Demolidores da Igreja
Orlando Fedeli
Caiu em nossas mãos um pequeno livro explosivo e hereticamente sincero. Trata-se da obra do Padre J.B. Libânio, S.J. A Volta À Grande Disciplina, (Edições Loyola, São Paulo, 1983).
Como lamentamos ter conhecido uma obra tão clara e tão inteligente somente agora, em 2007, 24 anos após ela ter sido editada!.
Entretanto, apesar de ela ter atingido quase a velhice em matéria editorial, o que se lê nesse livro é atualíssimo. Dir-se-ia profético, tanto o que nele se lê está acontecendo agora. É um livro escrito com inteligência e em linguagem bem clara. Sem o linguajar brumoso típico dos padres do pós Concilio. Padre Libânio não esconde o que os hereges Modernistas querem fazer, e o que eles fazem hoje: a demolição da Igreja e a tentativa de instaurar uma igreja essencialmente evolutiva, dialética, espiritual e gnóstica.
Disso deriva o maior valor do livro: é uma confissão.
O livro vale pela franqueza e inteligência naturais do autor. Veja-se prova disso no seguinte trecho:
“A Igreja nessas ultimas décadas assemelha-se a um canteiro de obras, com a originalidade de trabalharem nele, simultaneamente e nem sempre coordenadamente, diversas empresas construtoras. Uma continua a obra de demolição do prédio antigo. Outra tenta roubar-lhe o material para reconstruir, se fosse possível, o mesmíssimo edifício, que fora e está sendo destruído. Outra, por sua vez, com a planta do antigo edifício na cabeça, procura adaptá-lo às novas circunstâncias e empreende a construção. E finalmente, uma quarta empresa busca sua inspiração em outra planta, original e inédita. Trabalha sem saber que tipo de edifício resultará”.( Padre J. B. Libânio, A Volta à Grande Disciplina, edições Loyola, São Paulo, 1983, p. 107).
Que comparação cogente e, até certo ponto, bem feita! E como ela bem descreve o que se vê naturalmente acontecer, hoje, ainda mais claramente do que na data em que isso foi escrito!
A primeira empresa – a Demolidora -- quer destruir a Igreja Católica Apostólica Romana como sempre existiu. Ela é constituída pelos modernistas, que triunfaram no Concílio Vaticano II, e aos quais se referiu Paulo VI, quando falou do misterioso processo de auto-demolição da Igreja. É a empresa dos Rahner, Lehnmann, Urs Von Balthasar, De Lubac, Schillibeecks, Congar, Chenu, e, naqueles tempos conciliares, também de Joseph Ratzinger. Mas, evidentemente, Padre Libânio riria se lhe dissessem que nessa ação demolidora há uma atuação diabólica. O diabo não existe para os teólogos stalinistas. E se eles constatassem a sua existência, eles o proclamariam “El Comandante Supremo de la Revolución”.
Uma coisa, entretanto, é estranha nessa comparação tão cogente: qual a distinção entre a primeira “empresa” - a dos demolidores da Igreja Católica - e a quarta “empresa”, que pretende fazer uma nova Igreja essencialmente instável, dinâmica , evolutiva e dialética?
Padre Libânio escamoteia essa questão. Porque, na verdade, a primeira “empresa” foi a dos Demolidores Modernistas, grandes agentes do Vaticano II, e a quarta é a dos mesmos modernistas, que, finda a demolição, pretenderiam “instituir” — inovar -- uma igreja nova, que eles mesmos não sabem como seria ou como será. Só sabem que ela nada teria da Igreja dogmática, fixista, petrificada, isto é, nada teria da Igreja Católica. Demolidores e inovadores somente se distinguem pelas duas funções complementares que realizam em tempos diversos: uns demolem, outros imaginam.
Portanto, as quatro empresas descritas por Padre Libânio, na realidade, são apenas três.
Por que será que um autor agudamente capaz, como Padre Libânio, fez essa pequena distinção entre os modernistas demolidores e os modernistas sonhadores, distinção que não resiste a uma análise mais séria?
Tanto mais que Padre Libânio se confessa adepto do pensamento dialético, e ele sabe que não se pode constituir uma tríade dialética com quatro elementos.
A dialética exige uma tese, uma antítese e uma síntese.
Aplicando o esquema dialético hegeliano às “empresas” citadas por Padre Libânio -- argumentamos ad hominem, -- teríamos o seguinte esquema:
Defensores da Igreja Tridentina ---→ ←-- Demolidores Modernistas
(Tese) | Espírito do Vaticano II (Antítese)
|
|
↓
Defensores da fusão entre Tradição e Letra do Vaticano II
(Síntese)
Só assim, o esquema dialético teria uma correta aplicação ao caso concreto da Igreja pós Concílio Vaticano II.
Será que Padre libânio, por ódio aos que divergiram da revista Concilium e fundaram a Communio, por considerá-los traidores, os colocou numa “empresa” distinta, rompendo a unidade da “empresa” modernista?
O esquema falsamente dialético de Padre Libânio, assim como seu livro como um todo, embora seja ele autor de talento, têm uma falha clamorosa fundamental e que os arruína: é escrito por um Padre que perdeu a Fé. E tratar da Igreja e de sua ação na História, sem fé, ignorando ou negando, ainda que implicitamente, a ação do Espírito Santo em sua vida histórica, é ignorar e negar a ação da Providência na História. Deus sempre atua sobre as almas, mormente na dos Papas, e sempre atua preservando a Igreja para que as portas do inferno não prevaleçam sobre Ela.
Como, então, na maior crise da Igreja, Deus se manteria absolutamente sem atuação na defesa da Igreja?
Claro que alguém pode exagerar essa ação de Deus na História, mas negá-la, de princípio, é contra a Fé. Devemos ter olhos para ver corretamente o que é a autêntica ação de Deus, e distingui-la do que pode ser apenas um nosso desejo. Mas, por princípio, recusar ver que Deus atua na crise atual da Igreja, é bem temerário, e esbarra na heresia.
E é onde cai Padre Libânio.
O autor analisa a ação política dos Papas como se eles fossem meros membros de uma associação puramente humana. Ele comete assim um erro essencial ao analisar a atuação da Igreja: examina-a como se Deus não existisse, e como se todos os acontecimentos eclesiásticos fossem pura obra humana, sem nada de sobrenatural ou de divino, nunca. Para o Padre autor desse livro, a Igreja, e o que nela se passa, é mais indiferente a Deus do que a queda de um cabelo de nossas cabeças. Deus não atuaria na história da Igreja, e a graça divina e a tentação diabólica seriam absolutamente inexistentes nos acontecimentos mais dramáticos da história da Igreja que estão ocorrendo em nossos dias. O que é manifestação de um naturalismo herético absurdo.
Claro, então, que dissentimos diametralmente do autor em tudo. Estamos em posições diametralmente antagônicas. Pois o autor em foco é um seguidor da herética Teologia da Libertação, que melhor deveria ser chamada Teologia da Escravização... Stalinista.
A segunda “empresa” – a Restauradora – não se conforma com a demolição da Igreja, e procura de todo modo recuperar partes dela, e restaurar o todo como era. É a empresa dos católicos fiéis a Roma de sempre, que não se limitam à FSSPX, embora Padre Libânio tivesse em mira então especialmente os lefrebvistas.
Também nessa questão, Padre Libânio não vê absolutamente a ação da graça. Para um Padre como esse não existe a graça.
A terceira “empresa”, ainda pouco clara na época em que o livro foi escrito, -- a empresa Renovadora e Conservadora -- hoje é constituída nitidamente pelos que seguem a letra do Concílio Vaticano II, pretendendo conciliar a antiga planta da Igreja com as novidades do Concílio.
Nesses homens, Padre Libânio vê apenas uma contradição dialética de cunho puramente político. Seriam eles modernistas tímidos e inconseqüentes, que não teriam coragem de tirar as conclusões finais dos princípios que adotaram.
Finalmente, a quarta “empresa” – a da Teologia da Libertação - a dos que seguem o “Espírito do Vaticano II”, é a dos que querem uma Igreja completamente Nova, sem qualquer ligação com a Igreja Católica de sempre. Ela é formada por aqueles que Bento XVI chamou de defensores da hermeneutas da ruptura.
