Chartres; Esculturas do coro, O Massacre dos Inocentes.
A genialidade: a arquitetura não foi a única a prestar-lhe o mais glorificante testemunho.
No seu arrebatamento, atraiu todas as outras artes, como uma mãe guia e atrai os seus filhos. E, em primeiro lugar, a escultura, também uma técnica da pedra e da madeira, à qual tem andado associada desde sempre.
Neste domínio, o esforço de renascença era mais difícil de realizar, porque devia partir de mais baixo, quase do nada, para dizer a verdade.
A derrocada dos tempos bárbaros tinha, numa certa medida, respeitado a arquitetura, porque o homem não pode passar sem casas, nem o cristão sem igrejas. Mas a plástica, mais ou menos suspeita de paganismo, tinha desaparecido quase por completo.
Durante séculos, o Ocidente foi incapaz de talhar uma estátua em relevo; a influência do Oriente e a dos marfins reduziam essa arte a um simples enfeite, aliás de efeitos freqüentemente saborosos. No entanto, na época carolíngia, fizeram-se tímidas tentativas. Os capitéis das colunas começaram a ser ornamentados com plantas e animais estilizados, imitados grosseiramente de modelos bizantinos.
A ourivesaria, muito apreciada, sobretudo a ourivesaria em relevo – que se obtinha cravando uma folha de metal conforme um desenho feito de antemão – anunciou os primeiros baixos-relevos; certas estátuas relicários – sobretudo no Auvergne – prefiguraram as estátuas em alto-relevo que iam reaparecer. Pouco depois do ano mil, surgiram tímidos conjuntos de decoração esculpida, como o Cristo glorioso rodeado por anjos de Saint-Genis-des-Fontaines, no Roussillon.
A partir desse momento, foi como se se tratasse de uma exigência vital: a arte cristã aspirou ao relevo. A escultura pôs-se a germinar, a crescer; dir-se-ia que o edifício começava a florir. O capitel, vagamente imitado do modelo coríntio, acrescentou à decoração geométrica, quer vegetal quer animal, a figura humana, ainda tosca e como que “presa” à pedra.
Depois, no momento em que o pórtico, rasgado nas paredes muito espessas, se alargou de fora para dentro, e os arquitetos tiveram a idéia de “compensar” a obliqüidade das paredes por meio de pilastras que recuavam umas sobre as outras, produziu-se uma invenção genial cuja fecundidade seria inesgotável – a da estátua-coluna, do pilar que tomava a forma humana, da pedra que assumia a imagem da vida.
A iniciativa foi sem dúvida do Languedoc, da Borgonha, e da Île-de-France: os pilares do Pórtico Real de Chartres trazem até nós as mais antigas obras-primas desta maravilhosa invenção.
http://sumateologica.wordpress.com/2010/02/12/a-escultura-filha-da-arquitetura/
Nenhum comentário:
Postar um comentário