Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face (1873-1897)
Maria Francisca Teresa Martin nasceu em Alençon, França, no dia 2 de janeiro de 1873, cercada de grande afeto e educada pelos pais, Zélia e Luís Martin, segundo sólidos valores cristãos. Foi batizada dois dias depois do nascimento, tendo como madrinha a irmã mais velha, Maria (1860-1940), que depois se tornaria irmã Maria do Sagrado Coração. Teresa era a caçula de cinco irmãs, todas as quais se dedicaram à vida religiosa. Além de Maria, havia Paulina (1861-1951) futuramente, madre Inês de Jesus; Leônia (1863-1941) depois irmã Maria Francisca Teresa; e Celina (1869-1959) mais tarde irmã Genoveva da Sagrada Face.
O casal Martin teve outros quatro filhos, que morreram ainda na infância. Chegou-se a temer que Teresa tivesse o mesmo fim pois, desde o início da vida, a pequena sofria com crises de enterite. Não tendo a Sra. Zélia Martin como alimentar a caçula, confiou-a a uma ama de leite que morava numa aldeia distante cerca de duas horas de Alençon. Ali Teresa permaneceu de março de 1873 a abril de 1874, quando retornou a casa.
Depois desse percalço, Teresa teve uma infância extremamente feliz. Todos os escritos de sua mãe dão conta de que ela era uma criança alegre, esperta, carinhosa e obstinada. E assim permaneceu até os quatro anos, ocasião em que sua mãe morreu de câncer (em 28 de agosto de 1877). Antes desse evento, diz Teresa:
“Tudo me sorria na terra. Deparava com flores a cada passo que desse, e minha boa índole contribuía também para me tornar a vida agradável. Ia, porém, começar um novo período para minha alma. Devia passar pelo cadinho da provação e sofrer desde a minha infância, a fim de que pudesse ser oferecida mais cedo a Jesus. Assim como as flores da primavera começam a germinar debaixo da neve e desabrocham aos primeiros raios de sol, assim também a florinha (…) teve que passar pelo inverno da provação” (Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face. História de uma alma: manuscritos autobiográficos. 2ª. ed., São Paulo: Paulus, 2008. p. 45).
A Santa Família Martin
Santa Teresinha e sua mãe, segundo um quadro de Celina |
Sem a Sra. Martin, cujo sofrimento durante a doença permanecera vivo na mente de Teresa por muitos anos, a caçula da família escolheu a irmã Paulina como sua “segunda mãe”.
Os Buissonnets |
Teresa tinha nove anos quando sua “segunda mãe” entrou para o Carmelo, fato que lhe deixou desolada e que intensificou a dor da ainda não cicatrizada ferida pela perda da mãe. Com esse acontecimento, diz ter compreendido “num instante” o que era a vida: sofrimento e separação contínua. Diz ela: “derramei lágrimas bem amargas, pois ainda não compreendia o gozo do sacrifício” (op. cit., p. 72). No entanto, quando sua doce “mãe” lhe explicou como era a vida no Carmelo, Teresa quis seguir o mesmo caminho, não por Paulina, “mas por Jesus tão somente” (op. cit., p.73). Compreendendo que aquele era um chamado divino, Paulina levou a irmã para visitar a madre priora do Carmelo, Maria de Gonzaga, que acreditou na sinceridade do desejo e na vocação de Teresa, mas advertiu-lhe que seria preciso aguardar até os 16 anos.
Frágil emocional e fisicamente, aos 10 anos de idade a “rainhazinha” do Sr. Martin é acometida de uma doença de diagnóstico incerto. Certa noite, após um passeio com o tio em que ele lhe falou sobre sua mãe, Teresa começou a ter tremores, anorexia, alucinações, que se agravaram até que ficou sem poder falar. Os médicos não conseguiam nem mesmo fazer um diagnóstico de sua enfermidade. No entanto, ela foi instantamente curada após um sorriso de uma imagem de Maria Santíssima, a quem a família invocava sob o título de Nossa Senhora das Vitórias, que se encontrava em seu quarto – daí a origem da devoção à “Virgem do Sorriso”. Formidavelmente, tudo isso aconteceu num dia 13 de maio, porém o ano era 1883 – mais de 30 anos antes da primeira aparição de Nossa Senhora em Fátima (em 1917).
