Bendito seja Deus nos seus mártires. Homens e mulheres santas que com o socorro e os auxílios da Divina Graça, livremente se oferecem como vitimas de amor para o nosso bom Deus.
Hoje, nós que aqui padecemos neste exílio, recordamos e veneramos seus grandiosos feitos e atos heroicos, bem como as suas belas virtudes. Assim sendo, suplicantes nos dirigimos a eles com confiança, rogando que por todo o amor que dedicaram a Deus em suas vidas, que lembrem-se e intercedam por nós em sua glória, para que em nossas lutas diárias sejam eles mesmos a nos animar e que todos os dias combatamos o bom combate com coragem, confiança e esperança, afim de oferecermos também nós as nossas vidas por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo e a sua Santa Igreja Católica.
O Martírio é algo necessário para todo o Católico. Em todos os dias devemos tomar nossa cruz, abraça-la amorosamente, e seguir a Nosso Senhor que nos precede no Calvário. “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.” São Mateus XVI, 24.
São tantos e tão gloriosos os santos mártires que ao longo de toda a história da Santa Igreja orvalharam a terra com seu próprio sangue, tornando-a verdadeiramente fecunda. Este sangue, tendo sido penetrado em terra fértil tornou-se então semente de novos cristãos. E o que somos nós os cristãos de hoje senão sementes dos Santos Mártires!? Somos nós a sua descendência a sua glória e sua coroa no Céu.
Mas nem todos são chamados ao crudelíssimo martírio de sangue, a maioria no entanto deve receber aquele martírio que é o mais comum, que é o do Coração. Quem o conhece sabe bem o quanto é também este martírio doloroso, tão angustiante e heroico quanto o derramar todo seu sangue por Nosso Senhor diante dos verdugos em um patíbulo ou nas arenas romanas nos dias de perseguição à Santa Fé.
Esta espécie de martírio perdura por toda a vida do Católico, quando em todos os dias de sua existência neste vale de lágrimas, renunciam a sua vida, o seu amor próprio, seus sentimentos e suas vontades, para que Cristo Jesus seja neles à sua própria vida. "Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim" São Paulo aos Gálatas, II-20, Pois tem bem fixadas em seus corações de mártires, as palavras de seu adorável Senhor; " aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-la-á." São Mateus XVI, 16,25
O martírio dos corações é também o martírio do grande silêncio, pois que é interior e deve ser desconhecido de todos os homens, e que serve unicamente a Glória de Deus que nos vê praticar as virtudes ocultamente, de modo sempre velado e assim nos abençoa com sua graça dando a nós a recompensa prometida. Este mártirio não traz a morte física à sua vítima, embora cause nela tanto sofrimento quanto uma espada metida na carne e aí esquecida. Esta espada não causa à morte mas frequentemente os atormenta com dores lancinantes.
O coração martirizado sofre em silêncio, em seu interior, oculto sob os esforços heroicos de suas vitimas que rogam a Deus que não permita que seus sofrimentos e sentimentos transpareçam aos meros mortais, pois que estes sofrimentos são exclusivamente oferecidos e sofridos por amor a Deus, tudo por Ele, para Ele, por seu amor e para sua maior glória,
Eis que o martírio do coração é o martírio destinado as almas pequeninas, de vida comum e inglória diante do mundo. “o mundo não nos conhece, porque não o conheceu." I São João III, 1. “Toda a glória da Filha do Rei está no interior” (Sl XLIV, 14).
São estes mártires os santos da dissimulação. Por dentro podem estar quebrados, entretanto em seu exterior procuram viver como se não se sofresse absolutamente nada.
Como isto pode ocorrer, como é possível estar gravemente ferido e ainda permanecer de pé? São Paulo em sua II Carta aos Coríntios Capítulo XII, versículo VII nos diz como: “...foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para me esbofetear e me livrar do perigo da vaidade. Três vezes roguei ao Senhor que o apartasse de mim. Mas Ele me disse: Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força. Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte.”