Boffes, Bettos e Libânios, aqui no Brasil, fazem parte dessa corrente, junto com os Cardeais Arns, Hummes, e Aloísio Lorscheider; com os Bispos, Dom Ivo Lorscheider, D. Valentim, Dom Casaldáliga, Dom Thomas Balduíno, Dom Mauro Morelli, etc. Em geral, eclesiásticos adeptos da teologia marxista ou modernista. Na Europa, fazem parte dessa corrente da Nova Igreja os Cardeais Martini, Lehman, Kasper, Daneels e quejandos.
Se Padre Libânio deixa bem claro que pertence a esta quarta “empresa” de demolição e de imaginação de uma Nova Igreja completamente sem relação com a Igreja Católica, não se compreende como se tolera que ele permaneça dentro da Igreja Católica. Todos esses demolidores só ficam na Igreja para destruí-la. Todos eles deveriam ser excomungados e expulsos imediatamente.
É cinismo incrível declararem que pretendem destruir a Igreja Católica e permanecerem nela. É absolutamente inexplicável que as autoridades da Igreja permitam a esse demolidor – Padre Libânio -- permanecer na Igreja, demolindo-a sistemática e friamente! E declarando expressamente o que deseja fazer: destruir a Igreja Católica e construir uma outra igreja completamente diferente da Igreja Católica.
Como nada se faz contra isso? Como nada se faz contra esse Padre que escreveu isso em 1983, e que até hoje permanece em seu trabalho de quinta coluna e de traição?
Isso só é possível pela imensa infiltração que a heresia modernista alcançou no clero e na própria Cúria Romana. Prova dessa infiltração – melhor, dessa invasão modernista na Igreja – está patente na resistência dos Bispos Modernistas retardando a publicação do Motu Proprio, liberando a Missa de sempre, que Bento XVI teria assinado, mas que não ainda não conseguiu publicar.
I - A AÇÃO DOS DEMOLIDORES DA IGREJA ATRAVÉS DO VATICANO II
Padre Libânio descreve com detalhes e com argúcia o trabalho de demolição da Igreja Católica promovido pelos teólogos modernistas, num muito hábil, sistemático e bem arquitetado trabalho de destruição.
Ele trata disso num capítulo do livro em foco, capítulo que ele intitula “A Deconstrução da Identidade Tridentina”.
Padre Libânio mostra que se procurou atingir as imagens da Igreja que eram como que luzes no horizonte dos fiéis.
O ponto de partida da auto demolição da Igreja, ele o aponta na Constituição dogmática Gaudium et Spes, do Vaticano II, Constituição tão querida a João Paulo II, e que o Cardeal Ratzinger chamou, em certa ocasião, de o Anti Syllabus (Cfr. Cardeal Joseph Ratzinger, Teoria de los Princípios Teológicos, Herder, Barcelona, 1985, Antes do Concílio Vaticano II, a Igreja sempre ensinou, com Cristo, que o homem deveria viver para as coisas eternas e não para as ilusões das coisas terrenas. Os católicos estavam no mundo, mas não eram do mundo: “Eles não são do mundo, como eu também não sou do mundo” (S.João, XVII, 16), disse Jesus.
Padre Libânio mostra que a Gaudium et Spes se voltou para o Mundo. A Gaudium et Spes disse o contrário do que Cristo ensinou. Quis que os católicos aderissem ao mundo. E ao Mundo moderno, dizemos nós, que é a forma mais maligna que o Mundo assumiu na História.
Eis o que diz Padre Libânio da Gaudium et Spes: p.457).
“Ora, violenta vaga teológica, que se estenderá amplamente nas praias da Gaudium et Spes, agitará o mar tranqüilo da supremacia e quase exclusividade das realidades sobrenaturais. Surgem teologias das coisas terrenas, do trabalho, da matéria, do progresso humano, e tantas outras formas A dimensão do mundo assume relevância. A renúncia em vista da obtenção de bens sobrenaturais carece de mordência. Uma teologia do mundo está na origem da extinção luminosa da motivação de desprezar o mundo para ganhar o céu. Quanto heroísmo se apoiou nesse alicerce, que a própria teologia moderna solapa!”. Pe. J.B. Libânio, op. cit. pp, 81-82).
Esse Padre confessa que a Teologia Moderna solapou as bases da vida sobrenatural. E ele aprova isso! E pretende passar por católico, para continuar a demolição da Igreja e da Fé nas almas!
Eis um trabalho confessadamente satânico!
Que fazem seus superiores da Companhia de Jesus que não o calam? Que faz a Cúria de Belo Horizonte que não silencia esse demolidor? Que fez a Cúria Romana contra esse destruidor confesso da Igreja?
Vejam o que diz mais Padre Libânio:
“Evidentemente, essa teologia—[moderna] -- não cai do céu. Vem fortemente influenciada por uma “ética do progresso”. A humilhação, o fracasso, a mortificação, a renúncia dos bens materiais pertencem a um mundo dos fracos, dos obscurantistas. Assim grita alto Nietzsche: “suplico-lhes, meus irmãos, a permanecerem fiéis à terra e de não dar crédito àqueles que lhes falam de anseios supraterrenos. São pervertedores, quer o saibam ou não. São depreciadores da vida, moribundos que, por sua vez, estão envenenados, seres dos quais a terra se encontra entediada; vão-se por uma vez para sempre” (F. Nietzsche, Assim Falava Zaratrustra, trad. bras., Hemus, São Paulo, p. 10).
“Esse grito ecoa forte nos arrabaldes da Igreja”(Padre J. B. Libânio, op. cit., p. 82).
Além de Nietzsche, Padre Libânio mostra que a Teologia da Demolição utilizou a psicologia moderna para acabar com o imaginário mundo sobrenatural povoado de anjos e demônios, de tentadores e santos protetores. Negou-se lentamente todo o sobrenatural.
O protestante Bultman pretendeu desmitologizar a revelação da Sagrada Escritura, minando a crença no céu, inferno e purgatório. Padre Libânio mostra como a difusão das doutrinas de Bultman nos meios católicos abalou a pratica da ascese e das virtudes. Ele mostra ainda como a negação da crença nos novíssimos foi destruída, e como se perdeu o impulso missionário ao se negar o dogma de que “fora da Igreja não há salvação”. Mostra ainda Padre Libânio, como se fez o povo católico perder a noção de pecado, assim como o medo dos castigos do inferno e do purgatório.
Diz Padre Libânio:
“Dois aspectos importantes do pecado perdem sua clareza: seu contorno objetivo e o fato de ser em si mesmo uma ofensa à honra de Deus” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p. 84)
E ainda:
“O confessionário deixou de ser lugar onde se nutria o imaginário social, cedendo o espaço para o consultório do psicólogo, onde esse imaginário é desmontado” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p. 84).
Padres e psicanalistas se uniram para destruir a fé nos novíssimos. E os padres começaram a brincar de psicanalistas amadores, transformando o confessionário em bate-papo informal, onde, muitas vezes, aprovam todo pecado... com base em Freud.
Os padres confessores já não tinham mais tempo para ouvir confissões... Os confessionários desapareceram. E os pecadores se multiplicaram.
Continuando a narrar como se demoliu sistematicamente a Igreja sob as vistas complacentes de João XXIII e de Paulo VI, Padre Libânio escreveu:
“A Liturgia, na sua sacralidade intangível e imutável, desafiando os séculos, não resiste á transformações. Ela iluminava com seu esplendor o imaginário religioso. Quanto mais imutável e intocável, tanto maior força possuía. Pio XII sabia-o muito bem.
“Ele hesitou dolorosamente em noites de insônia, em dispensar o católico do estrito jejum eucarístico, permitindo tomar água, depois líquidos em geral, depois remédios, até reduzi-lo a condições mínimas. Outro momento importante foi a reforma dos ritos da Semana Santa. E enfim quando São José entrou no cânon, a peça mais sagrada da Liturgia tinha sido tocada. É um arco sagrado que se quebra. O espaço da liturgia já está sendo ocupado pelos mais barulhentos instrumentos, pelos gestos mais livres e soltos, pelo falar desinibido” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p. 85).
O espaço sagrado da liturgia foi invadido pelo espírito profano.
A autoridade papal passou a ser publicamente contestada, por exemplo, com a resistência à Humanae Vitae de Paulo VI, que proibiu a pílula anti concepcional.
A Igreja tridentina foi sendo demolida.