Em meio aos cuidados e preces de suas irmãs, Teresinha recebe a graça da cura de sua misteriosa enfermidade por meio do sorriso da Santíssima Virgem. |
A imagem de Nossa Senhora das Vitórias que sorriu e curou a pequena Teresa. |
Em 8 de maio de 1884, Teresa faz sua primeira comunhão, motivo de grande júbilo para toda a família. O acontecimento foi comparado por ela a um beijo de amor, ou, mais ainda, a uma fusão de amor com Jesus. No dia 14 de junho do mesmo ano, recebeu o sacramento da Confirmação, tendo sido sua madrinha a irmã Leônia. “Nesse dia”, diz ela, “recebi a força de sofrer, pois logo em seguida devia começar o martírio de minha alma…” (op. cit., p. 95).
A Florzinha branca, que já havia muito pensava em seguir o caminho da irmã Paulina, acalentava cada vez mais o sonho de ser carmelita. Mas antes dela foi a vez da irmã mais velha, Maria, entrar para o Carmelo (para o mesmo convento onde se encontrava Paulina), em 15 de outubro de 1886.
Por volta de um ano após sua primeira comunhão, e por cerca de um ano e meio, Teresa foi atormentada pela “doença dos escrúpulos”, pela qual tudo se lhe afigurava pecado, e tudo parecia ser impeditivo para receber a Eucaristia. “É preciso passar por tal martírio para o compreender. […] Todos os meus pensamentos e as mais simples atividades se tornavam para mim motivo de perturbação” (op. cit., p. 100).
Teresa só sentia algum alívio quando contava os seus pensamentos à irmã Maria, que a acalmava e orientava. Depois que Maria entrou para o Carmelo, a caçula passou a dirigir-se sobre essa questão aos seus quatro irmãos falecidos: “Foi aos quatro anjinhos, meus predecessores lá no alto, que me dirigi com a ideia de que suas almas inocentes, por não terem jamais conhecido inquietações nem temores, deviam compadecer-se de sua pobre maninha que sofria aqui na terra […]” (op. cit., pp. 109-110). Diz ela que a resposta não se fez esperar e que a paz logo lhe inundou a alma com sua “deliciosa exuberância” (op. cit., p. 110).
Ainda antes dos 14 anos, uma de suas principais leituras foi o livro A imitação de Cristo, que de tanto ler sabia quase de cor. Ao lado da Sagrada Escritura, foi na Imitação de Cristo que a santa dizia encontrar “alimento sólido e todo puro” para a sua espiritualidade (op. cit., p. 197). Por volta de 17 ou 18 anos, encontrou luzes e sustento espiritual nas obras de São João da Cruz. Mas foi sem dúvida nos Evangelhos que encontrou “tudo quanto minha pobre alminha necessita. Nele sempre encontro novas luzes, sentidos ocultos e misteriosos… Compreendo, e sei por experiência, que o reino de Deus está dentro de nós. Jesus não precisa de livros nem de doutores para instruir as almas. Ele, o Doutor dos doutores, ensina sem ruído de palavras […] É quem me orienta, inspirando-me o que devo dizer ou fazer” (op. cit., p. 197).
A graça da maturidade espiritual
Teresa, assumidamente mimada e demasiadamente sensível (a ponto de admitir que se havia tornado “realmente insuportável” em razão dessa peculiaridade – op. cit., p. 111), diz que “recebeu a graça de sair da infância” após um acontecimento familiar que determinou uma guinada em sua vida. Esse evento acontece no Natal de 1886 e enseja o que ela considera a graça da conversão completa. Seguindo um antigo costume da família, ao chegar da missa da meia-noite foi pegar seus sapatos na lareira, os quais, previsivelmente, estariam com presentes. O pai, que sempre gostara de ver a filha dar gritos de alegria naquelas ocasiões, estava fisicamente cansado e, sem saber que a menina o ouvia, acabou por dizer palavras que a feriram: “Afinal, que sorte ser este o último ano!…” referindo-se ao fato de que, no ano seguinte, o pequeno ritual seria dispensado, já estando a caçula com 14 anos.
