Meu Deus eu Creio, Adoro, Espero e Amo-Vos. Peço-Vos perdão para todos aqueles que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam.

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Formação Católica

14 março 2016

CARTA ENCÍCLICA - MAGNAE DEI MATRIS - PAPA LEÃO XIII

CARTA ENCÍCLICA

MAGNAE DEI MATRIS

DE SUA SANTIDADE 
PAPA LEÃO XIII 

A TODOS OS NOSSOS VENERÁVEIS
IRMÃOS, OS PATRIARCAS,
PRIMAZES, ARCEBISPOS
E BISPOS DO ORBE CATÓLICO,
EM GRAÇA E COMUNHÃO
COM A SÉ APOSTÓLICA

SOBRE O ROSÁRIO DE NOSSA SENHORA



Veneráveis Irmãos,
Saúde e Bênção Apostólica.

A devoção do Santo Padre a Maria

1. Todas as vezes que nos é dado o ensejo de aumentar no povo cristão o culto e o amor à gloriosa Mãe de Deus, a Nossa alegria e a Nossa satisfação chegam ao auge. E isto porque a coisa não só é de per si importantíssima - e fecunda de bons frutos, mas também se harmoniza do melhor modo com os sentimentos mais íntimos do Nosso coração.

Sugada, na verdade, com o leite materno, depois a Nossa piedade para com Maria veio sempre crescendo e consolidando-se em Nós, com o passar dos anos. E isto porque a Nossa inteligência sempre mais claramente compreendia o quanto era digna de amor e de louvor aquela a quem ó próprio Deus amou em primeiro, e com tal afeto que a elevou acima de todas as criaturas, a enriqueceu dos dons mais magníficos, e a escolheu, enfim, para sua Mãe. Por outra parte, as numerosas e fúlgidas provas da sua bondade e benevolência para conosco - provas que Nós não podemos recordar sem a mais profunda gratidão e sem derramar lágrimas de emoção - aumentaram sempre mais em Nós esta piedade, e mais ardentemente a inflamaram.

Porquanto, no meio das muitas, variadas e terríveis vicissitudes que temos atravessado, sempre temos recorrido a ela, e para ela temos sempre volvido o Nosso olhar. E, depois de depositar no seu seio todas as Nossas esperanças e todos os Nossos temores, alegrias e tristezas, foi Nossa constante solicitude suplicá-la, para que se dignasse de, em todas as ocasiões, assistir-nos como uma mãe terníssima, e alcançar-nos, em troca, o singular favor de podermos testemunhar-lhe o Nosso afeto devoto e filial.

Quando, depois, por misterioso desígnio de Deus fomos chamado à Cátedra de S. Pedro, para representarmos na Igreja a própria pessoa de Jesus Cristo, aterrados com o peso enorme deste ofício, e não tendo nenhuma confiança nas Nossas próprias forças, com afeto ainda mais intenso solicitamos a divina assistência, mediante a maternal proteção da Virgem.

E o Nosso coração exulta em proclamar que, no curso de toda a Nossa vida, mas especialmente no exercício do Nosso Supremo Apostolado, a Nossa esperança nunca deixou de ser coroada ou pelo desejado êxito ou, ao menos, por um doce conforto. Após tal experiência, a Nossa esperança alça-se agora mais confiante, enquanto pedimos, com o seu favor e pela sua intercessão, graças ainda mais copiosas e mais importantes, para a salvação do rebanho cristão e para a maior glória da Igreja.

Justo é, pois, e oportuno, Veneráveis Irmãos, que dirijamos a todos os Nossos filhos palavras de incitamento - às quais ajuntareis a vossa exortação -a fim de que eles queiram celebrar o próximo mês de Outubro, consagrado à augusta Senhora e Rainha "do Rosário", com redobrando fervor, igual às acrescidas necessidades dos tempos.

