PIEDOSO EXERCÍCIO
DE PREPARAÇÃO PARA UMA BOA MORTE
Retirado do livro; "Adoremus", Manual de Exercícios Piedosos, Frei Eduardo Herberhold OFM, IX Edição,1914 - Páginas, 289 á 305.
PIEDOSO EXERCÍCIO DE PREPARAÇÃO PARA UMA BOA MORTE
“Estais preparados, porque o Filho do Homem virá na hora,
em que menos pensardes”
(São Lucas XII,
40)
“A morte dos pecadores é péssima” (Ps XXXIII)
“Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus Santos”
(Os CXV)
“Bem Aventurados os mortos que morrem no Senhor, porque
as obras deles os seguem”
(Apoc XIV, 13)
Nota:
A nossa eterna salvação depende da graça de uma boa
morte. Para conseguir esta graça, deves suplicar muitas vezes a misericórdia
divina com fervorosas orações, e fazer, de vez em quando, uma preparação
prática para a morte.
Não julgues, que este exercício piedoso e salutar torne a
tua vida triste e amarga. Pelo contrário, te trará tranqüilidade de espírito,
paz da alma, consolação inefável e grande alívio na hora de tua morte. A
lembrança da morte preservar-te-á de pecados, dar-te-á força contra as
tentações; teu fim será precioso e o trânsito feliz à vida eterna, enquanto que
a morte dos que não se preparam é péssima, e a porta para o inferno.
“Vigiai, porque não sabeis, quando o Senhor virá!”
Escolhe, pois, um dia em cada mês para consagrá-lo ao negócio de tua eterna
salvação. Livra-te, quanto possível, dos negócios temporais, e recebe nesse dia
os Sacramentos da Confissão e da Comunhão, com muita devoção, como se fora a
última vez.
Depois, numa meia hora mais livre e tranqüila, recolhe-te na
presença de Deus, no teu quarto ou na Igreja diante do tabernáculo, lembra-te
vivamente de tua morte e da última agonia, e reza com toda a atenção e devoção
os seguintes atos e orações que então nos horrores da morte talvez não possas
fazer.
Oração a Maria
Santíssima
Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que
recorremos a Vós.
Ó Maria, refúgio dos pecadores, Mãe dos agonizantes, não
nos desampareis na hora da nossa morte, mas alcançai-nos uma dor perfeita, uma
contrição sincera, a remissão dos nossos pecados, digna recepção do santíssimo
viático, a fortaleza do Sacramento da Extrema-Unção, para que possamos seguros
apresentar-nos ante o trono do justo, mas também misericordioso Juiz, Deus e
Redentor nosso. Amém.
(100 dias de Indulgência)
Ato de Fé
Creio em um só Deus em três pessoas: Padre, Filho e
Espírito Santo. Creio em Jesus Cristo, Filho de Deus, que se fez homem, morreu
na cruz para me dar a vida eterna.
Creio tudo o que ensina a santa Igreja Católica, porque
Vós, meu Deus, que sois a mesma verdade, o revelastes.
Protesto solenemente na vossa presença, ó meu Deus, e na
presença de meu Anjo, que quero morrer verdadeiro filho da santa Igreja, e que
tenho horror a todos os pensamentos contrários à fé que o inimigo infernal
procure sugerir-me na minha agonia.
Olhando para o Crucifixo e beijando-o
Sim, meu Senhor Jesus Cristo, a despeito de todas as
ignomínias de vossa dolorosa morte, eu creio que Vós sois o verdadeiro Filho de
Deus vivo.
Aumentai a minha fé, ó Jesus!
Ato de Esperança
Meu Deus, ainda que o grande número de meus pecados e sua
enormidade me tornem indigno de perdão, contudo o espero de Vós pela vossa
imensa bondade e misericórdia infinita.
Espero perdão, Deus de misericórdia, pelos merecimentos
de Jesus Cristo, vosso amado Filho.
Vós sois, ó meu Deus, todo o meu amparo; tenho confiança
inabalável em Jesus Cristo, vosso amado Filho, e nas vossas divinas promessas,
pelas quais Vos suplico que me recebais na hora de minha morte, afim de que eu
viva eternamente convosco.