A rainhazinha e seu rei. |
A emotiva Teresa, que subia as escadas da casa, ficou com lágrimas nos olhos e, disfarçando, continuou seu trajeto. Apenas a irmã Celina percebeu o que se passara. Teresa então sufocou as lágrimas e, contrariando seu comportamento habitual, refez-se e desceu rapidamente as escadas. É que num átimo Jesus lhe transformara o coração fazendo-a amadurecer instantaneamente. Diz ela que o Bom Deus operou um pequeno milagre para fazê-la crescer de uma vez (op. cit., p. 112) e transformar a menina mimada e sensível em pessoa forte e corajosa, “vindo a justificar-se a observação que me fora feita: ‘Tanto choras em tua infância que não te sobrarão lágrimas para chorar mais tarde!’” (op. cit., p. 112). De fato, ali, diz ela, Jesus quis mostrar-lhe que devia livrar-se dos defeitos da infância, e daquele momento em diante estancou-se a fonte de suas lágrimas (op. cit., p. 112).
Nessa noite de Natal Teresa identifica o início do terceiro período de sua vida, o mais belo de todos e o mais repleto de graças do céu. A partir daí, passou a sentir de forma ineditamente intensa o desejo de trabalhar pela conversão dos pecadores, de ser pescadora de almas: “Senti, numa palavra, a caridade penetrar-me no coração, a necessidade de esquecer-me a mim mesma, para dar prazer e, desde então, fui feliz!” (op. cit., p. 113). Certo domingo, olhando condoída uma gravura de Nosso Senhor na cruz, e meditando sobre suas palavras – “Tenho sede” – sentiu intenso desejo de dar de beber ao seu Bem-Amado e sentiu-se ela própria sedenta de almas (nesse momento, ainda não as de sacerdotes, como ocorreria mais tarde, mas as de grandes pecadores).
No ano seguinte (1887), ocorre um episódio marcante para a espiritualidade de Teresa. O execrado Henrique Pranzini, que havia assassinado duas mulheres e uma criança em Paris, fora condenado à morte. Nos meses de julho a agosto Teresa rezou intensamente pela salvação da alma do criminoso, que não demonstrava remorso, e pediu a Nosso Senhor um sinal de arrependimento do assassino. No fim de agosto, leu exultante nos jornais que no momento em que o pescoço de Pranzini foi colocado na guilhotina, ele agarrou um crucifixo que lhe dera um sacerdote e beijou três vezes as sagradas chagas. Era o sinal que ela havia pedido e que indicava a aprovação divina de seu desejo de ser pescadora de almas: “Não foi diante das chagas de Jesus, vendo correr seu sangue divino, que a sede de almas me calou no coração?” (op. cit., p. 115). Teresa considerou Pranzini o seu “primeiro filho” – ela que, mais tarde, já no Carmelo, diria a Nosso Senhor: vós o sabeis, não tenho outros tesouros senão as almas que vos aprouvestes unir à minha” (op. cit., p. 277).
A superação de obstáculos para entrar no Carmelo
Teresa resolveu contar ao pai seu desejo de entrar para o Carmelo no dia de Pentecostes, 29 de maio de 1887. Apesar da tristeza por vislumbrar a separação de sua “rainhazinha”, o pai logo entendeu que essa era a vontade do Senhor, dizendo “que o Bom Deus lhe fazia grande honra em lhe pedir assim suas filhas” (op. cit., p. 124) – outras duas (Maria e Paulina) já estavam no convento.
Uma série de provações se seguiu à determinação de Teresa de entrar para o Carmelo. Logo de início, o tio materno, que ajudava o Sr. Martin na criação das filhas, proibiu Teresa de falar de sua vocação antes dos 17 anos. A menina ficou profundamente triste, mas resolveu, 15 dias depois, falar novamente com o tio. Nos três dias que antecederam a nova conversa, passou por uma “profunda noite da alma… Como Jesus no jardim da agonia, sentia-me só, não encontrando consolo nem na terra, nem nos céus” (op. cit., p. 126). Mas no dia seguinte, um sábado – dia consagrado a Nossa Senhora –, conversando novamente com o tio, deparou com uma outra pessoa, que mostrou entender sua vocação e afirmou que a ela não faria oposição.