A audácia dos ímpios

2. Já agora é de todos conhecidíssimo com quantos e quais meios de corrupção a malícia do mundo iniquamente se esforça por enfraquecer e por extirpar inteiramente dos corações a fé cristã e a observância da lei divina, que alimenta esta fé e a faz frutificar. E já por toda parte o campo do Senhor, como que talado por uma terrível peste, quase se asselvaja, pela ignorância da religião, pelo erro e pelos vícios. E o que é ainda mais doloroso é que aqueles que teriam o poder disso, antes, que disso teriam o sagrado dever, longe de porem um freio ou de infligirem justas penas a uma perversidade tão arrogante e culposa, muitas vezes, pelo contrário, parece que a tal audácia dêem incentivo, ou pela sua inércia, ou com o seu apoio.

Por isto, com bem razão deve contristar-nos que às escolas públicas tenha sido deliberadamente dada uma organização tal que consente que o nome de Deus seja nelas calado ou ali seja ultrajado; devemo-Nos entristecer com a licença, cada vez mais disfarçada, de imprimir ou pregar toda sorte de ultrajes contra Cristo, Deus e a Igreja. Nem é menos deplorável esse conseqüente langor e entibiamento da prática cristã, se não é uma franca apostasia da fé, certamente está próximo de vir a sê-lo; porque a prática da vida já agora não é mais aderente à fé. Quem considerar esta perversão e esta ruína dos interesses mais vitais, certamente não se admirará se por toda parte as nações vão gemendo sob o peso dos castigos divinos, e são consternadas pelo temor de calamidades ainda mais graves.

Necessidade de praticar o Rosário

3. Ora, para aplacar a majestade de Deus ofendida, e para proporcionar o necessário remédio àqueles que tanto sofrem, certamente não há melhor meio do que a oração devota e perseverante, contanto que unida ao espírito e à prática da vida cristã. Para alcançarmos, pois, estes dois escopos, consideramos que o meio mais indicado é o "Rosário Mariano". A sua poderosíssima eficácia tem sido experimentada e exaltada desde a sua bem conhecida origem; conforme notáveis documentos atestam, e como Nós mesmo, mais de uma vez, temos lembrado.

Quando a seita dos Albigenses -aparentemente paladina da integridade da fé e dos costumes, mas, na realidade, perturbadora e péssima corruptora dela - era para muitos povos causa de grande ruína, a Igreja combateu contra ela e contra as suas infames facções, não com milícias ou com armas, mas principalmente com a força do santo Rosário, que o patriarca S. Domingos propagou, por inspiração da própria Mãe de Deus. Assim, gloriosamente vitoriosa de todos os obstáculos, a Igreja, nessa como em outras tempestades semelhantes, proveu sempre com esplêndido êxito à salvação de seus filhos.

Por isto, na presente situação, que Nós deploramos como lutuosa para a religião e perigosíssima para a sociedade, é necessário que todos juntos - com piedade igual à dos nossos antepassados - roguemos e supliquemos a grande Mãe de Deus, para que, consoante os votos comuns, possamos alegrar-nos de haver experimentado igual eficácia do seu Rosário.

E, verdadeiramente, quando recortemos a Maria recorremos à Mãe da misericórdia; a qual está tão bem disposta para conosco, que em qualquer necessidade nossa, sobretudo nas espirituais, ela logo, espontaneamente, sem sequer ser invocada, vem em nosso socorro, e faz-nos participar desse tesouro de graça cuja plenitude ela desde o princípio recebeu de Mãe. Esta Deus, para que pudesse tornar-se sua digna superabundância de graça - o mais eminente dos seus outros inúmeros privilégios - é que eleva a Virgem muito acima de todos os homens - e de todos os Anjos, e a aproxima de Cristo, mais do que se aproxima qualquer outra criatura: "É coisa grande em qualquer santo o possuir tanta graça que baste para a salvação de muitos: mas, se ele a tivesse tanta que bastasse para a salvação de todos os .homens do mundo, isto seria o máximo; e isto se verifica em Cristo e na bem-aventurada Virgem" (S. Tomás, op. VIII, Super Salutatione Angelica).

