Meu Deus eu Creio, Adoro, Espero e Amo-Vos. Peço-Vos perdão para todos aqueles que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam.

Translate

English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified
Formação Católica

07 abril 2016

DOM TOMÁS DE AQUINO - A VERDADE OCULTADA, OU A RECUSA DE VER?


A VERDADE OCULTADA, OU A RECUSA DE VER?
Por Dom Tomás de Aquino - 06 de abril de 2015

“É com espanto que vemos a verdade, embora pública, sendo ignorada. Mas de que verdade estamos falando? De fatos os mais evidentes sobre a crise atual da Tradição em geral e da Fraternidade em particular, e que estão ao alcance de todos os que os querem conhecer. Verdade desconhecida, ocultada ou simplesmente não procurada; em todos os casos ignorada, para não dizer desprezada.

Alguns afirmam, como Dom Lourenço Fleichman que a resistência apresenta uma “argumentação vazia de fundamentos, baseada em falsas informações” (cf. “Sobre a Sagração Episcopal”).
Se for preciso reiterar o que já foi dito e pregar a tempo e a contratempo, não nos cansemos de fazê-lo, já que a isto nos exorta São Paulo. Se for preciso reproduzir os argumentos e relembrar os fatos, não nos cansemos de repeti-los e relembrá-los. Façamos mais uma vez o diagnóstico da doença que corrói a Tradição e ameaça a todos de morte. Este mal é o Liberalismo católico, pestilência dos tempos modernos, contradição encarnada na pessoa dos que o abraçam. Todos nós, que no mais das vezes nos consideramos imunes a este contágio universal, estamos susceptíveis a sermos vítimas deste mal.

E por isso é mister defender a obra, o pensamento, a linha intransigentemente católica de Dom Lefebvre, que não é outra senão a de São Pio X e a de todo o Magistério da Igreja desde sua fundação até a apostasia desencadeada pelo Concílio Vaticano II.

Mas entremos antes nos detalhes; aqueles detalhes sem os quais somos incapacitados de lograr qualquer diagnóstico real do desastre do qual somos testemunhas. Comecemos, pois, pelo movimento conhecido como GREC (Grupo para Reflexão Entre Católicos), e prossigamos até o dia de hoje numa brevíssima resenha de alguns fatos marcantes que nos apontarão a causa final que os motiva e explica.


Em 1995, pouco antes de falecer, o antigo embaixador da França no Vaticano, Gilbert Pérol, redigiu um artigo de “bons ofícios” com o intento de promover uma aproximação amistosa entre a Fraternidade e a Igreja oficial. A este projeto deu sequência sua esposa, a Sra. Huguette Pérol, e então uma primeira plataforma de trabalho foi constituída em 1998.

Pouco tempo depois este grupo tomou o nome já referido, GREC, e reuniu membros da Fraternidade São Pio X e do clero progressista. Com o passar dos anos este grupo atraiu a atenção do episcopado francês, não menos que a de Roma. O objetivo do GREC, como explica um de seus fundadores, o Pe. Michel Lelong, “é a necessária reconciliação entre a Tradição e Roma” [i]. Objetivo equívoco, pois como diz Dom Lefebvre: “Roma perdeu a fé... Roma está na apostasia” (cf. Conferência aos padres em Ecône por ocasião do retiro sacerdotal, em 1º de setembro de 1987). Mas para o GREC estas palavras de Dom Lefebvre não merecem atenção. São palavras ditas num “momento de angústia”, como diz um dos defensores da linha de Dom Fellay.

Os integrantes do GREC creem ver os acontecimentos desde um ponto mais elevado, com mais serenidade, almejando assim uma “impossível reconciliação”, como diz muito bem o Pe. Rioult, reconciliação entre duas realidades opostas: entre a Igreja verdadeira, a Roma eterna, e a Igreja oficial, a Roma modernista. Na verdade aí está todo o drama por que está passando a Fraternidade, pois Menzingen não cessou, desde então, de procurar esta reconciliação preconizada pelo GREC, fazendo uso de sua autoridade para fazer cessar as críticas à Santa Sé, ou seja, aos modernistas que a ocupam.[ii] Está aí a razão de Dom Fellay ter pedido a Dom Williamson de cessar os seus “Comentários Eleison” e de não ter feito fortes críticas à última reunião ecumênica de Assis.