Por pouco tempo durou sua alegria, pois numa visita à irmã Paulina soube que o superior eclesiástico do Carmelo de Lisieux, padre Delatroëtte, só lhe permitiria entrar para o claustro aos 21 anos. Dirigiu-se então com o pai e a irmã Celina ao padre, mas novamente teve seus desejos frustrados. Como, por fim, o superior lhe afirmou que era apenas um delegado do bispo de Bayeux e Lisieux, Dom Hugonin (1823-1898), Teresa decidiu conversar com o prelado, com o firme intuito de demonstrar-lhe a firmeza de sua vocação; mas nesse encontro também não obteve resposta favorável.
Numa peregrinação a Roma, com o pai e a irmã Celina, feita por ocasião do áureo jubileu sacerdotal do Papa Leão XIII, teve uma audiência com o Sumo Pontífice. Depois de lhe beijar os pés, com os olhos marejados e a voz trêmula, pediu ao Santo Padre uma grande graça: a permissão de entrar para o Carmelo aos 15 anos de idade. Informado pelo vigário geral de D. Hugonin, monsenhor Révérony, de que o assunto estava sendo examinado pelos superiores do Carmelo, Leão XIII disse a Teresa: “Vamos lá… Vamos lá… Entrareis, se o Bom Deus o quiser!” (op. cit., p. 153).
E o Bom Deus o quis. Finalmente, após inúmeros obstáculos, foi autorizada a entrada de Teresa para o Carmelo pelo bispo de Bayeux, no dia 28 de dezembro de 1887. Porém a priora do Carmelo de Lisieux, madre Maria de Gonzaga, determinou que o ingresso se desse somente depois da Quaresma. Assim, em 9 de abril de 1888, quando era celebrada a festa da Anunciação, a Florzinha branca finalmente realizou o seu sonho. A escolha de seu nome religioso foi considerada por Teresa uma delicadeza do Menino Jesus. Desde cedo, ela se oferecera para ser um brinquedo nas mãos do Menino: “Dissera-lhe que se utilizasse de mim, não como brinquedo de valor, que as crianças se contentam em olhar, sem coragem de pegar nele, mas como bolinha sem nenhum valor, que poderia jogar ao chão, bater com o pé, furar, largar num canto, ou também apertar ao coração, quando fosse de seu agrado” (op. cit., p. 155).
O menino Jesus recebe o seu valoroso presente. |
Ao meditar sobre qual seria o seu nome ao entrar para o Carmelo, ocorrera-lhe, como num sonho acordada, a lembrança de Jesus pequenino, e pensou que seria muito feliz se se chamasse Teresa do Menino Jesus (op. cit., p. 84). Sem saber de seus desejos, madre Maria de Gonzaga teve a idéia de chamá-la exatamente assim, para sua enorme alegria.
A vida no Carmelo
Logo depois que entrou para o claustro, Teresa fez, em 28 de maio de 1888, uma confissão geral, “como nunca fizera anteriormente”, com o padre Pichon, que, ao final, asseverou: “Na presença do Bom Deus, da Santíssima Virgem e de todos os Santos, declaro que jamais cometestes um só pecado mortal” (op. cit., p. 168). E assim aquela que recebeu tão grande graça de Nosso Senhor iniciou sua caminhada no Carmelo, sempre perseguindo o caminho da perfeição e da santidade em meio à vida de oração e trabalhos diários.
No dia 10 de janeiro de 1889, Teresa recebeu o hábito da Ordem e escreveu pela primeira vez num santinho: “Irmã Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face”. Se a devoção ao Menino Jesus vinha da infância, a devoção à Sagrada Face iniciou-se por meio de sua irmã madre Inês de Jesus, já no início da vida religiosa de Teresa. No Carmelo, diz-nos a santa que as lágrimas e o sangue de Jesus se tornaram seu orvalho, e seu sol era a sua adorável Face, velada de pranto (op. cit., p. 170). Dessa forma, conseguiu aproximar-se de Jesus contemplando os sofrimentos expostos na sua Sagrada Face e adentrou os “mistérios de amor” nela escondidos, compreendendo enfim “o que vinha a ser a verdadeira glória” (op. cit., p. 171).