Padre Libânio usa até mesmo a palavra complô:
“Terminando esse parágrafo, fica-nos a idéia de que o imaginário social religioso que Trento construíra, se desfez ao embate de tantos fatores. Verdadeiro complô da razão, da Psicologia, da Sociologia e sobretudo dos meios de comunicação de massa contra esse universo simbólico religioso. A força que a transmissão pela tradição desempenhava, foi substituída pela crescente valorização da própria experiência, da mediação de nossa subjetividade” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p. 88. Os destaques são nossos).
Como pode ter havido um complô da Psicologia com a Sociologia?
Essas Ciências não combinaram um encontro numa Universidade, ou numa sacristia, com os Meios de Comunicação de massa..
Quem organizou e fez o complô foram homens concretos: psicólogos, sociólogos e agentes dos meios de comunicação de massa, junto com Bispos e Padres Modernistas. Vale sublinhar o reconhecimento de que houve um complô para demolir a Igreja, complô confessado por Padre Libânio.
Haveria então conspirações na História?
“Numa palavra, o imaginário social religioso, que conseguira durante séculos resistir por causa do clima de homogeneidade cultural conservado no interior da Igreja, viu-se subitamente assaltado por todos os lados. A Igreja, não contendo mais a força da pressão de tantos fatores, abriu-lhes o universo simbólico. Em pouco tempo, voaram por todas as partes destroços desse imaginário social” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p. 89)
João XXIII abriu as janelas do Vaticano para o aggiornamento da Igreja, isto é, para a sua auto-demolição. Para transformar os valores eternos e imutáveis da Igreja em material descartável, que serve, hoje, e que amanhã pode ser jogado fora.
Assim nasceu a Nova Igreja relativista e aggiornata do Concílio Vaticano II. Uma Igreja de hoje que amanhã já não vale mais.
Uma Igreja descartável.
A Auto-Demolição do Clero
Padre Libânio confessa algo que se fosse dito por um católico fiel, seria logo taxado de fruto de uma doentia mentalidade conspirativa:
“Ora, o imaginário social religioso de Trento foi submetido a uma desmontagem minuciosa, como vimos no parágrafo anterior. Esse foi o primeiro grande abalo sísmico na rocha firma do clero” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p.89).
E Padre Libânio aponta os Bispos como grandemente responsáveis por isso:
“Referente ao clero, o desligamento de uma fidelidade até então garantida a todo custo – do contrário pesava o terrível anátema de padre apóstata, excomungado – se deu sob o peso da pressão, sobretudo dos Bispos, carregados de pedidos de dispensa de seus padres” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p.89).
Roma, antes, cedia com dificuldade a pedidos de afastamento da vida sacerdotal. Paulo VI liberou a enxurrada de dispensas. O número de padres que largaram a batina atingiu proporções incríveis, após o Concílio Vaticano II. Logo se apontaram deficiências de formação nos seminários como responsáveis pelo êxodo de padres que largavam a batina para se casar.
Fecharam-se os seminários, substituídos às vezes por “pensões” – casas de seminaristas -- mais ou menos comuns, geralmente relaxadas na disciplina. E sem estudo sério.
O novo clero ou largava a batina para se casar, ou vestia bermudas e jeans para se igualar aos leigos.
Adotou-se o clergyman muito temporariamente, pois logo ele foi substituído pela roupa comum, pela camisa social, pela camisa esportiva, até chegar à bermuda, à calça jeans, e finalmente ao calção de banho.
“Sem dúvida, o exterior do sacerdote, nivelado ao leigo comum, diminuiu seu impacto sobre a consciência do fiel. E sobretudo quando percebemos que tal mudança vinha precisamente dessa aspiração de igualar-se e encerrar como algo do passado, a geração do padre-separado-do–povo. (...) A inserção no mundo “profano” se dava em todos os setores: da arte, da diversão, dos estudos, da política. Que distância do seminarista, educado a comportar-se já desde cedo, como um padre me miniatura, desde o exterior até os interesses diários!” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p.91).
Não só a figura do Padre foi laicizada, mas também o seu saber.
Quando havia saber..., dizemos nós.
Das igrejas, desapareceram os púlpitos. Os padres já não se sentiam capazes de falar do alto, palavras elevadas. Os sermões se tornaram chãos. Alguns com piadas. E houve casos de chegarem à linguagem vulgar e até chula. O padre se aprestava a competir com os show-man da TV. Padre Marcelo Rossi, com os seus baldes de água benta, já vinha vindo no horizonte da decadência. Agora, neste último carnaval, Padre Marcelo Rossi patrocinou a “folia de Jesus”...
O princípio de autoridade foi completamente minado.
O próprio Código de Direito Canônico ficou desprestigiado.
“Os conflitos que havia entre sua letra [do Código de Direito Canônico] e os ensinamentos do Concílio Vaticano II levaram o descrédito ao máximo” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p.94).
As missões perderam impulso, pois que para a Nova Teologia triunfante no Vaticano II “uma revelação transcendental acontece lá onde ainda o missionário não chegou. A Palavra de Deus antecipa-se antologicamente --[Antologicamente ou ontologicamente? ] –à palavra falada, categorial do missionário. Sua presença não se faz mais tão necessária e imprescindível. Antes se torna estorvo para a salvação. Teólogo de nossas plagas chegou a afirmar que freqüentemente é mais difícil salvar-se dentro da Igreja que fora dela.” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p.95).
Se é possível se alcançar a salvação em qualquer religião, para que fazer missões?
O ecumenismo matou as missões.
E do mesmo princípio proveio a ruína dos colégios católicos. A Igreja não ensinava mais. O magistério católico seria inútil.
Os Colégios católicos foram fechando, e os que continuaram a existir nada mais tinham de católico.
Conhecemos um caso de fechamento de um Colégio religioso, construindo-se em seu lugar um supermercado... porque assim se obtinha mais lucro. Claro que esse supermercado foi feito por frades franciscanos. Ah! A pobreza franciscana!...
Esse foi o resultado ordinário do Magistério do Concílio Vaticano II.
Pastoralmente se afugentaram as ovelhas, enquanto os pastores passaram a dialogar com os lobos...
A vida religiosa nos conventos desmoronou. Dezenas de milhares de religiosos e de religiosas abandonaram, primeiro, os hábitos, depois a regra, e finalmente os conventos.
Essa, em suma, foi a demolição realizada pela Companhia Demolidora da Igreja, segundo a bem cogente metáfora de Padre Libânio.
Mais adiante, Padre Libânio dá a posição de sua análise pessoal face à essa demolição:
“O processo da deconstrução (...) afirma-se como passo histórico irreversível. Processo iniciado que seguirá inexoravelmente sua trajetória até o fim do cristianismo histórico, convencional. A Igreja como corpo social de sentidos, que garantia de modo autêntico e autoritário a continuidade da mensagem de Jesus cederá seu ligar à pluralidade espontânea de grupos humanos Essa mensagem de Jesus já não será privativa, nem oficialmente ligada a uma Igreja, mas de inúmeros corpos sociais que a substituirão sem o peso institucional e de longeva tradição.
“Jesus pertence à humanidade e não mais a um corpo definido. Jesus foi subtraído à Igreja, para ser de todos” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p.109).
Padre Libânio não crê na promessa de Cristo à Igreja de que assistiria a Ela todos os dias até a consumação dos tempos. Por isso, Padre libânio não é mais católico. Ele crê que a Igreja Católica Apostólica Romana como instituição morreu, foi demolida. Foi ultrapassada. Acabou.
Como permanece ele na Igreja? Para que permanece ele ainda na Igreja?
Padre Libânio afirma que Igreja como detentora de verdades reveladas por Deus e de um magistério instituído por Cristo acabou:
“Esse processo de implosão da identidade tridentina modificou o problema de verificabilidade da fé. Não se faz primordialmente a partir do lugar de pertença a um grupo oficial de sentidos, a uma igreja. Até então, era este corpo institucional eclesiástico que conferia credibilidade e plausibilidade a uma prática e a um discurso sobre verdades. Desfazendo-se tal corpo social, o fiel encontra-se diante de um corpo de textos – começando pelos bíblicos e continuando pela rica tradição eclesial – que estão aí e podem e devem ser reproduzidos no seu significado atual. Tal operação não se faz de dentro da Instituição, mas de premissas concretas atuais” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p. 111 e 112).
