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Formação Católica

09 setembro 2016

SEDE DAS ALMAS - SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS E DA SAGRADA FACE

Passarei o meu céu fazendo o bem sobre a terra
Sede das almas

Teresa já não era mais aquela menina fraca e extremamente sensível a chorar por ninharias. Agora forte, generosa, encetava decidida, nova fase da existência no proposito firme de se santificar e crescer no amor de Jesus Cristo.

Os golpes de provações, bem duros, a fortificaram para a luta. Aos quatorze anos, quando toda menina se enche de ilusões, já compreendia ela quão efêmeras são as glórias terrenas e que tudo no mundo é vaidade, exceto amar e servir a Deus. Sentia um desejo ardentíssimo de salvar almas, converter os pecadores, elevar ao amor de Deus muitos corações. "Um domingo", escreve ela, "ao fechar o meu livro de rezas, no fim da missa, acertou ficar um pouco fora das páginas uma fotografia que representava Nosso Senhor na cruz, deixando aparecer apenas uma das mãos divinas transpassadas e a verter sangue. Sentia-me então possuída de um sentimento novo e inefável. A vista daquele sangue precioso que rolava para o chão sem que ninguém procurasse recolhê-lo, partiu-se de dor meu coração, e tomei a resolução de permanecer continuamente em espírito ao pé da cruz, para receber o divino orvalho da salvação e derramá-lo depois sobre as almas. Daquele dia em diante o brado de Jesus moribundo: "Tenho sede!" ecoava incessantemente no meu coração, para nele despertar um ardor vivíssimo até então desconhecido. Queria dar de beber ao meu Amado Salvador; senti-me eu também devorada pela sede das almas, e a preço de qualquer sacrifício ambicionava livrar os pecadores das chamas eternas.

Os pobrezinhos e os criados.

Teresa se volta cheia de carinho e atenções para os pobres e os criados. Exercita o zelo e a bondade do seu coração. No período que vai da saída do Colégio da Abadia à entrada do Carmelo, entregou-se generosamente a inúmeras práticas de caridade e zelo.

Leônia, mais tarde a visitandina, Soror Francisca Teresa, depôs no Processo da Canonização o seguinte: "Nesta época, Teresa, permanecendo constantemente em casa, foi na verdade a alegria da família. Até os criados lhe queriam muito, porque tudo na pessoa dela respirava paz, bondade e condescendência. Esquecia-se sempre de si mesma para agradar a todos. O seu caráter inalterável era tão simples e parecia tão natural, que ter-se-ia dito que nada lhe custava nessas renúncias perpétuas.

Era referindo-se a esta época que mais tarde Teresa devia dizer no Carmelo a uma das irmãs: "Tinha dó dos empregados". Ao verificar a diferença que existe entre criados e patrões dizia consigo mesma: "Como isto prova bem a existência do céu onde cada qual será colocado segundo o mérito interior! Como os pobres e os humildes serão bem compensados das humilhações que tiveram sofrido neste mundo!"

Depois da família, os pobres. Quando, em todas as segundas-feiras, estes se apresentavam à porta do jardim, apreciavam sem dúvida o pedaço de pão alvo que Teresa lhe oferecia, mas muito mais ainda o sorriso da criança e o gesto de proteção para acalmar os latidos de Tom, o fiel cão de vigia, naturalmente temível para os mendigos. Na cidade, onde acompanhava o pai com mais frequência do que outrora, era quase em cada esquina de rua um apelo a bolsa do Senhor Martin a favor dos miseráveis, abrigados debaixo dos alpendres.

Catequista

No desejo de salvar almas, Teresa, acompanhada de uma criada dos Buissonnets, saía a procurar os pobrezinhos dos arredores e entrava nas mansardas humildes.

Acariciava os pequeninos e deixava um sorriso, um gesto de bondade em cada família. Encontrou certa vez uma infeliz mãe enferma e com duas filhas, em miséria extrema. Teresinha tomou a si o cuidado e o sustento dos pequenos, e nos jardins dos Buissonnets instruía pacientemente as meninas. Na História de uma alma descreve:

"Nosso Senhor me proporcionou a consolação de conhecer de perto almas de crianças, e quero contar-lhe em que circunstância; durante a doença de uma pobre mãe de família, muito me interessava pelas suas duas filhinhas, a mais velha das quais não teria ainda seis anos. Que satisfação para mim o ver a candura com que essas pequenininhas prestavam fé a tudo quanto lhes ensinava! É mister reconhecer que o Santo Batismo lança bem fundo nas almas o germe das virtudes teologais, pois que logo desde a infância basta a esperança dos bens futuros para fazer aceitar sacrifícios. Quando queria estreitar os laços da boa harmonia nessas duas amiguinhas, em vez de lhes prometer brinquedos e docinhos, falava-lhes nas recompensa eternas que Jesus dará as crianças boazinhas. A mais velha, cuja razão começava a desenvolver-se, olhava para mim com expressão de vivo júbilo, fazendo-me um sem número de perguntas encantadoras a respeito do Menino Jesus e do seu belo céu. Prometia-me em seguida, num arranco de entusiasmo, que havia sempre de ceder à sua irmãzinha, acrescentando que nunca mais, enquanto vivesse, esqueceria das lições da "Grande Senhorita" como ela me chamava.

Pranzini

Teresa abrasada no Divino Amor tinha sede de alma. Quisera converter e salvar todos os pecadores. O seu "primogênito" para o céu foi um dos maiores e mais terríveis bandidos e assassinos da época - chamava-se Pranzini. O "Padre Carbonel"dá-nos alguns pormenores deste homem perigoso.

Nascera em Alexandria, no Egito, e foi educado muito cristãmente pela sua piedosa mãe. Estudou com brilhantes resultados, tanto assim que falava corretamente nada menos de oito línguas, o que lhe valeu em lugar de intérprete em diversos navios.

Infelizmente, não tardou o dia em que abandonou de vez a vida honesta e, com a honestidade, foi-se todo o bem-estar que obtivera pelo trabalho.

Desembarcou na França, e seguiu rumo de Paris, numa época em que se achava reduzido à maior miséria. A falta de recursos lançava-o de dia para dia em maiores apertos, de sorte que se atreveu a assassinar três pessoas, entre as quais se achava uma menina de onze anos para ver se conseguia livrar-se de tantos apuros.

Esse crime horroroso abalou a França inteira e, por toda a parte andava a polícia a caça do criminoso. Deram com ele em Marselha, no momento em que ia embarcar para Alexandria. Foi preso e conduzido a Paris.

No cárcere passava horas do dia a traduzir livros maus para várias línguas. Teimava em negar o seu crime e, se admitia o capelão, era quando muito e só a título de distração, na esperança de receber dele um pouco de fumo.

É digno de nota que o infeliz venerava ainda Nossa Senhora. No dia da Assunção pediu licença para assistir a Missa, revelando que, até no meio dos seus desvarios, havia continuado a entrar nas Igrejas, com o fim de saudar a Virgem Santíssima, e que outrora se ufanava de conduzir o estandarte de Maria nas procissões que percorriam as ruas de Alexandria. Foi esta a sua única confidência. Na manhã do dia aprazado para a execução, recusava ainda o ministério do sacerdote, amaldiçoava os que o condenavam, jurando que era inocente.

O cinismo do famoso Pranzini era célebre em toda a parte. Conta-se até que pediu que, depois da sua morte, se retalhassem a pele para fazer bolsas. Todos se inclinavam, portanto, a crer que morreria impenitente, quando esta história horrenda chegou aos ouvidos da nossa querida santinha.



Súplica

A história horrível deste mostro chegou aos ouvidos de Teresa. E a menina abrasada em zelo pela conversão dos pecadores, ousou pedir a Jesus a conversão do criminoso.

Teresa ouviu falar de um grande criminoso por nome Pranzini, diz ela, condenado a morte por homicídios horrendos e cuja impenitência fazia recear seriamente da sua eterna condenação. Apostada a impedir esta última e irremediável desgraça, socorreu-se de todos os meios espirituais ao seu alcance, e convencida de que nada podia obter por si mesma, ofereceu pelo seu resgate os Infinitos Merecimentos de Nosso Senhor e os Tesouros da Santa Igreja.

Dizia ela: Devo confessá-lo? Lá no íntimo do meu coração alimentava a certeza de que seria atendida. Contudo, afim de alentar a minha coragem e para continuar a correr afoitamente à conquista das almas, fiz esta oração: "Meu Deus, certíssima estou de que perdoareis ao infeliz Pranzini, e tal é a minha confiança na vossa infinita misericórdia, que se não se confessar e não der nenhum sinal exterior de contrição, apesar disso acreditarei na sua salvação. Mas é este o meu primeiro pecador; por este motivo e para minha consolação pessoal, peço-vos simplesmente um sinal de seu arrependimento.