Beijando a imagem
de Jesus crucificado
Ó meu Deus, quanto é bem fundada a minha esperança!
Meu Salvador, meu amado Jesus, vendo-Vos morrer na cruz,
e derramar pela minha salvação todo o Sangue de vossas veias, qual não deverá
ser a minha esperança!
Em Vós, Senhor, espero; não serei confundido eternamente.
Vós, Senhor, sois meu refúgio na hora da minha morte.
Fortificai a minha esperança!
Ato de Caridade
Majestade amabilíssima, eu Vos amo mais que a vida, e
contente a perderei, sacrificando-a por amor de Vós.
Amo-vos de todo o meu coração, sobre todas as coisas,
porque Vós sois digno de todo o amor.
Amo também o meu próximo, e mesmo os meus inimigos por
amor de Vós. Ó meu Deus, peço perdão de todo o meu coração àqueles que ofendi;
e de boa vontade perdôo a todos que me querem mal, e a todos que mo têm feito.
Olhando para o
Crucifixo
“Meu Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem”;
perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nosso devedores.
Ato de Contrição
Meu Deus e Senhor, tende piedade de mim, segundo a vossa
grande misericórdia; e segundo o excesso de vossa piedade, perdoai-me todos os
meus pecados.
Não Vos lembreis dos pecados que em minha mocidade
cometi, mais por imprudência do que por malícia.
Ó meu Deus, quanto fui ingrato! Mas eu Vos ofereço em
união com o precioso Sangue de meu divino Salvador, em satisfação de minhas
culpas, um coração extremamente arrependido, e uma alma submergida na amargura
de seu íntimo pesar.
Ó dulcíssimo Jesus, não sejais para mim Juiz, mas
Salvador!
(50 dias de Indulgência)
Ato de Humildade
Quanto me considero feliz na vossa graça, no vosso amor,
ainda mesmo nas dores e aflições da enfermidade, ó meu Deus, eu que bem podia
estar já no fogo do inferno entre os condenados!
Reconheço, Senhor, que me tratais com suma bondade, pois
que, pelos meus pecados, mereci penas infinitas.
Vós sois justo, Senhor, e justo são os vossos juízos! Sei
bem porque devo sofrer. Recebemos o castigo que merecemos.
Quero suportar a ira do Senhor, porque pequei contra Ele.
Ato de Resignação
Seja feita a vossa vontade, ó meu Senhor; e não a minha.
Quereis, meu Deus, que eu morra? Eu me submeto e me entrego absolutamente aos
vossos santos juízos; adoro-os com todo o afeto de minha alma, dizendo-Vos do
íntimo do meu coração e no espírito de Jesus Cristo, vosso amado Filho: “Meu
Pai, se não é possível que este cálice passe, sem que eu beba, cumpra-se a
vossa vontade”.
Ato de Agradecimento
Ó meu Deus, com a mais profunda humildade Vos rendo
graças pelos anos de vida e de saúde que me concedestes, e também pelas dores
que sofro, e que hei de sofrer na hora de minha morte, pois que tudo provém do
vosso amor.
Dou-Vos, igualmente graças, e jamais cessarei de Vo-las
dar por todos os benefícios que recebi da vossa bondade durante a minha vida.
Bendirei ao Senhor em todo o tempo; o seu louvor esteja
sempre em minha boca.
Bendito sois Vós, Senhor, no firmamento do céu, e
louvável e glorioso para sempre!
Tendo rezado estes atos, faze sentado, com todo o
recolhimento, meditando e pensando na hora de tua morte, a seguinte Leitura
Espiritual.
I
Bem depressa te concluirás neste mundo; por isso olha
como vives. Hoje está vivo o homem, e amanhã já não existe!
Em se perdendo de vista, também depressa se perde da
lembrança.
Que cegueira e dureza a do coração humano, que só pensa
no presente, sem cuidar do futuro!
De tal modo te deves conduzir em todos os teus
pensamentos e em todas as tuas obras, como se hoje mesmo houveras de morrer.
Se tivesses boa consciência, não temerias muito a morte.
Se não estás preparado hoje, como estarás amanhã?
O dia seguinte é incerto: e como sabes que o terás?