Para Padre Libânio, passou–se de uma Igreja Magisterial, dogmática e dogmatizante, para uma igreja de interpretações pessoais, para uma Igreja hermenêutica, na qual todas as interpretações seriam igualmente válidas. Ter-se-ia dado a substituição da Igreja magisterial infalível para uma nova igreja “pastoral”, relativista e subjetivista. Fenomenologicamente interpretativa.
“A forma concreta que o Cristianismo assumiu historicamente como Igreja, sobretudo na sua identidade tridentina, entrou na fase última de decomposição. Cada vez mais aumenta o corte entre as condutas objetivas e as convicções pessoais, desconectam-se comportamentos religiosos e fé.
“A desestruturação do sistema eclesial, como dogma, como poder hierárquico, permite que as peças soltas, os fragmentos religiosos sejam apropriados por diferentes grupos, e não sejam mais, como outrora, o monopólio da Igreja” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p.112).
Para Padre Libânio, o Vaticano II fez a igreja passar “do universo absoluto, sagrado, para o relativo” (Op. cit p. 123) graças à aplicação da Teologia Liberal (Cfr. op. cit ., p. 122).
Nesse processo de destruição, Padre Libânio registra o aparecimento de duas forças, aparentemente opostas, mas na verdade ambas, a seu modo, cooperantes para a destruição da Igreja: a Teologia da Libertação, racionalista, marxista, que busca uma redenção política no mundo, e a Renovação carismática, emocionalista e irracional, que destrói a Igreja pela crença da posse particular, pessoal, do Espírito Santo e de suas inspirações, o que destrói a Igreja institucional.
“Paradoxalmente essa implosão da identidade tridentina tem engendrado dois fenômenos contrastantes: secularização e carismatismo. Secularização no sentido de “investir o cristianismo em tarefas sociais, políticas, que se tornaria, linguagem verdadeira e escondida da fé” (M. de Certeau, _ J.M. Domenach, Le Christianisme éclaté, Seuil, Paris, 1974, p. 28).Os militantes secularizados reduziriam a fé à sua práxis sócio-política. No outro lado, está outra corrente, não menos dissolvente da eclesialidade visível e institucional à la Trento, de sinal político inverso: a eclosão de grupos carismáticos anárquicos. Entregues às suas festas, a seu alarido orante ou profético, existem por si mesmos, na marginalidade institucional. A dinâmica de tais correntes exprime antes a implosão da identidade que sua construção” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p. 113).
Como sempre na História das heresias, Panteísmo racionalista e Gnose irracionalista se completam dialeticamente no complô – é palavra de Padre Libânio— contra Cristo e contra a sua única Igreja.
O fermento de Herodes (o panteísmo político) e o fermento dos fariseus (a Gnose) se completam.
Cristo preveniu-nos que nos guardássemos dos dois: “Evitai com cuidado o fermento dos fariseus e o fermento de Herodes!” (S. Marcos,VIII, 15). E curiosamente Padre Libânio fala do carismatismo e da teologia da libertação marxista como fermentos:
“Assim a Igreja poderia deixar de existir no momento em que a sociedade já estivesse levedada de cristianismo. Ele passaria a ser um espírito, parte integrada dentro da humanidade. E teria então cumprido sua missão histórica. Isso parece ter acontecido” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p.114).
Padre Libânio vê realizada já na História o advento da Igreja espiritual gnóstica substituindo a Igreja católica.
Como esse padre pode permanecer no seio da Igreja, trabalhando confessadamente para a sua destruição?
Como nenhum Bispo o puniu?
Como o Vaticano tolerou, até hoje, a permanência de um sabotador confesso desse jaez no seio da Igreja?
II -- A AÇÃO RESTAURADORA DOS BISPOS FIÉIS -- DOM LEFEBVRE E DOM MAYER
Face à auto-demolição da Igreja promovida pelos modernistas no Concílio Vaticano II, o Bispo símbolo que se ergueu resistindo acabou sendo Monsenhor Marcel Lefebvre, o heróico fundador da Fraternidade Sacerdotal São Pio X.
Para Dom Lefebvre, “a causa próxima da crise (da fé) na qual nos encontramos é o Concílio. Não digo que seja a interpretação do Concílio, como se diz em demasia, e facilmente. Eu vo-lo digo: é o Concílio” (Apud Padre J.B. Libânio, op. , cit., p. 121).
Dom Lefebvre acusava o Vaticano II de ter se aberto ao lema da Revolução Francesa e da Maçonaria: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, através da adoção dos princípios de liberdade religiosa e de consciência (Liberdade); Colegialidade (Igualdade nas autoridades eclesiásticas); Ecumenismo ( Fraternidade entre todos os homens quaisquer religião que tenham) ( Cfr. Padre J.B. Libânio, op. , cit., p. 121).
Dom Lefebvre chegou a escrever a Paulo VI que o Vaticano II resultou de um acordo entre dignatários da Igreja e a Maçonaria:
Devolva à liturgia “todo o seu valor dogmático e a sua expressão hierárquica, conforme o rito latino consagrado por tantos séculos de uso” e “Vossa Santidade restaurará o sacerdócio católico e o reino de Nosso Senhor Jesus Cristo sobre as pessoas, sobre as famílias, e sobre a sociedade civil”; abandonai “a nefasta empresa de comprometimento com as idéias do homem moderno, empresa que tem sua origem em um acordo secreto entre altos dignatários da Igreja e os das lojas maçônicas, ainda antes do Concílio” (Mons. Tissier de Mallerais, Mons. Marcel Lefebvre, Una Vita, Tabula Fati, Cieti, 2005, p.554. Nota 104).
Ao fazer a sua crítica à posição dos defensores da Igreja de sempre, Padre Libânio torna a dizer coisas bem importantes. Por exemplo, ele mostra como os chamados tradicionalistas, - dos quais Dom Lefebvre é a figura prototípica --, opõem uma noção de Tradição contrária à dos peritos do Vaticano II:
“Tradição é entendida – [pelos tradicionalistas] – de maneira fixista como transmissão de uma verdade já dada, que não se busca nem se modifica. Tradição se opõe a interpretação. É continuidade material e formal de um “depósito de verdades”. A função da Tradição é transmitir verdades e costumes do passado, de garantir-lhes a perpetuidade, que lhe é de direito. Concepção fixista e de vinculação estreita no passado congela a tradição, mumifica-a. A essa concepção, opõe-se uma concepção de tradição viva, dinâmica, num processo de continua reinterpretação, em busca de sínteses mais completas e ricas” (Padre J.B. Libânio, op., cit., p. 128).
Portanto, o Vaticano II passou da Igreja de Pedro, estável e imutável, Igreja construída por Cristo sobre a pedra, para uma Igreja nova, volátil, evolutiva, em constante mudança. Uma Igreja descartável. A Nova Igreja continuamente reinterpretando um “evangelho” evolutivo e sem verdade perene.
A Nova Igreja do Vaticano II, perenemente se adaptando ao mundo, reinterpretando continuamente a doutrina, se define, por isso mesmo como “pastoral”.
“Ser pastoral significa abertura, diálogo com o mundo dos homens de hoje” (Padre J.B. Libânio, op., cit., p. 129).
Ser pastoral, então, significa ser relativista.
Para justificar a continua evolução, negando que a verdade católica seja imutável, Padre Libânio faz a defesa da noção fenomenológica do conhecimento, e diz:
“O ser humano, na sua estrutura de conhecimento, é, por excelência, interpretativo. É a estrutura hermenêutica do conhecimento. O homem conhece interpretando. E toda interpretação é situada. Ora, negar tal condição humana do conhecimento é ficar aquém da revolução cartesiano-kantiana do pensar” (Padre J.B. Libânio, op., cit., p. 130).
Padre Libânio dá então a chave para se entender o Vaticano II: um Concílio que repudiou a Filosofia tomista, para adotar a Filosofia e a terminologia kantiana e fenomenológica subjetivistas. Dessa Filosofia subjetivista e relativista só poderia sair um Concílio relativista e instável, que cada um interpreta a seu modo.
Como então condenar a posição dos tradicionalistas?
Se todas as interpretações são válidas, é uma contradição ter condenado Monsenhor Lefebvre e Dom Mayer.