As ternuras de nossa Mãe Celeste

4. Difícil é, pois, dizer o quanto se torna agradável a Maria o nosso obséquio, quando a saudamos com louvor do Anjo, e depois repetimos o mesmo elogio, como que formando com ele uma devota coroa. Porque, a cada vez, nós como que despertamos nela a lembrança da sua sublime dignidade e da redenção do gênero humano, iniciada por Deus por meio dela: por conseqüência, nós também lhe recordamos esse divino e indissolúvel vínculo com que ela está unida às alegrias e às dores, às humilhações e aos triunfos de Cristo, em guiar e em assistir os homens para a salvação eterna. Jesus Cristo, na sua bondade, quis assemelhar-se a nós e dizer-se e mostrar-se filho do homem, e por isto nosso irmão, a fim de que mais luminosa nos aparecesse a sua misericórdia para conosco: "Em tudo ele teve de ser feito semelhante a seus irmãos, para se tornar misericordioso" (Heb 2, 17).

Assim Maria, pelo fato de haver sido escolhida como Mãe de Jesus, Nosso Senhor - que é ao mesmo tempo nosso irmão - teve, entre todas as mães, a singular missão de manifestar e de derramar sobre nós a sua misericórdia. Além disto, assim como nós somos devedores a Cristo de nos haver, de certo modo, tornado participantes do seu próprio direito de chamar e de ter a Deus por pai, assim também lhe somos igualmente devedores de nos haver amorosamente tornado participantes do seu direito de chamar e de ter Maria por Mãe.

E, visto como, por natureza, o nome de mãe é entre todos o mais doce, e no nome de mãe está posto o termo de comparação de todo amor terno e solícito, todas as almas piedosas sentem - embora a sua língua não consiga exprimi-lo - que uma imensa chama de amor condescendente e operoso arde em Maria, que, não por natureza, mas por vontade de Cristo, é nossa Mãe. Por isto ela vê e penetra, muito melhor do que qualquer outra mãe, todas as nossas coisas: as necessidades da nossa vida; os perigos públicos e particulares que nos ameaçam; as dificuldades e os mates em que nos debatemos; e sobretudo a áspera luta que devemos sustentar para a salvação da alma, contra inimigos violentíssimos.

E nestas, como em todas as outras angústias da vida, mais do que qualquer outro ela pode e deseja trazer a seus caríssimos filhos consolação, força, auxílio de todo gênero. Recorramos, pois, confiantes e alegres a Maria. Supliquemo-la por esses laços maternos com que ela está tão estreitamente unida a Jesus e a nós. E invoquemos com máxima devoção o seu poderoso auxílio, servindo-nos dessa fórmula de oração que ela mesma nos indicou e que lhe é tão grata. Então poderemos, com razão, repousar com coração tranqüilo e alegre sob a proteção da mais terna entre as mães.

O Rosário reaviva a nossa fé

5. Além do valor que o Rosário tira da própria natureza da oração, ele contém uma maneira fácil para fazer penetrar e inculcar nas almas os dogmas principais da fé cristã; o que certamente constitui outro título insigne de recomendação. De feito, é sobretudo pela fé que o homem direta e seguramente se aproxima de Deus e aprende a adorar com a mente e com o coração a imensa majestade desse Deus único, a sua autoridade sobre todas as coisas, o seu sumo poder, a sua sabedoria e a sua providência: "porquanto, quem se aproxima de Deus deve crer que Ele existe, e que é remunerador daqueles que o procuram" (Heb 11, 6). Mas, visto que o eterno Filho de Deus assumiu a natureza humana, viveu no meio de nós, e continua a ser para nós caminho, verdade e vida, por isto é necessário que a nossa fé abrace também os profundos mistérios da augusta Trindade das divinas pessoas, e do Filho unigênito do Pai, feito homem: "E a vida eterna é esta: que eles conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e Aquele que enviaste, Jesus Cristo" (Jo 17, 3).

