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Formação Católica

11 abril 2016

SÃO FRANCISCO DE SALES E O LATIM NA MISSA



São Francisco de Sales e o Latim na Missa

Não é incomum que os católicos de hoje pensem ser um absurdo rezar a Missa em Latim. Comumente, pensam ser uma nostalgia, algum apego sentimental qualquer ao passado, como se essa fosse uma questão de pouca importância, da qual a Igreja poderia abrir mão para se adaptar aos tempos. Todavia, a questão do Latim na Igreja não está relacionada ao tempo. Nem ao lugar. Nesta questão, como nas outras, não é a Igreja que deve se adaptar ao homem, mas o homem que deve se adaptar à Igreja O que fundamenta a utilização do Latim na Igreja são aspectos doutrinários, que contribuem, portanto, para a santificação dos próprios fiéis. E não são fundamentos elaborados nesses tempos recentes em que o latim anda tão esquecido, neste momento de crise intensa.

Os argumentos, a favor do uso do latim na Missa, são excelentes, mas são, em larga medida, rejeitados. Convém, então, dar uma autoridade inquestionável a tais argumentos. São os próprios santos que defendem arduamente a utilização do latim na Missa. Entre eles, destaca-se São Francisco de Sales, que refutou cada ponto dos protestantes em uma série de panfletos, reconvertendo, praticamente, todos os 72.000 habitantes de uma cidadezinha - Chablais - que tinha caído no protestantismo. Esses panfletos estão compilados em um livro denominado A Controvérsia Católica. Entre esses pontos está, obviamente, a pretensão protestante de difundir
indiscrminadamente a língua vernácula para a Sagrada Escritura e para a Liturgia. Os argumentos expostos a seguir são, em linhas gerais, os argumentos desse grande Santo para defender as Sagradas Escrituras e a Liturgia em latim.

1. Está aí o primeiro argumento contra o uso do vernáculo: evitar o julgamento privado das coisas que devem ser julgadas e estabelecidas pela autoridade da Igreja. O considerável sucesso da língua vernácula, naquela época, e o estrondoso sucesso de hoje, deve-se, antes de tudo, à curiosidade dos homens e ao tanto que cada um estima o seu próprio julgamento. Assim, o uso indiscriminado da língua vulgar implica que cada um é capaz de entender por si mesmo a liturgia e a Bíblia e de julgá-las. Muito mais importante do que ler as letras é a pregação do Padre, em que a Palavra de Deus não somente é pronunciada, mas também explicada (infelizmente,hoje, poucos Padres sabem explicar a Palavra de Deus).

2. Segundo argumento: evitar alteração dos textos que decorre das inúmeras traduções. A Sagrada Escritura e o texto da Missa, passando por tantos tradutores, versões e mais versões, terminam sendo, sem dúvida alterados, assim como o metal que passa de mão e mão perde o seu brilho. Ao contrário do que se pensa, havia já traduções da Bíblia antes de Lutero, mas eram traduções autorizadas pelos Ordinários locais, com a maior precisão possível, e não uma tradução livre e desregulada, em massa, que só podia levar a imprecisões.

3. Terceiro argumento: a língua de culto é diferente da língua vulgar, para deixar claro que o ato é para Deus e se refere a Ele.em que Pilatos mandou pregar na cruz de Nosso Senhor o motivo de sua condenação: Jesus Nazareno Rei dos Judeus. Foram as três línguas escolhidas para pregar o Crucificado. Os Judeus recitavam os Salmos em Hebraico e não em aramaico, a língua vulgar, o que se depreende de algumas palavras citadas no Evangelho de Nosso Senhor, como Hosanna, por exemplo. Dessa forma, a língua de culto era diferente da língua vulgar, a fim de deixar claro que se tratava das coisas de Deus e não meramente humanas. A Missa sempre incluiu, até a reforma de Paulo VI, três línguas: Latim, Hebraico e Grego. Não são três línguas escolhidas ao acaso. São as três línguas em que foi escrita a condenação de Cristo na cruz.

4. Quarto argumento: uma língua fixa é necessária para manter a integridade e exatidão dos ritos e da Sagrada Escritura. Ninguém pode negar que a língua vulgar está em constante mutação. O português de Os Lusíadas é bem diferente do português de Machado de Assis, que é bem diferente do português que hoje falamos. A língua vulgar não é fixa, muda de localidade para localidade. A variabilidade no tempo e no espaço da língua vulgar é enorme. O que no Nordeste significa algo, em Brasília significa outra coisa. Como fazer? Seria necessária uma revolução a cada década e em cada lugar específico: tirar, acrescentar, mudar. E com isso a precisão vai sendo completamente perdida. O latim é uma língua já morta, portanto fixa, ressuscitada pela Igreja. Que simbologia! Para louvar um Deus morto e ressuscitado, uma língua morta que a Igreja ressuscitou!

5. Quinto argumento: a unidade e catolicidade da Igreja. Nas palavras do próprio Santo: "Em nenhum grau nós que somos Católicos devemos rebaixar nossos ofícios sagrados às línguas vernáculas; mas, ao contrário, como nossa Igreja é universal no tempo e no espaço, ela deve celebrar os ofícios públicos numa língua universal no tempo e no espaço, como no Ocidente é o Latim e no Oriente, o Grego; de outra forma, nossos padres não poderiam rezar Missa nem outros entendê-lo fora dos respectivos países. A unidade e grande extensão de nossos irmãos requer que digamos nossas preces públicas em uma língua comum a todos os povos." (The Catholic Controversy, 128 - tradução nossa - )

O argumento mais comum contra o uso do latim na Santa Missa é de que o povo não entende mais essa língua. Ora, será que o povo entende o vernáculo? Conhece-se a árvore pelos frutos. Quando a Missa era em latim, os fiés seguiam muito mais a lei de Deus. Com a Missa em português, quantos seguem a lei de Deus? Com o latim, o fiel ao menos entendia que a Missa era sobre Deus, tinha noção de que era algo acima de sua natureza, e seguia a vontade de Deus. Com o vernáculo, o fiel perde a noção do sagrado e tende ao naturalismo, fazendo a própria vontade.

Outra coisa que não se entende é porque o homem tão adiantado do nosso século não pode fazer um esforçozinho para aprender o básico do latim ou acompanhar a Missa com um Missal que traga, além do próprio texto em latim, a sua tradução (sempre aprovada e precisa). Será que, por acaso, tem alguma coisa errada com a "evolução"?...

A Missa Nova com o vernáculo e com o Padre voltado para o povo, além de tantas outras coisas, está centrada no homem. Sendo ele o foco, o homem logo fica entediado e cria uma novidade a cada Missa para satisfazer seus apetites: palmas, teatro, dança, cuíca, rock. A Missa Nova está sempre precisando de atualização. A Missa Nova é sempre velha. A Missa Antiga, por outro lado, está centrada totalmente em Deus - o latim, Padre voltado para Deus e todas as orações belíssimas durante o Santo Sacrifício remetem ao Criador -, que é eterno e imutável. A Missa Antiga, então, é sempre jovem. Nunca envelhece porque se refere a Deus, que pode ser contemplado e adorado eternamente sem cansaço, sem fadiga. Ao contrário, com alegria e júbilo infinitos. O latim, língua oficial da Igreja, contribui enormemente para isso.

Por isso que o Padre diz na Missa de Sempre:

Introibo ad altare Dei (Subirei ao altar de Deus)

E os fiéis respondem:

Ad Deum qui lætificat juventutem meam. (Do Deus que alegra a minha juventude).

Por: Daniel Pinheiro - "São Francisco de Sales e o Latim na Missa"

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