Nos dias que antecederam a cerimônia, Teresa andava triste porque tudo indicava que seu pai não poderia estar presente – desde o ano anterior ele apresentava sintomas da arteriosclerose cerebral que lhe provocou paralisia e tirou-lhe a sanidade mental, e que acabou por levá-lo à morte. Porém o Sr. Martin se recuperou surpreendentemente e pôde participar, “formoso e imponente” (op. cit., p. 174), da solenidade, ocasião em que Teresa o abraçou pela última vez. Além de lhe conceder essa graça, Jesus quis agradá-la de tal forma que a presenteou com neve nesse dia glorioso – desde a infância, Teresa ficava extasiada com a neve (“quiçá por ser florzinha de inverno”, dizia ela (op. cit., p. 173), e sempre desejara que no dia de sua tomada de hábito a natureza estivesse, como ela, “enfeitada de branco” (op. cit., pp. 173-174).
O que fora fazer no Carmelo, a Pequena Flor o disse antes de emitir os sagrados votos, no dia 8 de setembro de 1890, na festa da Natividade da Virgem Maria: “Declarei-o aos pés de Jesus-Hóstia no exame que precedeu minha profissão: ‘Vim para salvar as almas e, principalmente, para rezar pelos sacerdotes’” (op. cit., p. 167). De fato, desde a viagem a Roma decidira-se firmemente a rezar especialmente pelas almas dessas pessoas tão especiais que se dedicam com tanto afinco ao reino de Deus.
Na véspera de sua profissão, Teresa fora atormentada por dúvidas sobre sua vocação, o “demônio insuflava-me a certeza de que [a vida no Carmelo] não era feita para mim” (op. cit., p. 182). Porém uma conversa com sua mestra fez com que se pacificasse: “Ela, felizmente, viu mais claro do que eu, e tranquilizou-me por completo. Aliás, o ato de humildade que eu acabava de praticar afugentara o demônio, que talvez me não julgasse com ânimo de confessar minha tentação. Tão logo acabei de falar, dissiparam-se minhas dúvidas” (op. cit., p. 183). Assim, no dia da profissão diz ter-se sentido “inundada por um caudal de paz…”, aduzindo que sua união com Jesus “não se efetuou entre trovões e relâmpagos, isto é, entre graças extraordinárias, mas no meio de uma ligeira brisa” (op. cit., p. 183).
No dia 24 de setembro de 1890 ocorreu a cerimônia de sua tomada de véu, à qual já não pôde comparecer o Sr. Martin. Um mês após a tomada de hábito de Teresa, seu pai fora internado na casa de saúde do Bom Salvador, em Caen, onde permaneceu por três anos. Tendo retornado a Lisieux em 1892, foi levado ao Carmelo para uma última visita às filhas, mas estava tão debilitado que mal podia falar. No momento de separar-se delas, só conseguiu dizer: “Até ao céu!” O Sr. Martin faleceu em 29 de julho de 1894, após uma longa e dolorosa doença que roubou a dignidade do querido “rei” de Teresa (a qual, apenas no Carmelo, numa conversa com a irmã Maria, foi compreender a visão que tivera, aos seis ou sete anos, das provações por que passaria o pai).
Após a morte do Sr. Martin, a filha Celina, que até o fim cuidou do pai, junto com os tios maternos, entra também para o Carmelo, onde já se encontravam três das outras irmãs (Leônia entrou definitivamente para a Ordem da Visitação de Santa Maria, em Caen, em 1899, tendo recebido o nome de irmã Francisca Teresa). Aliás, a entrada de Celina no Carmelo foi o sinal que Teresinha pedira a Deus de que seu pai havia ido diretamente para o céu.
No dia 9 de junho de 1895, na festa da Santíssima Trindade, Teresa se oferece como vítima de holocausto ao Amor misericordioso de Deus, para salvação das almas. Ela, que considerava grandes e generosas as almas que se ofereciam como vítimas à justiça divina, preferiu oferecer-se ao amor do Pai, que “de todas as partes é desconhecido, rejeitado. Os corações a quem o desejais prodigalizar voltam-se para as criaturas, pedindo-lhes felicidade em troca de seu miserável afeto, em vez de se atirarem a vossos braços e aceitarem vosso amor infinito […] Se vossa justiça, que só abrange a terra, tende a desobrigar-se, quanto mais não deseja vosso amor misericordioso abrasar as almas, porque vossa misericórdia sobe até os céus” (op. cit., p. 198). (Leia aqui o Ato de Oblação de Teresa ao Amor Misericordioso de Deus.)