Lembremo-nos, ainda que sumariamente, de outros fatos:

* Resposta de 14 de abril de 2012, por Dom Fellay, aos três outros bispos da Fraternidade, na qual ele diz aos seus irmãos de episcopado que lhes “falta realismo e espírito sobrenatural”;

* Declaração doutrinal de 15 de abril de 2012. Esta declaração levantou uma reação tal, que Dom Fellay se viu impelido a retirá-la. Mas dela não se retratou até o dia de hoje. A Fraternidade não estava e não está todavia “madura” para aceitá-la.

* A 11 de maio de 2012, Dom Fellay dá uma entrevista ao canal de televisão americano CNS (Catholic News Service), na qual ele minimiza a gravidade do documento conciliar “Dignitatis Humanae”.

* Em julho de 2012 se reúne o Capítulo Geral da Fraternidade sem a presença de Dom Williamson, proibido de aí comparecer. O resultado deste capítulo foi o abandono da decisão do Capítulo Geral anterior (2006), o qual estabelecia que não se levaria a cabo nenhum acordo prático com Roma antes de um prévio “acordo doutrinal”. Em outros termos, antes da conversão de Roma.

* Pouco depois é notificada a expulsão de Dom Williamson da Fraternidade, expulsão que este considera nula; e Dom Williamson convida Dom Fellay a resignar o seu cargo a fim de que não se destrua a obra de Dom Lefebvre.

* Em 13 de junho de 2012 Dom Tissier de Mallerais se manifesta em entrevista ao jornal “Rivarol” contra a política de acordo, sem, entretanto, citar a pessoa de Dom Fellay. Note-se que Dom Tissier foi transferido de Ecône para um priorado nos Estados Unidos. Os seminaristas perderam assim o contato com o mais antigo colaborador de Dom Lefebvre.

Nos meses seguintes, declarações diversas, públicas e privadas, expressaram e reforçaram a política pragmática da Fraternidade com relação a Roma. “Reconhecimento unilateral” é a fórmula apta a obter a aceitação dos membros da Fraternidade. Mas esta é a mesma solução aceita por Dom Gérard (Barroux – França) em 1988, assim como por Campos em 2002. Um reconhecimento canônico tem sido suficiente, seja ele unilateral ou não, para criar uma dependência em relação às autoridades modernistas e desta feita lhes permitir que aniquilem toda a Tradição. Não são os inferiores que fazem os superiores, mas sim os superiores que fazem os inferiores, como observava Dom Lefebvre. É uma simples questão de bom senso. Mas o bom senso está desaparecendo da superfície da terra.
Convém lembrar igualmente os processos iníquos dos quais foram vítimas os padres Pinaud e Salenave, processos descritos e comentados pelo Pe. François Pivert no livro “Quel droit pour la Tradition catholique?”.

As comunidades religiosas que não aprovavam a política de Menzingen já haviam sido objeto de medidas diversas de pressão e vexação. A lista é longa. Recordemos o adiamento da ordenação dos diáconos dominicanos e capuchinhos em 2012. Os beneditinos de Bellaigue também foram ameaçados de ter a ordenação de seus candidatos delongada. Ora, isso se explica se considerarmos que os superiores destas três casas religiosas haviam estado em Menzingen para manifestar a Dom Fellay o seu desacordo.

No entanto, aqueles que apoiam Dom Fellay dizem que isso são águas passadas: o Capítulo Geral de 2012 deu uma solução satisfatória à questão; o que é falso. Tanto o Pe. Pflüger, primeiro assistente de Dom Fellay, como o Pe. Alain Nely, segundo assistente, retomaram o assunto, seja em conversas privadas, seja em retiros, seja ainda em entrevistas públicas.

Não se pode de modo algum dizer que tudo quanto era problemático está sanado na Fraternidade. Se isto fosse verdade, Dom Williamson teria que ser reabilitado, honrado e escutado, pois que foi sua iniciativa de redigir a Carta ao Conselho Geral, assinada também por Dom Tissier e Dom de Galarreta, que salvou a Fraternidade em 2012 de um acordo com Roma. Três bispos contra os acordos era demais para Roma. Era melhor esperar por tempos mais propícios.