Padre Libânio, ao criticar a posição dos defensores da Igreja de sempre, vai dizer mais: vai defender a posição dialética hegeliana.
“O mesmo se pode dizer de uma compreensão dialética da realidade. A posição integrista é substancialista, essencialista. Joga com o esquema substância-acidente para interpretar as mudanças históricas. No fundo da realidade há um substrato comum, permanente, que subestende a todas as mudanças. Essas não passam de meras aparências de uma realidade subjacente sempre constante. Qualquer mudança considerada “substancial” significa uma ruptura com a realidade anterior. Já estamos diante de uma outra realidade diferente, sem nexo com a precedente. Em termos eclesiais e teológicos, trata-se de infidelidade à realidade original, renunciando à própria identidade e assumindo outra estranha” (Padre J.B. Libânio, op., cit., p. 130).
III – A AÇÃO DOS QUE PRETENDEM CONCILIAR A “PLANTA” DA ANTIGA IGREJA COM AS NOVIDADES DO VATICANO II
Padre Libânio assevera que essa terceira corrente pretenderia construir uma “identidade Vaticano II”, do mesmo modo como, na Contra Reforma, se pretendeu e se construiu uma identidade católica tridentina.
A primeira posição face à Igreja – segundo a análise de Padre Libânio – seria a de demolição completa da Igreja de sempre, demolição conscientemente desejada, planejada e executada minuciosamente no Vaticano II.
O que é impressionante na exposição desta terceira posição feita por Padre Libânio é que, tendo sido escrita em 1983, ele descreve com muita precisão o que Bento XVI parece estar tentando realizar, hoje, 24 anos depois da edição desse livro. O que prova a inteligência da visão e da análise natural do autor. Infelizmente, visão puramente naturalista, que, aos olhos da Fé, é cegueira.
O mal e o erro dessa visão e dessa análise consistem em negarem completamente o sobrenatural. Padre Libânio nem imagina que Deus possa atuar, usando até mesmo de pessoas de idéias más, para providencialmente retirar o bem de um mal. Padre Libânio não concebe a ação da graça, na história. Ele só concebe os homens atuando naturalmente, mas nem sonha que a graça divina possa converter um pecador, e mesmo transformar radicalmente a alma de alguém que foi herege. Santo Agostinho, passando do maniqueísmo para a santidade, e de pecador para Doutor da Igreja é inconcebível para uma mentalidade hereticamente naturalista como a de Padre Libânio, para o qual só vale a dialética hegeliana-marxista, e, portanto, a luta de classes como chave de toda História.
Vejamos, então, como Padre Libânio analisa as várias posições face à Igreja em nossos dias:
”O dado fundamental é o mesmo para todos. O modo de analisá-lo, avaliá-lo e tentar enfrentá-lo varia. Esse dado é a dissolução da identidade tridentina (sic!). Para a primeira posição—[a dos demolidores] – trata-se de fato inelutável e que deve ser acelerado até seu término. Para a segunda posição – [a dos lefrebvistas e semelhantes] -, não só não se trata de algo irreversível, mas de algo que deve ser revertido. Essa terceira posição parte de dois pressupostos: a irreversibilidade da dissolução da identidade tridentina e a necessidade de que haja sempre uma identidade clara e comum a todos” (Padre J.B. Libânio, op., cit., p. 131).
Note-se, antes de tudo, como Padre Libânio parte de uma afirmação gratuita e falsa: a “dissolução da identidade tridentina”.
A Igreja Católica não se dissolveu. Ela é imperecível pela promessa do próprio Cristo. Não é verdade que a Igreja se dissolveu e que a sua identidade foi perdida.
Outro erro desse teólogo da, por negação do sobrenatural, é a afirmação dele de que houve já uma “irreversibilidade da dissolução da identidade tridentina”.
O anúncio do próximo retorno da Missa de sempre comprova que a situação é reversível, e que está sendo revertida.
Para Padre Libânio, os que lideram a terceira posição pretendem criar uma nova identidade para a Igreja com base no Vaticano II, utilizando, se for necessário, a autoridade da Igreja. Daí o título do livro de Padre Libânio: A Volta à Grande Disciplina. O autor atribui a João Paulo II e ao Cardeal Ratzinger, agora Bento XVI, essa tentativa de retorno ao uso da disciplina, para recriar um novo modelo de Igreja semelhante ao da Igreja de Trento, mas com base no Vaticano II.
Essa posição teria três passos fundamentais:
O primeiro passo seria o reconhecimento de que “a identidade tridentina já não tinha mais condições” e que “seria loucura persistir insistindo nela” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p. 132).
E isto está sendo negado concretamente pelas medidas já tomadas por Bento XVI, e que se anunciam serão proximamente tomadas. O próprio Papa Bento XVI, em audiência pública, acaba de dizer firmemente a um sacerdote brasileiro, que lhe pedia a liberação da Missa de sempre:
“Questo verrà! Questo verrà!” (Isso vai acontecer! Isso vai acontecer!”).
Um segundo passo teria sido um período de experiências que terminou num frenesi de experiências, num verdadeiro “carnaval de experiências”:
“Concomitante a esse momento de dissolução da identidade tridentina, a Igreja abriu-se a um período de experiências” (...) “Entrou-se numa espiral de experiências, em busca de respostas a perguntas vagamente sentidas” (...) “Verdadeira tempestade cerebral de novidades” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p. 132).
“Em dado momento, surgem, por todas as partes, no interior do corpo social, seja vindo das bases, como principalmente de suas cúpulas – onde as inquietações têm maior ressonância --, desejos ardentes de por fim a esse carnaval de experiências” (Padre J.B. Libânio, op. cit., pp. 132- 133).
Repare-se como a revolta contra o “carnaval de experiências” religiosas promovido em nome do Vaticano II, e por causa dos erros do Vaticano II, para destruir a Igreja, segundo Padre Libânio, teria sido uma reação puramente natural.. Não teria havido nenhuma ação da graça, tocando as almas, e mostrando-lhes que reduziram a Igreja Católica a um “carnaval de experiências” religiosas.
“Carnaval de experiências”!!! Que expressão feliz para descrever o estado atual das igrejas dominadas pelas CEBs comunistas, ou pelos movimentos carismáticos do foliento “goleiro”, Padre Marcelo Rossi, dos Padres Jonas Abib e Roberto Lettieri.
Carnaval religioso. Folia de Cristo...Tragédia!
Com a CNBB, organizando o desfile carnavalesco das heresias!
Começaria então um terceiro passo de “triagem”:
“Inicia-se um período de triagem, de discernimento. Assim como o organismo vivo retém as substâncias que o alimentam, animam, fortificam, e elimina aquelas que já não servem para nada, o corpo social tem procedimento similar. Entra numa fase de separar as experiências consideradas válidas daquelas antes julgadas nocivas à sua vitalidade. E sobretudo encerra-se o espaço das experiências. Proíbem-se novas experiências, para concentrar-se no discernimento, na separação das válidas ou não”.(...) Passa-se do espaço de criatividade livre para o da normatividade obrigatória”. (Padre J.B. Libânio, op. cit., p. 133).
Padre Libânio ousa até delimitar, no tempo, o início desse período da terceira posição face ao Vaticano II: teria sido, ou já em 1968, com a Humanae Vitae de Paulo VI, ou com o advento de João Paulo II, que teria usado a expressão “volta à grande disciplina”.(op. cit p. 135).
Nesse período de domínio da terceira posição, -- a da reconstrução de uma identidade da Igreja com base no Vaticano II –“ainda que a teologia veiculada seja mais atualizada que a tridentina, o método de proceder é idêntico. E no fundo a concepção teológica também. Pois a teologia é entendida como conteúdos codificados, fixos até certo ponto. Fundamental é a transmissão autoritativa. Por isso, refugam de modo especial a teologia liberal e a da libertação. Pois ambas ameaçam-lhes a organicidade e o método de sua formulação, transmissão. Noutras palavras, são movimentos que preferem ter uma teologia já pronta e não fazer teologia a partir dos problemas existenciais da práxis” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p. 140, Destaques meus).
Destacamos, na citação acima, a admissão pelo autor em foco de que a “concepção teológica” dessa terceira posiçãoseria a tridentina.
