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Formação Católica

07 abril 2016

CARTA DOS TRÊS BISPOS AO CONSELHO GERAL DA FSSPX



Carta dos três Bispos ao Conselho Geral da FSSPX

Senhor Superior Geral
Senhor Primeiro Assistente
Senhor Segundo Assistente

Depois de alguns meses, como muitos dizem, o Conselho Geral da FSSPX considera seriamente as propostas romanas com vista a um acordo prático, sendo um fato que as discussões doutrinárias entre 2009 e 2011 têm provado que um acordo doutrinário é impossível com a Roma atual. Por meio desta carta, os três bispos da FSSPX que não fazem parte do Conselho Geral desejam fazer-lhes saber, com todo o respeito que convém, a unanimidade de sua oposição formal a qualquer acordo semelhante.

Claro, de ambos os lados da divisão atual entre a Igreja Conciliar e a FSSPX, muitos desejam restaurar a unidade católica. Honramos a essas pessoas, tanto de uma parte como de outra. Mas a realidade dominante, e diante da qual todos esses desejos sinceros devem ceder, é que, desde o Concílio Vaticano II, as autoridades oficiais da Igreja se afastaram da verdade católica e, hoje em dia, elas se mostram tão determinadas como sempre foram a permanecerem fieis à doutrina e à prática conciliares. As discussões romanas, o preâmbulo doutrinal e Assis III são exemplos impressionantes.

O problema colocado aos católicos pelo Concílio Vaticano II é profundo. Em uma conferência que parece ter sido como que o último testamento doutrinal de Monsenhor Lefebvre, dada aos sacerdotes de sua Fraternidade em Ecône meio ano antes de sua morte, depois de ter resumido a história do catolicismo liberal saído da Revolução Francesa, ele lembrou como os Papas sempre combateram essa tentativa de reconciliação entre a Igreja e o mundo moderno, e declarou que o combate da Fraternidade contra o Vaticano II era exatamente o mesmo combate, concluindo:



“Quanto mais se analisam os documentos do Vaticano II e sua interpretação pelas autoridades da Igreja, mais nos damos conta que não se trata de erros superficiais nem de alguns erros particulares, como o ecumenismo, a liberdade religiosa, a colegialidade, mas antes uma perversão total do espírito, de toda uma filosofia nova fundada no subjetivismo… Isso é muito sério! A perversão total!… Isto é verdadeiramente espantoso”.

Agora, o pensamento de Bento XVI é melhor em comparação ao de João Paulo II? Basta ler o estudo de um de nós sobre La Foi au Péril de la Raison [A Fé Posta em Perigo pela Razão – Mons. Tissier de Mallerais] para perceber que o pensamento do Papa atual é igualmente impregnado de subjetivismo. É toda a fantasia subjetiva do homem no lugar da realidade objetiva de Deus. É toda a religião católica submissa ao mundo moderno. Como se pode acreditar que um acordo prático possa corrigir um problema desses?

Mas, nos diriam, Bento XVI é bondoso para com a Fraternidade e sua doutrina. Por ser um subjetivista, ele pode ser bondoso, porque os liberais subjetivistas podem tolerar a própria verdade, mas não se ela se recusar a tolerar o erro. Ele [o Papa] nos aceitará no contexto de um pluralismo relativista e dialético, sob a condição de permanecermos em “plena comunhão” com a autoridade e com as outras “realidades eclesiais”. Eis por que as autoridades podem tolerar que a Fraternidade continue ensinando a doutrina católica, mas não suportarão de forma alguma que ela condene a doutrina conciliar. Aqui está o motivo por que um acordo, mesmo puramente prático, faria necessária e progressivamente calar, por parte da Fraternidade, toda crítica ao Concílio ou à nova missa. Deixando de atacar essas vitórias, que são as mais importantes da Revolução, a Fraternidade cessaria necessariamente de se opor à apostasia universal de nossa lamentável época e afundaria a si mesma. Em última análise, quem vai nos garantir que permaneceremos tal qual somos, protegendo-nos da Cúria Romana e dos Bispos? O Papa Bento XVI?

Por mais que se negue, este resvalamento é inevitável. Não se veem já na Fraternidade os sintomas dessa diminuição na confissão da Fé? Hoje em dia, infelizmente, é o contrário que seria “anormal”. Um pouco antes das consagrações de 1988, quando muitas pessoas valentes insistiam junto a Monsenhor Lefebvre para que fizesse um acordo prático com Roma que abriria um grande campo de apostolado, ele disse seu pensamento aos quatro consagrandos: “Um grande campo de apostolado pode ser, mas na ambiguidade e seguindo duas direções opostas ao mesmo tempo, o que acabaria por nos apodrecer”.

Como obedecer e continuar a pregar toda a verdade? Como fazer um acordo sem que a Fraternidade apodreça na contradição?

E quando, um ano mais tarde, Roma parecia fazer verdadeiros gestos de benevolência para com a Tradição, Monsenhor Lefebvre ainda desconfiava. Ele temia que isso não fosse nada mais que “manobras para tirar de nós o maior número possível de fiéis. Eis aqui a perspectiva pela qual parecem ceder ainda um pouco mais e ir ainda mais longe. Devemos absolutamente convencer nossa gente de que isso nada mais é do que uma manobra, que é perigoso se colocar nas mãos dos bispos conciliares e da Roma modernista. É o maior perigo que ameaça a nossa gente. Se nós lutamos há 20 anos para resistir ao erro conciliares, não foi para nos colocarmos, agora, nas mãos daqueles que professam erros”.

Conforme Mons. Lefebvre, o propósito da Fraternidade, mais do que denunciar os erros pelo seu nome, é opor-se eficaz e publicamente às autoridades romanas que os difundem. Como se poderia conciliar um acordo e uma resistência às autoridades públicas, entre as quais o Papa? E, depois de ter lutado por mais de quarenta anos, a Fraternidade deverá agora colocar-se nas mãos dos modernistas e liberais dos quais acabamos de constatar sua pertinácia?

Monsenhor, padres, prestem atenção, vocês conduzem a Fraternidade a um ponto sem retorno, a uma profunda divisão sem volta e, se vocês chegarem a um tal acordo, à poderosas forças destrutivas que Ela não irá suportar. Se até agora os bispos da Fraternidade a têm protegido é precisamente porque Mons. Lefebvre rejeitou um acordo prático. Dado que a situação não mudou substancialmente; e visto que a condição pronunciada pelo Capítulo de 2006 não se realizou (mudança de rumo por parte de Roma que permita um acordo prático), ouçam novamente a seu Fundador. Ele tinha razão há 25 anos. Ainda tem razão hoje. Em seu nome, vos conjuramos: não comprometam a Fraternidade em um acordo puramente prático.

Com as nossas mais cordiais e fraternas saudações, em Cristo e Maria,

Dom Alfonso de Galarreta
Dom Bernard Tissier de Mallerais
Dom Richard Williamson

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