Sim, é Cristo Nosso Senhor que sustenta as nossas vidas e as nossas almas abatidas, e que é a nossa fortaleza diante da fraquezas e misérias humanas.
Ofereçamos a Nosso Senhor todos os dias os nossos corações, O imitemos e nos dirijamos a Ele dizendo: “Minha alma está triste até a morte, Ficai aqui e vigiai comigo.” (...) "Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres. (...), “Meu Pai, se não é possível que este cálice passe sem que eu o beba, faça-se a tua vontade!”.
Sim meu Senhor e meu Deus, quero tão somente o seu querer, me abandono totalmente a Vossa Santíssima Vontade, se queres que eu sofra por vós assim como Vós também sofrestes por mim, eis me aqui meu bom Jesus, ardentemente desejo sofrer tudo por amor de Vós. Só Vos peço que me sustente todos os dias com vossa graça e me conceda o favor da impossibilidade total de vos ofender, pois antes disso quero sofrer e morrer.
Tomai Senhor todo o meu coração a vós, todos os afetos e sentimentos desordenados e seja Vós mesmo o meu sentir e o meu agir, “Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço.” São Paulo aos Romanos, VII, 19.
Eis aqui Senhor meu pobre coração, golpeado e ferido tantas vezes por flechas agudas e invisíveis que atravessam a carne sem danificá-la, atingindo em cheio este que é o meu ponto mais fraco e mais forte de meu ser. É o meu ponto fraco meu adorável Jesus, pois que sente o que não lhe é permitido sentir e que quer agir como não lhe é permitido agir, mas que com vossa Divina presença senhor, torna-se o ponto mais forte do meu ser, por que não obstante o meu sentir desordenado ao qual o meu coração está à mercê, à Vossa Divina presença tudo cura e ordena, acalmando o debater descompassado de seu ritmo, tornando-o sereno, ainda que continue a viver todos os dias angustiado.
Meu coração Senhor é feito aquela barca agitada pelos ventos e tempestades do mar da Galileia, temo que afunde neste mar escuro e agitado, mas o Senhor meu Deus está comigo, e se levanta no momento em que mais necessito de seu socorro, quando a mim falta coragem e a fé e aflito lhe digo "Senhor não importa que eu pereça" ? Cf. São Marcos IV,38. O meu bom Jesus se levanta, acalma a tormenta e me restitui a paz.
Mistérios insondáveis do amor de Deus, como pode-se sofrer tanto, amando? Como pode-se estar tão angustiado e ao mesmo tempo sentir-se tão livre e sossegado? Em verdade meu Senhor, Vos digo que nem mais desejo estar livre de sofrimento algum, pois que o sofrer convosco é o que faz as delícias das almas cristãs. Sim Senhor, agora entendo bem quando diz; "meu jugo é suave e meu peso é leve” São Mateus XI, 30.
Só Vós Senhor sois a paz de minha alma, "tudo mais é vaidade é vento que passa," (Cf Ecle I,14), "Tudo passa, Deus não muda, a paciência tudo alcança; Quem a Deus tem, nada lhe falta: Só Deus basta. (Santa Teresa D'Ávila, Nada te perturbe).
Rogo também a vós minha soberana Rainha, Mãe do meu Senhor e minha tão boa Senhora. Vós minha Mãe admirável, cujo Coração Imaculado foi transpassado por um gládio de dor, e que criatura alguma jamais sofreu dor semelhante à Vossa, tende pena do meu pobre e miserável coração que nada pode suportar por ele mesmo.
Rogai ao vosso adorável Filho por mim, suplicando a Ele que por esta espada de dor que transpassou seu Imaculado Coração de Mãe, seja me concedida as graças que tanto preciso para sofrer todos os dias de minha vida até o fim, e que eu mereça por vossa intercessão obter no Céu a gloriosa coroa dos Mártires do Coração Imaculado de Maria.
E que possa eu cantar todos os dias de minha vida;
"O meu Coração é só de Jesus, e a minha alegria é a Santa Cruz. Nada mais desejo nem quero senão, que viva Jesus, no meu coração... que viva Jesus, no meu coração".
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