Em verdade, Deus nos deu um benefício inestimável quando nos deu esta santa fé; porque, por meio dela, nós não só nos elevamos acima de todas as coisas humanas, até nos tornarmos como que contempladores e participantes da natureza divina, mas adquirimos outrossim um direito, de mérito imenso, às eternas recompensas. De modo que se alimenta e se consolida em nós a esperança de que um dia poderemos contemplar a Deus, não mais através das pálidas imagens das coisas criadas, porém no seu pleno esplendor, e poderemos gozar eternamente d'Ele, nosso sumo bem. Mas o cristão é de tal forma empolgado pelas diversas preocupações da vida, e se inclina tão facilmente para as vaidades deste mundo, que, sem uma freqüente e salutar evocação, pouco a pouco esquecerá as coisas mais importantes e mais necessárias, e destarte a sua fé se esmorecerá e finalmente se extinguirá.

Para preservar seus filhos deste gravíssimo perigo da ignorância, a Igreja não descura nenhum dos meios que a sua vigilância e a sua solicitude lhe sugerem; e o Rosário em honra de Maria não é, certamente, o último que ela emprega para sustentar a fé. Com efeito, com a sua maravilhosa e eficaz oração, ordenadamente repetida, ele nos leva à recordação e à contemplação dos principais mistérios da nossa religião: em primeiro lugar, daqueles pelos quais "o Verbo se fez carne" e Maria, Virgem intacta e Mãe, lhe prestou com santa alegria os seus maternais ofícios. Vêm depois as amarguras, os tormentos, a morte de Cristo, preço da salvação do gênero humano.

Finalmente, são os mistérios gloriosos: o triunfo sobre a morte, a ascensão ao céu, a descida do Espírito Santo; o esplendor radiante de Maria assunta ao céu, e, por último, com a glória da Mãe e do Filho, a glória eterna de todos os Santos. E esta a ordenada sucessão de inefáveis mistérios no Rosário é freqüente e insistentemente evocada à memória dos fiéis, e como que desenrolada diante dos seus olhos; de modo que aqueles que rezam bem o Rosário têm a alma inundada por ele de uma doçura sempre nova, experimentam a mesma impressão e emoção que experimentariam se ouvissem a própria voz de sua dulcíssima Mãe, no ato de lhes explicar esses mistérios e de lhes dirigir salutares exortações.

Não poderá, pois, parecer excessiva a Nossa afirmação, se dissermos que a fé absolutamente não deve temer os perigos da ignorância e dos nefastos erros naqueles lugares, no seio daquelas famílias e no meio daqueles povos onde se mantém na primitiva honra a prática do Rosário.

O Rosário, estímulo para obras santas

6. Mas há outra utilidade, não menos importante, que do Rosário a Igreja espera para seus filhos, ou seja, a de empenhá-los em conformar a sua vida e os seus costumes às normas e aos preceitos da santa fé. De todos é conhecida a divina afirmação de que "a fé sem as obras é ineficaz" (Tiago 2, 20); porque a fé haure vida da caridade, e a caridade se manifesta numa floração de ações santas. Por isto o cristão certamente não tirará nenhum proveito da sua fé para a aquisição da eternidade, se por esta sua fé não houver inspirado a sua conduta. "Que adianta, irmãos meus, se um diz que tem fé, mas não tem as obras? Acaso poderá salvá-lo a fé?" (Tiago 2, 14).

Antes, tais cristãos serão por Cristo juiz bem mais asperamente exprobrados do que aqueles míseros que não conhecem nem a fé nem a moral cristã; porque estes últimos não crêem de um modo e vivem de outro, como sem razão fazem aqueles outros, mas, sendo privados da luz do Evangelho, têm uma certa atenuante, ou certamente a sua culpa é menos grave.