Padre Libânio mostra, ainda, em que esta terceira posição difere da posição dos tradicionalistas:
“A identidade Vaticano II difere da anterior sobretudo quanto ao conteúdo. Reconhece como superados os ensinamentos escolásticos da identidade tridentina. Procura então definir com clareza nova sumula doutrinal e moral que corresponda aos avanços do Concílio Vaticano II. Neste caso, este concílio é considerado como ponto de chegada da reflexão teológica da Igreja e não ponto de partida. É antes estacionamento que plataforma de lançamento.Como vimos, o tempo de novas investidas teológicas ou pastorais já terminou. Devemos sedimentar o já adquirido, no nível teórico e prático” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p. 141).
Como a concepção teológica seria a mesma se os conteúdos seriam diferentes?
Seria a mesma forma fixa e autoritativa, mas de conteúdos novos...
É então que Padre Libânio tem que explicar como a terceira posição vai diferir da quarta -- a dos demolidores -- em fase de invenção de uma nova Igreja totalmente diversa da Antiga.
Explicação complexa e difícil de se manter, quer pela lógica tradicional, quer pela lógica fenomenológica ou dialética, porque essa terceira posição vai repelir um dos pólos dialéticos, e a repulsa por um dos pólos dialéticos é a repulsa da própria dialética.
E repelir um dos pólos da dialética torna impossível a síntese do ponto de vista hegeliano.
Vimos o esquema hegeliano subjacente á exposição de Padre Libânio:
Defensores da Igreja Tridentina ---→ ←-- Demolidores Modernistas
(Tese) | Espírito do Vaticano II (Antítese)
|
|
↓
Defensores da fusão entre Tradição e Letra do Vaticano II
(Síntese)
Condenada, repelida a posição dos Demolidores -- a antítese de Trento — como hegelianamente produzir a síntese entre a posição tridentina (tese) com a posição (de síntese) da terceira “empresa” ? Impossível.
Claro que Padre Libânio percebe esse erro de aplicação da dialética hegeliana a seu esquema de quatro “empresas”.
Julgamos que também nos parece bem difícil que Bento XXI não tenha consciência de um erro dialético desse jaez.
E há ainda outra contradição.
Para bem compreender o problema, convém colocar aqui alguns esclarecimentos sobre a filosofia e terminologia adotadas pelos peritos do Vaticano II que determinaram a ambigüidade de seus textos.
Diz Padre Libânio:
“O sentido mais profundo do Concílio Vaticano II não foi o brindar à Igreja um texto terminado, mas criar novo espírito, nova mentalidade, introduzindo no interior da Igreja, a dimensão histórica, hermenêutica dialética. Ater-se à materialidade de seus textos é contradizê-lo, é desconhecê-lo. Pois ele mesmo anuncia a sua superação, ao aceitar o duplo princípio fundamental da perspectiva pastoral e ecumênica. Com a dimensão pastoral, quer-se dizer que se faz necessário contínuo diálogo com a realidade social. Ora, essa não parou em 1965. De lá para cá correu muita água no rio da história. E o esforço do diálogo, do confronto interpretativo deve continuar sua tarefa. Perspectiva ecumênica: também as igrejas evangélicas ortodoxas, não-cristãs deram passos, cresceram em autoconsciência. E, por isso, o diálogo tem de avançar. Parar no texto do Concílio Vaticano II é esquecer o espírito que o animou” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p. 149. Os destaques são nossos).
Nessa citação destacamos alguns pontos:
1 – A afirmação que o essencial – o pior -- do Vaticano II é a introdução na Igreja de uma mentalidade historicista, dialética, hermenêutica, relativista, através da adoção da terminologia e filosofia fenomenológicas.
2- Que o relativismo historicista foi introduzido:
a) pelo caráter pastoral do Vaticano II, que obriga a uma continua adaptação aos tempos e ao mundo;
b) pela perspectiva ecumênica, que exige um dialogo relativista.
Para confirmar essa visão do Vaticano II, Padre Libânio faz questão de dar uma longa citação de Dom Boaventura Kloppenburg a respeito do caráter fenomenológico do Vaticano II.
Eis as partes mais importantes dessa citação:
“O Vaticano II é sobretudo um Concílio que se distingue muito mais pelo novo espírito, que pelas novas explicitações (por exemplo, sobre a Igreja, o Episcopado, o Presbiterado, a Tradição, a Liberdade Religiosa, etc.), mas o especificamente novo e importante do XXI Concílio Ecumênico está na sua atitude pastoral, ecumênica e missionária, perante o mundo de hoje; no seu espírito de abertura a novos valores; na sua disposição de dialogar e até de cooperar com os não católicos, os não-cristãos e os não-crentes; no seu clima de compreensão dos outros; na sua convicção de ser apenas o sinal, o instrumento ou o sacramento (mysterium) do Senhor Glorificado; (...) na redescoberta da liturgia como principal meio de santificação; na ênfase com que busca uma vida cristã mais personalista e ao mesmo tempo mais comunitária (...); no seu novo conceito de unidade (que não é sinônimo de uniformidade) e catolicidade (que admite e deseja o pluralismo teológico, litúrgico, disciplinar e espiritual); (...) na sua confiança no homem e em sua dignidade e seu senso de responsabilidade; no seu otimismo perante as realidades terrestres; (...) na sua renúncia ao fixismo e legalismo; na sua consciência de ser peregrina, essencialmente escatológica, sempre em marcha, inacabada, dinâmica, viva, colocada na história do presente, num mundo que passa, entre criaturas que gemem e sofrem, até que Ele volte...” (Frei Boaventura Kloppenburg, A Eclesiologia do Vaticano II, Vozes, Petrópolis, 1977, pp. 16-17 apud Padre J.B. Libânio, op. cit., pp, 149-150. Os destaques são meus).
Em suma, “a tarefa primordial inaugurada e incentivada pelo Concílio [foi] de interpretar a realidade em perspectiva pastoral e ecumênica. Em termos de João XXIII, trata-se de sempre encontrar vestes novas para ensinamentos antigos” Padre J.B. Libânio, op. cit., p.150).
Em termos filosóficos, isso significa a adoção da filosofia fenomenológica e relativista da contínua reinterpretação das realidades e dos textos. O Vaticano II foi relativista, dialético, reinterpretativo, historicista. Portanto, o Vaticano II foi anti dogmático. Foi anti magisterial. Ele nada quis ensinar definitivamente. Seu magistério foi o de que não há magistério definitivo e certo. Todo magistério seria interpretativo.
Como pretender então que esse Concílio tenha sido infalível? Como pretender que ele tenha uma interpretação correta definitiva?
A terceira posição -- (“terceira empresa”) -- vai repelir também o princípio da hermenêutica fenomenológica, que afirma que todas as leituras de algo, ou de algum texto, são possíveis, todas sendo verdadeiras, e nenhuma leitura podendo ser condenada.
Mas a terceira posição, a terceira “empresa”, vai repelir e condenar uma das leituras –a do “Espírito do Vaticano II” -- que anima a quarta posição dos demolidores-construtores de uma igreja absolutamente nova sem qualquer ligação com a Igreja Católica de sempre.
Com efeito, em seu Discurso à Cúria de 22 de Dezembro de 2005, Bento XVI condenou a leitura dos textos do Vaticano Ii segundo o chamado “espírito do Vaticano II”.
Ora, fazer isso, é condenar o próprio princípio da hermenêutica fenomenológica do Vaticano II, para a qual todas as leituras de um texto são válidas, todas são possíveis, todas são incompletas, nenhuma tem a posse da verdade exclusivamente.
Mas então, como Bento XVI condenou a interpretação do “espírito do Concílio”?
Então tinham razão os tradicionalistas dizendo que é ilícita a livre interpretação de um texto, e que a doutrina católica deve ser exposta objetivamente sem possibilidade de leituras subjetivas, sem relativismos.
Essa é a profunda contradição dos que defendem uma leitura literal do Concilio em harmonia com a Tradição, com a Teologia fixa da Igreja de sempre.
Condenado a leitura do Vaticano II conforme o seu “espírito”, conscientemente ou não, Bento XVI condenou a doutrina e a terminologia fenomenológicas do Vaticano II. Ele, no fundo, como reconhece o site modernista Golias, disfarçadamente está dando a vitória aos tradicionalistas tridentinos. E é por isso que os Bispos Modernistas franceses ameaçam se revoltar.
