerin, para brincar e para também se edificar, abria ao acaso a 'Imitação', começava a leitura de um capítulo. Teresa acabava todo de cor, sem errar uma linha... Essas páginas humildes na forma, mas ricas de substância doutrinal, assim como de penetrante observação e, sobretudo, impregnadas de muita unção, pareciam adaptadas às aspirações de sua alma reta, amorável e profundamente sensata.

Adotou-o por livro de cabeceira, a ponto de aprender de cor, passados alguns meses e de poder recitar capítulos inteiros.

Entre os livros que lhe servem de alimento à piedade cita ainda com grandes elogios um que parece não ter conservado junto do público católico a estima que lhe dispensava. São as "Conferências acerca do fim do mundo presente e dos mistérios da vida futura" do Padre Armingon. "A leitura desta obra", declara ela, mergulhou a minha alma numa felicidade que não é deste mundo. Já pressentia o que Deus reserva aqueles que o amam, e ao ver as recompensas eternas tão desproporcionadas aos ligeiros sacrifícios desta vida, queria amar Jesus com paixão, dar-lhe mil provas de ternura enquanto ainda me era possível."

Os primeiros obstáculos

Desde que Teresa manifestou desejo de ingressar no Carmelo, surgiram obstáculos quase insuperáveis. Era ainda muito nova. Tinha quatorze anos e meio quando resolveu dar os primeiros passos pelo seu ideal. Quisera entrar no mosteiro de Lisieux pela festa do Natal, aniversário da grande vitória daquela graça obtida no ano anterior. A madre priora receberia de boa vontade e Soror Inês, a Paulina querida, pôs se a advogar a causa da irmãzinha.
Dizia Teresa: "Só encontrei uma alma que me animasse a seguir a minha vocação e esta foi a minha querida Paulina, em cujo coração achei eco fiel, e se não tivesse me ajudado, é certo não teria chegado ao porto abençoado".

Maria, agora Soror Maria do Sagrado Coração, protestava: Era um absurdo receber na vida austera do Carmelo a irmãzinha tão nova, e demais o pai tinha necessidade da companhia confortadora da sua pequenina Rainha. Leônia estava a caminho co convento. Como o Sr. Martin já tantas vezes provado por tamanhos golpes e amarguras poderia suportar a dura separação da Teresinha, o encanto, a alegria, o raio de sol da sua vida?

Enfim, mil razões surgiam como obstáculos quase insuperáveis.

Teresa, enérgica, e uma vez neste caminho iria prosseguir até o fim, até a conquista do seu sublime ideal. Celina ainda ignorava os projetos da irmãzinha querida.

Escreve Teresa: "Não ousava tocar neste assunto diante de Celina e este silêncio aumentava sobremaneira o meu tormento; custava tanto ocultar-lhe a mínima coisa! Não tardou, porém, esta irmã querida a saber da minha determinação e tão fora esteve de me desviar dela, que antes, aceitou o sacrifício com admirável coragem. Ambicionando ela também ser religiosa, era natural que fosse a primeira a partir; mas assim como outrora os mártires davam alegremente o ósculo da despedida aqueles dentre os irmãos, que haviam sido escolhido para os preceder na arena, ela também cedeu o passo e a dianteira, partilhando nas minhas provações como se trata-se de sua própria vocação.

Não havia, pois, que recear da parte de Celina; a grande dificuldade estava em anunciar os meus projetos ao papai.

Confidência memorável

Diz Mons. Laveille: - Para Teresa um impedimento mais delicado, se não mais invencível do que a oposição vinda do Carmelo, era a perspectiva de deixar o pai num isolamento que só poderia dilacerar-lhe o coração. Este tinha então sessenta e quatro anos. Conservava um vigor aparente, mas ficara enfraquecido por um primeiro ataque de paralisia, prontamente conjurado, verdade seja, mas cuja possível repetição não deixava de aterrar os que o rodeavam. Além disso, mordido outrora por uma mosca venenosa durante uma excursão piscatória, nunca se curara de uma pequena excrescência no pescoço, a qual por vezes se tornava muito dolorosa e resistia a todos os remédios. Era uma dupla ameaça para a sua vida; e era nestas circunstâncias que se tornava necessário pedir-lhe o sacrifício da sua pequenina Rainha!