No início de 1895, por determinação de madre Inês de Jesus, Teresa dá início aos escritos que futuramente comporão o livro História de uma alma, que resume a vida e a doutrina da Santa das Rosas. A obra, publicada um ano após sua morte, já foi traduzida em 58 idiomas e é responsável por várias histórias de conversão em todo o mundo.
Em fins de 1895, Teresa recebe uma grande graça. Ela, que sempre desejou ter um irmão sacerdote, pensava que se os seus irmãozinhos tivessem sobrevivido esse sonho se poderia realizar. “Eis como Jesus não só me concedeu a graça que almejava, mas uniu-me pelos vínculos da alma a dois de seus apóstolos, que se tornaram meus irmãos” (op. cit., p. 273).
No dia 17 de outubro, madre Inês de Jesus lhe confia a tarefa de ser irmã espiritual de um jovem seminarista da diocese de Bayeux (que veio a ser o padre Maurício Bartalomeu Bellière), por cuja alma deveria zelar de modo especial com orações e sacrifícios. Depois, em 30 de maio de 1896, a então superiora madre Maria de Gonzaga perguntou-lhe se não queria tomar a seu encargo os interesses espirituais de um missionário, Adolfo Roulland, seminarista da Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris, que fora ordenado em 28 de junho 1896. “Pois bem, eis como me pus em união espiritual com os apóstolos que Jesus me dera na qualidade de irmãos”, disse a Florzinha de Jesus” (op. cit., p. 276).
Nas várias ocupações que assumiu no Carmelo – rouparia, refeitório, sacristia, instrução de noviças (como auxiliar de madre Maria de Gonzaga) -, Teresa sempre procurou fazer suas tarefas com humildade e obediência. Esforçava-se por manter distância de Paulina e Maria, limitando-se às conversas na hora do recreio, já que “não foi para viver com minhas irmãs que vim ao Carmelo, mas unicamente para atender ao chamado de Jesus” (op. cit., p. 235).
Teresinha em trabalho na rouparia. |
Em meio a sua rotina, nutria o desejo de ser missionária. Mesmo já doente, dirigiu-se à superiora madre Maria de Gonzaga assim dizendo: “Bem o sabeis, minha querida madre, vossa aspiração apostólica encontra em minha alma um eco muito fiel. Permiti-me que vos conte porque desejei e ainda desejo, caso a Santíssima Virgem me cure, abandonar, em favor de uma terra estranha, o delicioso oásis onde vivo tão ditosa sob o vosso maternal olhar. […] dissestes-me […] que eu tinha tal vocação, e que o único obstáculo seria minha saúde” (op. cit., 237).
Mas não foi da vontade de Deus que Teresa partisse em missão. Entretanto, Ele, que sempre atendeu sobejamente os desejos da Santa, fez que, após sua morte, ela fosse declarada Padroeira Universal das Missões, sem nunca ter saído do Carmelo, ratificando o valor da oração e do sacrifício para a salvação das almas.
Padecimento e morte
Desde o início de 1896, Teresa, que ao longo de sua vida no Carmelo já experimentara diversos momentos de aridez espiritual, passou pela grande provação da tentação contra a fé. Com a alma invadida por “densas trevas”, o pensamento do céu, tão doce para ela, já não era senão motivo de luta e tormento (op. cit., 231). Assim explica o estado em que se encontrava:
“De repente, […] os nevoeiros que me cercam ficam mais compactos, penetram-me na alma, envolvem-na de tal sorte que já me não é possível reconhecer a imagem tão doce de minha Pátria [o céu]. Lá se foi tudo! Quando quero repousar meu coração, fatigado das trevas que o rodeiam, com a evocação do país luminoso pelo qual aspiro, meu tormento redobra. Parece-me que as trevas, tomando a voz dos pecadores, me dizem escarnecendo-se de mim: ‘Sonhas com a luz, uma pátria embalsamada dos mais suaves perfumes. Sonhas com a posse eterna do Criador de todas essas maravilhas. Crês que um dia sairás dos nevoeiros que te cercam! Avante, avante! Alegra-te com a morte. Dar-te-á não o que esperas, mas uma noite mais profunda ainda, a noite do nada” (op. cit., p. 232).