Para explicar a mudança de alguns dos antigos demolidores da Igreja Católica, em reconstrutores de uma “Igreja tradicionalista-conciliar”, Padre Libânio executa uma acrobática explicação “dialética”...
Vejamos o texto no qual Padre Libânio constata a restrição-- se não a negação -- do processo hermenêutico e dialético da nova teologia adotada pelo Vaticano II e abandonada pelos líderes da terceira posição, face aos textos do Concílio. Dissemos restrição, se não negação, mas não explicação, da confusão dialética hermenêutica elaborada por Padre Libânio:
"Nesse ponto, aparece o rasgo fundamental dessa posição. Pois estabelece um momento em que o processo hermenêutico e dialético do conhecimento se estaciona. Mostra-se avesso a uma teologia crítica que nunca se contenta com o ponto em que se está e sempre se entrega a novas reinterpretações. Tal posição restringe, se é que não nega, a verdadeira tarefa hermenêutica e dialética da teologia”(Padre J.B. Libânio, op. cit., p. 141. O destaque é nosso).
Padre Libânio não explica a causa dessa nova atitude por parte de um grupo dos antigos demolidores.
Por que se detiveram eles no plano de destruição da Igreja?
Por que decidiram eles fazer do Vaticano II, não mais uma plataforma de lançamento, e sim ponto final de chegada do processo dialético?
Por que abandonaram eles o processo dialético normal, recusando a antítese da tríade dialética? Por que resolveram fazer uma estranha síntese da síntese própria síntese final com a posição tridentina (a tese)?
Porque, contra toda a doutrina da hermenêutica fenomenológica, decidiram eles condenar uma leitura do Vaticano II? Por que aceitaram, contra a doutrina da hermenêutica fenomenológica, que haveria uma leitura certa do Vaticano II: a da letra?
Dizer que foi apenas por cansaço do carnaval de reformas é bem pouco.
Por que alguns demolidores se cansaram do carnaval de experiências, e outros não?
O fato nos parece continuar sem explicação pela teoria naturalista de Padre Libânio.
Eis então a bem manquitola explicação de Padre Libânio sobre aqueles que defendem a leitura da letra do Vaticano II, tentando fazer uma igreja de tipo tridentino, síntese da letra do Vaticano II com a tradição católica de sempre. Bem estranha síntese essa que repele um dos pólos –o da antítese – e pretende fazer uma síntese nova entre o pólo da tese com a própria síntese final, mas sem que no jogo dialético entre a antítese nessa novíssima receita hegeliana.
Confusão total! Confusão que nem as brumas do mais delirante e nevoento idealismo dialético jamais fizeram prever.
Confusão que só pode existir perambulando em meio à fumaça de satanás.
A mesma confusão se dá com a hermenêutica.
A terceira posição faria uma hermenêutica nova também, pois que, para a Fenomenologia adotada pelos redatores do Vaticano II, toda leitura é lícita, toda leitura de um texto é, ao mesmo tempo, correta e incompleta, e, por isso mesmo, nenhuma leitura poderia ser condenada.
Mas Bento XVI, o Papa que está pondo fim ao “carnaval de experiências” condenou a leitura do “Espírito do Vaticano II”, e pretende vir a dar uma leitura correta do Concílio, que, segundo ele, não teve feita ainda a sua “recepção hermenêutica” correta e aprovada.
Ora, essa formulação traz implícita a condenação da hermenêutica fenomenológica, para a qual não pode haver uma leitura correta e nem nenhuma leitura condenada. E Bento XVI, condenando uma das leituras do Vaticano II, condenou então o próprio princípio fenomenológico das leituras possíveis.
Contradição realmente fenomenal, se não fenomenológica!
Claro que se poderiam aventar algumas hipóteses, fora do estranho e imaginário sistema doutrinário fenomenológico ou dialético de Padre Libânio, para a atitude nova assumida pelos que pretenderiam construir uma Igreja com a planta antiga mais os textos literais do Vaticano II, harmonizados com a tradição
1 - Os líderes da terceira posição teriam assumido essa posição anti-dialética e anti-hermenêutica por política: vendo o fracasso do Vaticano II ante a massa dos fiéis católicos que abandonam a Igreja, eles teriam recuado, para manter o controle dessas massas.
Essa hipótese parece inadequada, pois se visavam exatamente a demolição da Igreja, para que pretender continuar controlando as massas fiéis que, desertando da Igreja, aceleravam o processo de destruição que eles desejavam?
2 - O recuo doutrinário teria sido necessário para impedir que as massas dos fiéis católicos se dirigissem para os grupos tradicionalistas, dando-lhes o triunfo e aniquilando o Vaticano II. O recuo doutrinário, negando até princípios da dialética e da hermenêutica fenomenológica teria se tornado necessário, para salvar o que fosse possível do Vaticano II. O recuo seria então uma tática para enganar os fiéis tradicionalistas oferecendo-lhes uma falsa solução.
Um recuo tal que renuncia até aos princípios da dialética e da Fenomenologia seria de fato um suicídio. Não seria um recuo tático, mas, no fundo, uma capitulação.
E para que recuar a ponto de ressuscitar a Missa de sempre, que Satanás queria destruir a qualquer preço? Recuar, entregando a fortaleza, é renunciar à vitória e aceitar perder a batalha.
Eis uma citação curiosa e bem importante do Padre Barthe sobre as conseqüências da ação do Cardeal Ratzinger, observação que pode ser aplicada ao que está fazendo agora também Bento XVI:
“O ratzinguerismo procura alguma coisa como uma síntese das posições confrontantes com uma relativização da posição “ progressista”, conservando, ao mesmo tempo, uma parte de suas contribuições. Isto vale para a liturgia, e nos projetos de reforma da reforma. Tive a ocasião de dizer que esta tentativa de ultrapassagem positiva era paralela àquela que Joseph Ratzinger, Ignace de la Potterie, Henri de Lubac, Balthasar,conduziram contra o historicismo da crítica bíblica racionalista: a herança da crítica bíblica não é rejeitada, mas relativizada e integrada numa concepção mais vasta da inspiração. Se este processo se confirmasse, ele teria a vantagem de provocar uma espécie de desequilíbrio do edifício ideológico conciliar (não digo de todo o Concílio em todos os seus textos, eu digo no Concílio como ideologia) (Padre Barthe, http://rendez-vous.leforumcatholique.org/message.php?id=12&num=1596. Os destaques são meus).
[“ Le ratzinguérisme cherche quelque chose comme une synthèse des positions affrontées, avec une relativisation de la position «progressiste» tout en conservant une part de ses apports. Cela vaut en liturgie, dans les projets de réforme de la réforme . J'ai eu l'occasion de dire que cette tentative de franchissement positif était parallèle à celle que Joseph Ratzinger, Ignace de la Potterie, Henri de Lubac, Balthasar, ont menée contre l'historicisme de la critique biblique rationaliste: l'héritage de la critique biblique n'est pas rejeté, mais relativisé et intégré dans une conception plus vaste de l'inspiration. Si ce processus se confirmait, il aurait l'avantage de provoquer une espèce de déséquilibre de l'édifice idéologique conciliaire (je ne dis pas de tout le Concile en tous ses textes, je dis du Concile comme idéologie).
Isto significa que a ação de Bento XVI, segundo Padre Barthe, sem julgar de sua intenção que só Deus conhece, causará um desmoronamento do sistema filosófico do Vaticano II. Consideramos bem fundada essa perspectiva.
3 - A vida da Igreja exige uma ação contínua da Providência e uma assistência permanente do Espírito Santo, sustentando a Igreja contra as insidias e ataques do demônio. Não foi ociosa a revelação de Cristo de que assistiria à sua Igreja todos os dias. Essa assistência contínua do Espírito Santo à Igreja, impedindo que as portas do inferno triunfem sobre Ela, seria especialmente necessária na imensa crise da Igreja em nossos dias, crise jamais igualada na História.
Se nem um fio de cabelo cai da cabeça dos homens sem a permissão de Deus, como imaginar que numa crise tão profunda e tão universal como a atual, Deus esteja ausente?
Como permitiria Deus a negação do Papado, cabeça da Igreja, pela colegialidade conciliar, Aquele que não permite cair um cabelo de nossas miseráveis cabeças, sem que Ele o queira?
A graça de Deus, que a ninguém falta, faltaria à Igreja, e aos Papas, chefes da Igreja, nessa hora terrível?