Para Dom Lefebvre este momento oportuno expressar-se-ia pela conversão de Roma e pela aceitação das doutrinas contidas nos documentos pontifícios Quanta Cura, Syllabus, Pascendi, Quas Primas, etc. Mas para Dom Fellay, os tempos propícios já chegaram e trazem consigo a diminuição do espírito de combate da parte da Fraternidade, ou seja, o alinhamento (“ralliement”, em francês) que culminou com sua declaração de 15 de abril de 2012 e que continua mesmo sem a assinatura de um acordo.

A conclusão de tudo isso é algo de espantoso e trágico. Estes fatos são públicos, na sua maioria. Por que não há uma maior reação à política de Dom Fellay? Ao que parece é porque o liberalismo e a apostasia já fazem sua obra dentro da própria Tradição. Dom Fellay, ajudado por muitos padres, criou um estado de desorientação tal que muitos fiéis já não são capazes de discernir mais nada do que está acontecendo com a obra de Dom Lefebvre.

É por isso que afirmamos que a verdade sobre estes acontecimentos permanece oculta embora seja pública. Seria a ocasião de citar a famosa frase de Chesterton, que segue: “o mundo moderno é dirigido por uma força oculta que se chama publicidade”. O que importa, como diria um amigo nosso, não são os fatos, mas a versão dos fatos. Ora, a versão triunfante é que Dom Williamson e Dom Faure são desobedientes e que os superiores da Fraternidade são os verdadeiros discípulos de Dom Lefebvre. Isto é falso, como o demonstramos. Eis aí o centro do drama.

“Agora é vossa hora e o poder das trevas” (Luc. XXII, 53). Talvez a Resistência tenha de sobreviver como os apóstolos e os discípulos dispersos durante o tempo da Paixão. É útil rememorar uma reflexão do grande pensador brasileiro, Gustavo Corção: “Não creio em nenhuma obra nos tempos atuais que reúna um grande número de pessoas.” Talvez a Resistência permaneça o pusillus grex ao qual Nosso Senhor exortou a não temer porque foi do agrado do Pai lhes dar o reino. Que a proteção da Santíssima Virgem possa nos guardar fiéis até o fim: “Ut Fidelis inveniatur.

[i] Pour la nécéssaire réconciliation, Nouvelles Éditions Latines, 2011, p. 15.
[ii] Ibidem, p. 50.”

Um comentário:

  1. Parece que nossa capacidade primordial para Deus foi perdida, perdida não porque Deus a retirou, mas porque nós não sabíamos acolher. Este é mistério dos mistérios. Paulo fala isto aos Romanos.
    Por que não queríamos acolher? Isto os teólogos passam anos e anos, décadas e décadas, séculos e séculos discutindo, mas parece que no fundo esta falta de visão não é algo natural, é uma tirar-se diante de Deus, uma escolha de ficar mais distante que ficar mais perto e isto cria um tipo de filtro, um véu, uma distância, que muitas vezes leva uma vida inteira para recuperar, mas uma coisa que posso dizer que esta intuição é constante e que é o fundamento do pecado. Se tivéssemos então que dar um fundamento ao pecado seria este não querer acolher o dom de si mesmo que Deus sempre nos quer dar. Lembremo-nos do que diz São Pedro Julião Eymard, ele diz que pelo dom de si mesmo, você atinge a raiz do seu ser.
    Eu acho que não tem definição mais central do pecado que esta recusa.
    A encarnação é a nova entrada no mundo da racionalidade, da cultura, do logos. É por isto que precisamos que este logos nasça de novo todo dia, todo ano. A encarnação é a cultura mais profunda de Deus em nossa vida que é a cultura da sabedoria, do amor, do serviço, da vida. Valores que não são independentes e sem o logos caem.
    O teólogo Walter Kasper disse que no século XIX o homem disse, vamos eliminar a transcendência, nós podemos ser transcendentais por nós mesmos. Então a gente tem iluminismo, a gente tem filosofia do século XIX, tem Nietsche. Vamos ser humanos, morais, sublimes, generosos, porque assim somos e Kasper disse não levou muito tempo que quando a gente retira a transcendência de Deus, a transcendência dos homens cessa de existir. Aí então o século XX é o século do nazismo, guerra após guerra, tortura após tortura. A transcendência divina é a única base estável à nossa transcendência.

    ResponderExcluir