Teresa tremia, só com o pensamento de tratar um tal assunto na presença do pai. Entretanto, os meses passavam. Tinha quatorze anos e meio e havia decidido, se conseguisse triunfar dos obstáculos contra o seu projeto, entrar no Carmelo na próxima desta do Natal, no próprio dia em que, um ano antes, recebera a graça da conversão.

A cena tão comovedora e bela daquela tarde só no-la pode descrever teresa.
É uma das páginas mais belas da "História de uma alma". Mesmo sob o ponto de vista literário.

Diz Ela:

"Escolhi a festa de Pentecostes para lhe fazer a minha importante confidência. Durante o dia implorei as luzes do Espírito Santo, suplicando aos Apóstolos que intercedessem por mim e me inspirassem as palavras a que devia oportunamente recorrer.  
E, vamos lá, não lhes cabia a eles a missão de auxiliar a tímida criança que Deus destinava a ser o apóstolo dos apóstolos por meio da oração e do sacrifício? 
A tarde, de volta das Vésperas, apresentou-se-me a ocasião desejada. Meu pai fora sentar-se no jardim, onde, de mãos postas contemplava as maravilhas da natureza. Os últimos raios do sol poente doiravam as franças das grandes árvores e os passarinhos gorjeavam a sua prece vespertina. 
No rosto venerando do meu pai notei uma expressão de todo celeste e percebi que a paz lhe inundava o coração. Fui, então, caladinha, sentar-me ao seu lado, mas com os olhos já umedecidos de lágrimas. Olhou para mim com indefinível ternura, recostou a minha cabeça no seu coração, perguntando-me: "Que tens, minha pequenina Rainha, que te aconteceu? Anda, confia-me tudo". Erguendo-se em seguida, como que buscando dissimular a própria emoção, entrou a passear vagarosamente, conchegando-me sempre ao seu peito. 
Gravura que ilustra a cena na qual Teresa revela o seu desejo ao pai de entrar para o Carmelo.
Ente lágrimas, falei então do Carmelo, dos desejos que trazia de lá me acolher quanto antes. E chorou ele também. Nada me disse, contudo, que me pudesse desviar da minha vocação, fazendo apenas notar como era muito menina ainda para tomar determinação de tamanho peso e responsabilidade. E como instasse com ele em defesa eloquente da minha causa, o meu incomparável pai, prendado como era, de natural reto e generoso, não tardou a render-se às minhas razões. 
Ficamo-nos a passear ainda bom espaço de tempo. O meu coração ia já desafogado, e ao papai já se lhe haviam estancado as lágrimas. Falou-me como falaria um santo. Abeirando-se de um muro pouco elevado, mostrou-me umas níveas florinhas semelhantes a lírios em miniatura, e colhendo uma delas, deu-ma, fazendo reparar no carinhoso desvelo, com que Nosso Senhor cuidara em fazê-la desabrochar e em resguarda-la até aquele dia. 
Julgava eu estar a ouvir a minha própria história, tais eram os pontos de semelhança entre a pequenina flor e Teresinha. Aceitei-a a modo de relíquia e notei que, no ato de colher essa florinha o papai lhe tinha arrancado todas as raízes sem as quebrar. Parecia destinada a viver ainda em outra terra fértil. O mesmo acabava de fazer o meu estremecido paizinho a meu respeito, consentindo-me trocar pela montanha do Carmelo o ameno vale, que fora testemunha dos meus primeiros passos na vida. 
Numa estampa de Nossa Senhora das Vitórias colei a nívea florinha: Sorri-lhe a Virgem Santíssima, e o Menino Jesus dir-se-ia que a está segurando com a mãozinha. Lá se ficou até hoje: o seu hastil, porém, quebrou-se rente com a raiz. Pelo visto quererá Deus significar-me que brevemente cortará os liames que prendem a sua florinha e não a deixará definhar nesta terra...

Imagem de Teresa e seu pai Luis no jardim dos Buissonnets.

Excerto do Livro; Santa Teresinha do Menino Jesus, Monsenhor Ascanio Brandão. Capítulo XIV, páginas 147 à 153.

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