Claro que não.
A graça de Deus pode muito bem fazer, de pedras, filhos de Abraão.
Assim como Deus converteu Saulo, na estrada de Damasco, assim como permitiu que Constantino desse liberdade à Igreja – e Saulo era inimigo feroz de Cristo e dos cristãos, e Constantino não se converteu ao cristianismo, só deu liberdade aos cristãos – assim Deus poderia muito bem, nessa hora de suprema tragédia do Concílio Vaticano II, converter alguém, e fazer com que esse alguém providencialmente salve a Igreja da destruição, ainda que não tenha uma intenção explícita no que faz.
Essa é uma hipótese que Padre Libânio absolutamente não considera, porque ele não tem fé.
Claro que admitir essa possibilidade não significa dar declaração de canonização ou de conversão aos líderes que estão atualmente freando a ação dos demolidores da Igreja.
Em concreto, para falar claro, essa hipótese não significa que consideremos que Bento XVI seja santo como São Paulo. Nem mesmo significa que seja ele, agora, movido por Deus em tudo o que faz, que esteja consciente disso, e que seja ele o salvador da Igreja, o Papa que Dom Bosco viu trazendo o navio da Igreja de volta às colunas da Hóstia e de Nossa Senhora.
O processo pode ser longo. E no mistério da ação providencial, Bento XVI poderá ter apenas uma participação parcial. Pode ser apenas o Papa que dá início a esse processo de retorno. Mas fica cada vez mais difícil negar que está havendo um processo de retorno.
Posição semelhante defendeu o Padre Barthe, dizendo:
“Bento XVI é particularmente tenaz, para não dizer teimoso em seus projetos.Será ele ou seu sucessor, o homem dos grandes enfrentamentos no interior da Igreja, última e inevitável conseqüência da época do Vaticano II?” ["Benoît XVI est particulièrement tenace, pour ne pas dire têtu dans ses projets. Sera-t-il, lui ou son successeur, l'homme des grands affrontements à l'intérieur de l'Église, ultime et inévitable conséquence de l'époque de Vatican II ?"] [Padre Barthe, http://rendez-vous.leforumcatholique.org/message.php?id=12&num=1636]
E um retorno desse tipo não se faz sem uma graça extraordinária.
Essa possibilidade da ação da graça em algumas pessoas levando-as, senão à conversão plena, pelo menos a uma mudança, para quem tem fé católica, não pode ser simplesmente descartada, mesmo que se esteja atento a bem possíveis manobras políticas de semi-modernistas falsamente “convertidos”.
IV – A Ação dos Demolidores Conseqüentes Visando a Construção de uma Igreja Totalmente Nova.
Os elementos propugnadores desta posição são exatamente aqueles que Bento XVI condenou em seu Discurso à Cúria em 22 de Dezembro de 2005, como seguidores do que se costumou chamar de “Espírito do Concilio”, e que Bento XVI designou como defensores de uma hermenêutica do Vaticano II em ruptura com a Fé católica.
Em geral, compõem este grupo os discípulos dos Demolidores, atuando agora me fase de nova imaginária construção. São os seguidores da Teologia da Libertação, e Padre Libânio com seu primo, o castrista semi-frei Betto, faz parte desta corrente, junto com o famigerado ex frei Boff, e os Bispos marxistas da CNBB.
No mundo, os Cardeais Martini, Daneels, O´ Connor, Kasper, Lehman, Arns são os grandes demolidores e os grandes pedreiros construtores da Nova Igreja da Babel relativista.
Para os defensores desta quarta posição, como vimos, o Vaticano II é o começo de uma total revolução religiosa. Eles o vêem como uma plataforma de lançamento, e não como ponto final de um trajeto.
Seria “ponto de referência insuperável no sentido do passado. Não se pode prescindir dele, nem recuar a alguma posição anterior a ele. (...) O Concílio não encerrou a história nem da doutrina, nem da prática litúrgica, nem da concepção disciplinar da Igreja. O Vaticano II não e estacionamento, mas plataforma de lançamento”. “Em termos mais técnicos. Necessitamos de uma identidade católica, mas dialética, histórica, dinâmica. Sempre em construção. Não como dado fixo, codificado de modo imutável. E ela se constrói pela via do compromisso e do pluralismo”. (Padre J.B. Libânio, op. cit., p.159).
O que Padre Libânio quer é uma igreja fumaça. Uma igreja sem forma. Ele quer a Igreja espiritual da Gnose.
“A articulação entre “pluralismo” e “compromisso” constitui a originalidade dessa identidade” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p.160), dessa Nova Igreja.
“A via do pluralismo quer salvaguardar seja a liberdade crítica da teologia liberal, como a situação concreta das camadas populares, que podem estar bem alheias a esse tipo de criticidade” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p.160).
Para Padre Libânio, “o pluralismo não exclui o mútuo questionamento das posições dentro de uma grande unidade, que não é neutra nem “pluralista” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p.160).
A via do compromisso é ”social, libertário” (Padre J.B. Libânio, op. cit., p.161). Visa a revolução social marxista.
E não cremos que se deva perder mais tempo com o resumo da posição da já bem conhecida Teologia da Libertação..
“Non raggionam di loro...”.
O que nos importa neste artigo é salientar como os teólogos defensores do “Espírito do Vaticano II” são francos. Eles confessam abertamente que visam destruir a Igreja Católica. Como eles confessam abertamente que é no Vaticano II que nasceu, e que foi aplicando o vaticano II, que foi realizado esse trabalho de desmoronamento e de destruição da Igreja Católica. E como eles declaram, sem pejo, que foi a adoção da linguagem e da filosofia moderna, fenomenológica e dialética, que possibilitou essa destruição da Igreja com base no pastoral e fenomenológico Vaticano II.
*****
O advento de Bento XVI – diria Padre Libânio — fez o líder da terceira posição: Joseph Ratzinger assumir o posto mor da Igreja.
E Bento XVI se apressou em condenar a leitura dos textos do Concilio segundo o “Espírito do Vaticano II”. Desse modo, de fato, o Papa Bento XVI condenou a interpretação fenomenológica do Vaticano II.
Agora, se anuncia que ele vai reformar a Missa Nova e dar liberdade plena à Missa de sempre.
Ora, Paulo VI dizia que liberar a Missa de sempre seria condenar simbolicamente o Vaticano II...
Agora, se anuncia ainda que Bento XVI se apresta para anular a excomunhão de Dom Lefebvre e de Dom Mayer.
Estas medidas, se se efetivarem, atenderão as condições postas pela FSSPX para iniciar o debate sobre o Vaticano II com a Santa Sé.
Tomara que isso aconteça.
Mais.
Em Setembro de 2006, Bento XVI decretou a criação do Instituto Bom Pastor, com duas finalidades: rezar apenas a Missa de sempre e criticar o Vaticano II.
Como disse bem o Padre Claude Barthe, pessoa muito envolvida em toda esse delicado relacionamento Vaticano–FSSPX--Instituto Bom Pastor e etc, o Vaticano antes exigia que se aceitasse o Concílio Vaticano II e a Missa nova, para dar licença de se celebrar a Missa de sempre. Depois deixou de se exigir essa duas condições, pedindo apenas que não se fizesse polêmica pública sobre o Concílio. Bento XVI condenou então a leitura dos textos conciliares segundo o “Espírito do Concílio”. A seguir, se permitiu que se fizesse “critica construtiva” ao texto do Vaticano II... Isso caminha para a crítica direta, e para a superação do Vaticano II como Concílio meramente pastoral – nunca infalível -- que introduziu graves erros na Igreja, propiciando a sua demolição sistemática, conforme confessa Padre Libânio.
Nestes dias, o Cardeal Biffi, falando a Bento XVI e à Cúria Romana, no retiro da Quaresma, ousou citar o texto de Soloviev sobre um Concílio do Anticristo que se realizaria nas últimas décadas do século XX, e que defenderia o ecumenismo, o pacifismo e a ecologia...
Jamais se havia feito uma insinuação tão grave como essa, ligando o Concilio Vaticano II e o Anticristo...
Vivemos dias históricos...
Dias em que Deus atua direta e providencialmente na História.
Rezemos!
E combatamos!
São Paulo, 23 de fevereiro de 2007.
Orlando Fedeli
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