Ora, a contemplação dos mistérios propostos no Rosário ajuda a fazer brotar da nossa fé uma abundante e alegre messe de frutos, porque incita maravilhosamente a alma a propósitos de virtude. Ora, que sublime e esplêndido exemplo nos oferece, sob todos os aspectos, a obra de salvação realizada por Nosso Senhor Jesus Cristo! O grande, o onipotente Deus, impelido por um excesso de amor para conosco, abaixa-se até à condição do mais mísero homem; entretém-se conosco como um de nós; conversa fraternalmente, ensina os indivíduos e as multidões em toda ordem de justiça; mestre eminente pela sua palavra, Deus pela sua autoridade.

Mostra-se pródigo de benefícios para com todos; cura os que sofrem de moléstias corporais, e com misericórdia paternal leva alívio às moléstias, mais graves estas, da alma; de modo particular volve-se para aqueles que estão abatidos pela dor, ou estão oprimidos pelo peso das suas inquietações, e convida-os: "Vinde a mim, vós todos que estais fatigados e oprimidos, e eu vos consolarei" (Mt. 11, 28). Quando, pois, repousamos nos seus braços, Ele nos inspira algo desse místico fogo que Ele trouxe aos homens; infunde-nos amorosamente algo da mansidão e da humildade de sua alma; e deseja que, pela prática destas virtudes, nós nos tornemos participantes da paz verdadeira e estável, de que Ele é o autor. "Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis repouso para vossas almas" (Mt. 11, 29).

Todavia, em compensação de tanta luz de sabedoria celeste e da abundância de tão excepcionais benefícios, que deveriam granjear-lhe a gratidão dos homens, Ele sofreu o ódio e os insultos mais atrozes; sem embargo, quando, pregado na cruz, derrama todo o seu sangue, não tem desejo mais ardente do que este: por meio da sua morte regenerar os homens para a vida. Absolutamente não é possível que alguém considere e contemple atentamente estes belíssimos testemunhos de amor do nosso Redentor, sem arder de viva gratidão para com Ele.

Antes, a fé, se for autêntica, terá então um poder tal, que, iluminando a mente do homem e comovendo-lhe o coração, como que o arrastará a seguir as pegadas de Cristo, através de todos os obstáculos, até fazê-lo prorromper naquele protesto digno de Paulo: "Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a perseguição, ou a espada?" (Rom. 8, 35). "...já não vivo eu, mas vive em mim Cristo" (Gal. 2, 20).

O Rosário nos revoca aos exemplos de Maria

7. Mas, para que nós, aterrados pela consciência da nossa natural fragilidade, não desfaleçamos em face dos exemplos verdadeiramente sublimes de Cristo, Deus e Homem, juntamente com os seus mistérios oferecem-se à nossa contemplação os mistérios de sua Mãe Santíssima. Ela descende, é verdade, da linhagem real de David; ruas da riqueza e do esplendor dos seus antepassados não lhe resta mais nada; leva uma vida obscura, numa humilde cidade, e numa casa ainda mais humilde; tanto mais satisfeito com a sua solidão e com a sua pobreza quanto pode, com coração mais livre, elevar-se a Deus, e unir-se totalmente ao seu sumo e desejadíssimo bem. Mas o Senhor está com ela, e cumula-a e a faz bem-aventurada da sua graça. E é justamente ela que o celeste mensageiro designa como a mulher da qual, por virtude do Espírito Santo, deverá vir para entre nós homens o esperado Salvador das gentes.

Quanto mais ela admira a sublime altura da sua dignidade, e por ela rende graças à onipotente e misericordiosa bondade de Deus, tanto mais se humilha e se julga destituída de toda virtude. E, enquanto se Lhe torna a Mãe, sem hesitação se proclama e se protesta sua escrava. E, conforme santamente prometeu, santa e prontamente estabelece desde então uma perpétua comunhão de vida com seu Filho Jesus, tanto na alegria como no pranto. Assim ela atingirá tal altura de glória qual nenhum homem nem Anjo poderá jamais atingir, porque ninguém poderá ser-lhe jamais comparado em virtude e em méritos. Assim, a ela caberá a coroa do Céu e da terra, porque ela se tornará a invicta Rainha dos mártires. Assim, na celeste cidade de Deus, ela se assentará, eternamente coroada, junto de seu Filho, porque constantemente, durante toda a sua vida, porém de modo particular no Calvário, beberá com Ele o cálice transbordante de amargura.