Minha súplica foi deferida ao pé da letra!"

A impenitência do cruel Pranzini rende-se diante da sede de salvar almas de uma Santa Menina. 

Condenação e conversão de Pranzini.

A prisão e condenação à morte do famoso bandido abalou toda a França. Os jornais enchiam páginas inteiras de comentários e notícias. A execução estava marcada para o dia 31 de agosto de 1887. O Sr. Martin, na austeridade com que educava as filhas, não lhes permitia a leitura dos jornais diários e nem mesmo a do diário Católico "La Croix".

Ao ver o interesse que a sua Teresinha tomara pela conversão de Pranzini, permitiu-lhe que naqueles dias acompanhasse através do noticiário a condenação de seu infeliz protegido espiritual.

Na madrugada de 31 de agosto, cerca de trinta mil pessoas em Paris se acotovelavam em roda do patíbulo onde ia ser executado o célebre bandido. E o povo em brados pedia a morte de Pranzini e esperava ansioso a hora da execução. Realmente os seus crimes horrendos e o seu cinismo eram de causam justa indignação.

Até o último instante o criminoso se conservava obstinado. Recusava o sacerdote. No derradeiro momento, porém, um minuto antes que lhe cortassem a cabeça, comovido repentinamente como por uma inspiração celeste, exclama:

-Padre, um crucifixo, depressa!

Beija com amor arrependido os pés de Jesus Crucificado e murmura baixinho:

-Pequei!

E o sacerdote levanta a mão e em um longo Sinal da Cruz o absolve. Daí a um instante o gume da justiça decepa-lhe a cabeça. No dia seguinte, 1º de Setembro de 1887, "La Croix" publica as linhas seguintes entre o vasto noticiário desta execução ruidosa: "Depois do despertar do condenado, levam-no à sala do arquivo, onde Deibler e os seus ajudantes esperam a momentos que lho entreguem. Aí cortam-lhe os cabelos, chanfram-lhe os cós da camisa, amarram-no. Às cinco horas menos dois minutos, enquanto os pássaros chilream nas árvores da praça, um murmurio confuso se ergue da multidão, ressoa a voz do comando:

- Calar baionetas! Ouve-se um tilintar de ferros, as laminas brilham e no limiar da prisão, cuja porta se abre, o assassino assoma lívido. O capelão põe-se-lhe na frente para ocultar a máquina sinistra; os ajudantes sustentam-no repele o padre e os carrascos. Ei-lo em frente do cadafalso para cima do qual Deibler o atira com um empurrão . Um ajudante, colocado do outro lado, agarra-lhe na cabeça, pondo-a e mantendo-a pelos cabelos debaixo da lâmina. Antes, porém, que este movimento se produzisse, talvez um relâmpago de arrependimento atravessasse a consciência do criminoso. Pediu ao capelão o crucifixo e beijou-o por três vezes.

E quando o cutelo caiu, quando um dos ajudantes agarrou pela orelha a cabeça decepada, dissemos conosco que, se a justiça humana estava satisfeita, talvez este ósculo derradeiro desarmasse a justiça divina que exige sobretudo o arrependimento" ("La Croix" - 1º de Setembro de 1887).

Ao ler esta notícia, Teresa não pode conter as lágrimas. Fugiu da sala para esconde a comoção profunda. Havia obtido o sinal desejado. E este era bem claro. Pranzini estava salvo! Nunca mais o esqueceu. Sempre que lhe davam algum dinheiro mandava celebrar missas pela alma do seu "primogênito", o primeiro pecador salvo por suas orações e sacrifícios e gerado para a vida da graça!

A vista das chagas Divinas do Redentor, Teresa se abrasa numa sede ardentíssima de almas. Desde aquela conversão, dizia ela, recebi uma graça escolhida, a de uma ambição de salvar almas. Parecia-me ouvir a voz de Jesus a repetir-me baixinho o seu pedido a Samaritana: - "Dá-me de beber!" Era uma súplica de amor. Dava às almas o sangue de Jesus oferecia a Jesus estas mesmas almas orvalhadas pelo sangue do Calvário. E quanto mais dava de beber a Jesus, mais crescia também a sede de minha pobre alma. Sede que me era verdadeira e deliciosa recompensa.
(História de uma alma, C.V.).

Excerto do Livro; Santa Teresinha do Menino Jesus, Monsenhor Ascanio Brandão. Capítulo XIII, páginas 140 à 146.

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