Porém, ao invés de esmorecer, ela, que já apresentava sintomas da tuberculose que ocasionaria sua morte , empenhava-se com mais fervor ainda aos atos de fé:
“Ah! Que Jesus me perdoe se lhe fiz agravo. Sabe porém que eu, embora não esteja em gozo da fé, procuro pelo menos praticar as obras correspondentes. Acho que, de um ano pra cá, fiz mais atos de fé do que em toda a minha vida. A cada nova ocasião de combate, quando o inimigo vem provocar-me, comporto-me com valentia […] Corro […] para o lado de Jesus, digo-lhe que estou disposta a derramar até a derradeira gota de sangue para professar que existe um céu” (op. cit., p. 233).
Quando, na Sexta-feira Santa, verificou que vomitara sangue, e apercebendo-se de que aquilo provavelmente era sinal de proximidade da morte, foi tomada de grande alegria, pela esperança de em breve estar com seu amado Jesus. “Era como que um murmúrio suave e distante a anunciar-me a chegada do Esposo”, diz ela (op. cit., p. 230). Porém ainda havia um longo caminho de sofrimentos a percorrer, ponteado por dores e incômodos intensos, febre, tosse, uma série de hemoptises que se inicia em 6 de julho e dura até 5 de agosto.
Em 8 de julho de 1897, com o agravamento da doença, Teresa passou à enfermaria do convento e foi somente aí que parou de escrever os textos que futuramente comporiam o Manuscrito C de História de uma alma, dirigido à madre Maria de Gonzaga). Próximo a ela foi instalada a estátua da Virgem do Sorriso, que desde a infância a acompanhava. No dia 17 de julho, sentindo aproximar-se a morte, fez a célebre declaração: “Sinto sobretudo que minha missão vai começar, minha missão de fazer amar o Bom Deus como eu o amo, de indicar às almas minha pequena trilha. Se o Bom Deus atender meus desejos, meu céu se passará na terra, até o fim do mundo. Sim, quero passar meu céu a fazer o bem na terra” (op. cit., p. 285).
Em 28 de julho, agrava-se bastante seu estado de saúde, e dois dias depois Teresa recebe a Unção dos Enfermos e o Viático. Após uma inesperada melhora, volta a sofrer atrozmente. Durante esse período, chegou a dizer: “Que seria de mim se o Bom Deus me não desse força? Não se faz ideia do que é sofrer assim. […] Que grande graça possuir a fé! Não fosse minha fé, matar-me-ia, sem hesitar um só instante” (op. cit., 286). Em todo esse tempo de agonia, Teresa mantém surpreendente senso de humor. A irmã Maria da Eucaristia, que assistia a doente, chegou a escrever aos pais, dizendo-lhes: “Quanto ao moral, sempre a mesma coisa, a jovialidade personificada, fazendo rir a todos quantos dela se acercam. Momentos há em que a gente pagaria para ter vez de ficar junto a ela…” (op. cit., p. 287). Teresa comunga pela última vez em 19 de agosto.
Nos dois últimos dias antes de morrer, a Santa que faria chover rosas sobre toda a humanidade entrou em agonia. Próximo da hora de sua morte, relata sua irmã Paulina (madre Inês de Jesus): “[…] percebi pela súbita lividez que o derradeiro transe se aproximava. […] Horrível estertor lancinou-lhe o peito por mais de duas horas. O rosto estava congestionado, as mãos arroxeadas. Tinha os pés gelados, e tremia de todos os membros. Copioso suor orvalhava-lhe a fronte em gotas enormes, destilando-lhe pelas faces. Sentia uma ofegação cada vez maior, e para respirar, soltava de vez em quando gritinhos involuntários” (op. cit., p. 293). Na hora do Ângelus, fixou o olhar na imagem da Virgem do Sorriso e segurou firmemente o crucifixo do qual não se separava e para o qual, pouco antes de morrer, olhou, dizendo: “Meu Deus, eu vos amo, eu vos amo.”