Eis, portanto, que a bondade e a Providência divina nos deu em Maria um modelo de todas as virtudes, todo feito para nós. Porque, considerando-a e contemplando-a, as nossas almas já não ficam ofuscadas pelos fulgores da divindade, senão que, atraídas pelos vínculos íntimos de uma comum natureza, com maior confiança se esforçarão por imitá-la. Se, amparados pelo seu eficaz auxílio, nós nos dedicarmos com todas as nossas forças a esta obra, certamente conseguiremos reproduzir em nós ao menos algum traço de tão grande virtude e santidade; e, depois de havermos imitado a sua admirável conformidade com as divinas vontades, poderemos juntar-nos a Ela no céu.

Se bem que a nossa peregrinação terrena seja áspera e eriçada de dificuldades, caminhemos intrépidos e corajosos rumo à meta. E, nas nossas penas, nos nossos trabalhos, não cessemos de estender pára Maria as nossas mãos súplices, dizendo com a Igreja: "A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas Eia, pois, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei! Dai-nos uma vida pura, preparai-nos uma trilha segura, para que possamos gozar eternamente da vida de Jesus" (Da sagrada liturgia). E ela, que, mesmo sem jamais a haver experimentado, conhece a fraqueza e a corrupção da nossa natureza, ela que é a melhor e a mais solícita de todas as mães, oh! como virá propícia e pressurosa em nosso auxílio! E com que ternura nos consolará! Com que força nos sustentará! Percorrendo a trilha, consagrada pelo Sangue de Cristo e pelas lágrimas de Maria, também nós chegaremos, segura e facilmente, à participação da bem-aventurada glória.

Os exemplos da Sagrada Família

8. Portanto, já que no Rosário de Maria Virgem estão bem e tão utilmente conjugados uma excelente fórmula de oração, um meio eficaz para conservar a fé, e um insigne ideal de virtude perfeita, bem justo é que os verdadeiros cristãos o tenham freqüentemente nas mãos, o rezem e o meditem piedosamente. De modo particular dirigimos esta exortação ao "Sodalício da Sagrada Família", que recentemente recomendamos e aprovamos.

Se, de fato, o fundamento deste sodalício é o mistério do longo período de vida silenciosa e oculta de Cristo Senhor, entre as paredes da casa de Nazaré, para que as famílias cristãs se esforcem constantemente por modelar-se sobre o exemplo da Sagrada Família, divinamente constituída, logo aparece evidente a sua ligação particular com o Rosário: especialmente com os mistérios gozosos, que se encerram justamente quando Jesus, depois de mostrar a sua sabedoria no Templo, "veio", com Maria e José, "para Nazaré, e lhes era sujeito"; como que assim preparando os outros mistérios com que mais de perto realizaria a obra de ensinamento e de redenção dos homens. Por tudo isto, compreendam todos os associados que diligência devem mostrar em cultivar e propagar a devoção do Rosário.

Próximo Jubileu episcopal do Santo Padre

9. Por Nossa parte, ratificamos e confirmamos os favores das sagradas Indulgências concedidas nos anos precedentes àqueles que, de acordo com as prescrições estabelecidas, bem cumprirem a piedosa prática do mês de Outubro. Muito contamos, pois, Veneráveis Irmãos, com a vossa autoridade e com o vosso zelo, a fim de que, também este ano, seja ardente entre o povo católico o fervor e a santa emulação em honrar com o Rosário a Virgem, Auxiliadora dos cristãos.

