Meu Deus eu Creio, Adoro, Espero e Amo-Vos. Peço-Vos perdão para todos aqueles que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam.

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Formação Católica

10 janeiro 2018

A DESERÇÃO NOS COMBATES - SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS



Madre querida, contei-vos meu último meio para não ser vencida nos combates: a deserção. Esse meio, empreguei-o durante meu noviciado e sempre deu ótimos resultados.

Quero, Madre, citar um exemplo que, creio, vos levará a sorrir. Durante um dos vossos ataques de bronquite, fui uma manhã, de mansinho, entregar-vos as chaves da grade de comunhão, pois eu era sacristã. No fundo, não me desagradava ter essa ocasião de vos ver, estava até muito contente, mas evitava deixar transparecê-lo. Uma irmã, animada por um santo zelo e que, todavia, gostava muito de mim, vendo-me entrar em vossos aposentos, pensou que eu ia vos acordar. Quis tomar de mim as chaves, mas eu era bastante esperta para não entregá-las a ela e ceder-lhe meus direitos. Disse-lhe, com as melhores maneiras, que eu cuidava tanto quanto ela de não vos acordar, mas que cabia a mim entregar as chaves... Agora compreendo que teria sido mais perfeito ceder diante dessa irmã, jovem, é verdade, mas mais antiga que eu. Naquele tempo, não o compreendia.

Querendo de todo jeito entrar atrás dela, que empurrava a porta para me impedir de passar, provocamos o que não queríamos: o barulho vos acordou... Então, Madre, tudo recaiu sobre mim. A pobre irmã a quem resisti iniciou um discurso parecido com este: Foi Irmã Teresa do Menino Jesus quem fez barulho... como ela é desagradável... etc. Eu, por acreditar no contrário, fiquei com vontade de defender-me; felizmente, veio-me uma idéia brilhante. Pensei que se eu começasse a justificar-me não conseguiria, certamente, manter a paz da alma; sentia também que não tinha virtude suficiente para me deixar acusar sem reagir.

Minha última tábua de salvação foi a fuga. Dito e feito. Saí em surdina, deixando a irmã continuar seu discurso, que parecia com as imprecações de Camilo contra Roma. Meu coração batia com tanta força que não pude ir longe e sentei-me num degrau da escada para saborear em paz os frutos da minha vitória. Não havia bravura nisso, não é verdade, querida Madre? Acredito, porém, que mais vale não se expor à luta quando a derrota é certa.

Ai! quando recordo o tempo do meu noviciado, como percebo o quanto eu era imperfeita... Atormentava-me com tão pouca coisa que hoje rio disso. Ah! como o Senhor é bom por ter feito crescer a minha alma, por ter-lhe dado asas... Todas as redes dos caçadores não poderiam me atemorizar pois "em vão se lança a rede diante dos olhos dos que têm asas".


Futuramente, sem dúvida, o tempo atual parecer-me-á ainda cheio de imperfeição, mas agora não me espanto com nada, não fico triste por constatar que sou a própria fraqueza, pelo contrário, é nela que me glorifico e espero cada dia descobrir em mim novas imperfeições. Lembrando-me de que a Caridade estende um véu sobre uma multidão de pecados, abasteço-me nessa mina fecunda que Jesus abriu diante de mim.

 No Evangelho, o Senhor explica em que consiste seu mandamento novo. Diz, em são Mateus: "Ouvistes o que foi dito: `Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo'. Eu, porém, digo-vos: `Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem`. No Carmelo, sem dúvida, não encontramos inimigos, mas há simpatias, sentimos atração por tal irmã enquanto tal outra nos levaria a dar uma longa volta a fim de não encontrar com ela. Sem que se perceba, ela passa a ser objeto de perseguição. Mas Jesus me diz que essa irmã deve ser amada, que se deve rezar por ela, mesmo que seu comportamento me leve a crer que ela não me ama"'. "Se amardes os que vos amam, que merecimento vos é devido? Pois os próprios pecadores amam os que os amam".

Não basta amar, é preciso dar provas desse amor. Temos naturalmente prazer em dar presente a um amigo, gosta-se, especialmente, de causar surpresa; mas isso não é caridade pois os pecadores também agem assim. Eis o que Jesus me ensina ainda: "Dá a todo aquele que te pede, e ao que leva o que é teu não lho reclames".

Dar a todas aquelas que vos pedem é menos agradável do que oferecer segundo a inclinação do coração; se bem que, quando se pede com gentileza, não custa dar. Porém, se por acaso não se usam palavras delicadas, a alma revolta-se logo caso não seja firmada na caridade. Encontra mil motivos para recusar o que lhe é pedido e só depois de ter convencido a solicitante da sua indelicadeza lhe dá, finalmente e por favor, o que ela deseja, ou lhe presta um leve serviço que teria exigido vinte vezes menos tempo do que foi preciso para exigir direitos imaginários.

Se é tão difícil dar a quem quer que peça, é ainda mais difícil deixar levar se pedir de volta. ó Madre, digo que é difícil, deveria dizer que aquilo parece difícil, pois o jugo do Senhor é suave e leve quando aceito, sente-se logo sua doçura e exclama-se com o salmista: "Corri pelo caminho dos vossos mandamentos desde que me dilatastes o coração". Só a caridade pode dilatar o meu coração, ó Jesus. Desde que essa doce chama o consome, corro alegre na via do vosso mandamento novo... Quero correr nela até o dia bem-aventurado em que, unindo-me ao séquito virginal, poderei seguir-vos pelos espaços infinitos, cantando vosso cântico novo que deve ser o do Amor.

Manuscrito "C" - Parte I
História de uma Alma

MANUSCRITO ENDEREÇADO A MADRE MARIA DE GONZAGA 

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