Depois dessas últimas palavras, seu semblante voltou à expressão de saúde ao olhar para um ponto abaixo da estátua da Virgem do Sorriso; ela parecia estar em êxtase. Logo em seguida, fechou os olhos e faleceu, aproximadamente às 19h20min do dia 30 de setembro de 1897. Teresa foi enterrada no mesmo cemitério de Lisieux em que estavam sepultados seus pais, mas em março de 1923 seu corpo retornou ao Carmelo de Lisieux.
A glória nos céus e a chuva de rosas sobre a terra
Logo após a sua morte, inúmeros foram os milagres atribuídos à antes desconhecida carmelita descalça. No processo de beatificação de Teresa, foram apresentadas à então Sagrada Congregação dos Ritos (hoje Congregação para as Causas dos Santos) duas curas prodigiosas. A primeira foi a da irmã Luísa de São Germano, da Congregação das Filhas da Cruz, que padecia de grave úlcera hemorrágica no estômago; a segunda, do seminarista Charles Anne, que estava com tuberculose pulmonar cavitária. Ambos foram instantaneamente curados após recorrer à intercessão de Santa Teresinha. Analisadas com todo o rigor estabelecido pela Igreja para atestar a autenticidade de um milagre, as curas foram declaradas inexplicáveis e prodigiosas.
Os milagres se sucederam em todo o mundo. Ensejando a rápida abertura do processo de canonização da Beata, foram expostos ao exame da Sagrada Congregação dois novos casos: a cura de Gabriela Trimusi e de Maria Pellemans, apresentados respectivamente pela diocese de Parma (Itália) e de Malines (Bélgica). A irmã Gabriela Trimusi, da Congregação das Filhas dos Sagrados Corações, em Parma, foi curada de uma artrossinovite crônica que lhe provocava enormes dores nos joelhos e de uma espondilite que lhe atacava a espinha dorsal. A doença já durava anos, e não respondera a nenhum dos tratamentos tentados. Curou-se após uma novena em honra da Bem-Aventurada. Maria Pellemans sofria de turberculose pulmonar, tendo mais tarde manifestado também enterite e gastrite da mesma origem tuberculosa. Curou-se após uma peregrinação ao túmulo da então Beata Teresa do Menino Jesus, cuja intercessão invocou.
Teresa foi beatificada em 29 de abril de 1923 e canonizada em 17 de maio de 1925, pelo Papa Pio XI, que a proclamou padroeira universal das missões, ao lado de São Francisco Xavier, em 14 de dezembro de 1927. Pio XI tinha grande devoção a Santa Teresinha, que dizia ser “a estrela de seu pontificado”. Em 3 de maio de 1944, o papa Pio XII proclamou-a padroeira secundária da França, ao lado de Santa Joana d’Arc.
Salve Santa Teresinha! No dizer do papa São Pio X.– “a maior santa dos tempos modernos”
Santa Teresinha dizia que vale mais não se expor a um combate quando a derrota é certa. Fuga, pode ser a saída. Na vida podem acontecer situações assim. Um amigo de trabalho era acometido de satiríase e nós morávamos juntos por conta das circunstâncias bandeirantes de nossos trabalhos. Mas Deus me dava forças para nunca confrontá-lo. Ele me convidava para irmos a baladas noturnas. Sua cabeça porém era sexo. E eu dizia eu vou com você, você no seu carro e eu no meu. E lá estava nós 2 dentro de uma boate, sonzão, mulheres lindas sensuais e perfumadas, algumas quase seminuas, luzes negras, bebidas etc. Mas o meu princípio cristão de sexo apenas no casamento era firme no meu coração. E ficava lá com ele, por vezes até gostando de um rock, mas sem mulher e pouquíssima bebida. Não tardava muito e ele se envolvia com uma. E o que eu fazia?...fuga....desaparecia, ia embora. Nunca mais ouvi falar deste amigo. Penso nele pensando em Deus, pensando em Santa Teresinha...:)
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