E agora apraz-nos concluir a Nossa exortação tornando ao motivo inicial. Isto é, queremos de novo e mais claramente atestar o nosso reconhecimento pelos benefícios recebidos da Virgem Santíssima, e a Nossa alegria e esperança nela. E, depois, ao povo cristão, devotamente prostrado ante os altares de Maria, pedimos rezar pela Igreja, agitada por tão adversas e tempestuosas vicissitudes, e ao mesmo tempo rezar também por Nós, que, em idade tão avançada, cansado pelos trabalhos, a braços com as mais graves dificuldades, e privado de todo socorro humano, governamos o leme da mesma Igreja.

Sim, a Nossa esperança em Maria, Mãe poderosa e terníssima, torna-se em Nós cada dia mais segura e mais consoladora. E, enquanto à sua intercessão atribuímos todos os numerosos e assinalados benefícios que Deus nos tem concedido, com particular gratidão lhe atribuímos o de podermos, dentro em não muito, atingir o qüinquagésimo aniversário da Nossa ordenação episcopal.

Bem considerando, é deveras um grande benefício um tão longo período de ministério pastoral; mas o é sobretudo o havermo-nos podido dedicar, no meio de preocupações quotidianas, a guiar todo o rebanho cristão. Durante este tempo, na Nossa vida como na de todos os homens, como também nos mistérios de Cristo e de sua Mãe, não faltaram nem motivos de alegria, nem - mais freqüentemente - graves motivos de dor, nem, às vezes, motivos de alegre complacência, em Cristo. Coisas estas todas que Nós, com espírito de humildade diante de Deus e com gratidão, nos temos , aplicado a fazer reverter em bem e em honra da Igreja.

E agora, visto que o resto da vida não será diverso, se novas alegrias resplenderem, se novas dores sobrevierem, se algum raio de glória brilhar, Nós perseveraremos nas mesmas intenções e nos mesmos sentimentos. E, nada mais invocando de Deus senão a glória celeste, repetiremos com alegria as palavras de David: "Seja bendito o nome do Senhor; não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória" (Salmos 112, 2; 113, 1).

De Nossos filhos, pois, tão devotos e tão afeiçoados, antes que felicitações e louvores ardentemente esperamos que elevem a Deus vivíssimas ações de graças, orações e votos. Contentíssimos ficaremos se eles nos obtiverem que esse pouco de vida e de forças que nos resta, o que temos de autoridade e de prestígio, possamos despendê-lo unicamente para o bem da Igreja; e, antes de tudo, para lhe reconduzir ao seio e reconciliar consigo os inimigos e os transviados, os quais a Nossa voz desde tanto tempo convida. Que da Nossa próxima alegria jubilar - se a Deus aprouver dar-no-la - possam todos os Nossos diletíssimos filhos recolher abundantes frutos de justiça, de paz, de prosperidade, de santidade, de todos os bens.

E isto que, com paternal amor, solicitamos de Deus, enquanto lhes recordamos estes seus santos avisos: "Escutai-me... e crescei como rosa plantada à beira das águas. Como incenso, exalai perfume suave. Fazei brotar flores como o lírio, e espalhai odor, e recobri-vos de amenas frondes. E cantai um cântico de louvor, e bendizei o Senhor por todas as suas obras. Dai glória ao seu nome, e louvai-o com o som dos vossos lábios e com os cantos dos lábios e com as cítaras... Com todo o coração e com toda a voz louvai e bendizei o nome do Senhor” (Ecli 39, 13 - 20, 41). 10.

Se estas exortações e estes votos encontrarem o escárnio dos homens perversos, que blasfemam tudo o que ignoram, perdoe Deus benignamente esses infelizes. De Nossa parte Lhe rogamos, pela intercessão da Rainha do santíssimo Rosário, dignar-se de favorecer com sua graça exortações e votos.

Vós, pois, Veneráveis Irmãos, em auspício de tal graça e como penhor da Nossa benevolência, recebei, nesse ínterim, a Bênção Apostólica, que com vivo afeto, no Senhor, concedemos a cada um de vós, ao vosso clero e ao vosso povo.

Dado em Roma, junto a S. Pedro, a 8 de Setembro de 1892, décimo quinto ano do Nosso Pontificado.


LEÃO PP. XIII.

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