Ah! Nem sempre a longa vida nos emenda, antes aumenta as
culpas.
Oxalá um só dia tivéramos bem vivido neste mundo!
Se morrer é tão medonho, muito mais talvez ainda seja
viver por muito tempo.
II
Ditoso quem sempre tem na vista a hora da morte, e
dispõe-se a cada dia a morrer!
Lembra-te pela manhã que podes não chegar à noite; em
chegando, porém, à noite, não contes a chegar até a manhã.
Prepara-te sempre, e vive de tal modo, que nunca te
encontre a morte despercebido.
Muitos morrem inesperada e repentinamente, pois que,
quando menos se pensar, o Filho do Homem há de vir.
Quando vier essa última hora, bem diversamente começarás
a julgar de toda a tua vida passada, e muito te arrependerás de teres sido tão
negligente e remisso.
Como é prudente e feliz aquele que se esforça por ser
agora em vida, como deseja sê-lo na morte!
Pois o que dará grande confiança de morrer
venturosamente, é o perfeito desprezo do mundo, a penitência, a obediência, a
renúncia de si mesmo e a paciência em sofrer qualquer adversidade por amor de
Jesus.
Em havendo boa saúde, muito fácil é praticar o bem; uma
vez, porém, doente, não sei de que serás capaz; poucos se emendam com as
enfermidades.
Não difiras para mais tarde tua salvação; melhor é fazer
com tempo provisão de boas obras e enviá-las com antecipação, que esperar no
socorro dos demais, porque os homens se esquecerão de ti mais cedo do que
pensas.
Agora é o tempo precioso, agora são os dias da salvação,
agora é o tempo aceitável!
Mas que pena, que não o gastes mais utilmente, podendo
conseguir com ele o viver eternamente!
Virá, porém, um momento em que desejarás um dia ou uma
hora para emendar-te, e não sei se o conseguirás.
III
Ah! Irmão caríssimo, de quantos perigos te poderias
livrar, de quantos temores fugir, se estiveras sempre temeroso e desconfiado da
morte.
Trata agora de viver de tal modo, que na hora da morte possas
antes alegrar-te, que temer.
Aprende agora a morrer para o mundo, para que então
comeces a viver com Jesus.
Castiga agora o teu corpo pela penitência, para que então
possas ter confiança certa.
Ah! que loucura! Como cuidas que hás de viver muito tempo,
se um só dia não tens seguro?
Quantos se deixaram enganar, e, de improviso, foram
arrancados de seus corpos!
A vida do homem como sombra passa em um instante.
Faze, faze, agora, meu amigo, o que te for possível, pois
não sabes, quando morrerás, nem o que te acontecerá depois da morte.
Enquanto tens tempo, reúne riquezas imortais.
Não cuides senão de tua salvação, e nem te preocupes
senão das coisas de Deus.
Em venerando os Santos de Deus e imitando a sua vida,
fazer agora deles os teus amigos, de sorte que, quando venhas a morrer, sejas
por eles recebido nos tabernáculos eternos.
Vive sobre a terra como peregrino e hóspede, que nada tem
que ver com os negócios do mundo. Conserva o teu coração livre e levantado a
Deus, porque aqui não tens morada permanente. Para o céu é que deves dirigir
todos os dias as tuas lágrimas e os teus gemidos, para que depois da morte
mereças a felicidade de passar para o Senhor. Amém. (Imit. 1. 23.)
Ato de Súplica
Ó meu Deus, concedei-me a graça de receber a minha morte,
assim como devo e como Vós quereis. Dai-me a força e as disposições necessárias
para executar perfeitamente todos os vossos desígnios.
Santificai a minha morte, meu Deus, pelos merecimentos da
morte de vosso amado Filho, fazendo que a divina palavra que Ele disse na cruz:
“Meu Pai, perdoai-lhes, porque eles não sabem o que fazem”, me obtenha de vossa
bondade a indulgência plenária de todas as ofensas, com que Vos tenho agravado.
Que a sede abrasadora que Jesus teve de vossa glória e de
minha salvação, e que exprimiu, dizendo: “Tenho sede”, repare toda a minha
tibieza e acenda no meu coração um desejo ardente de Vos glorificar.
Que a palavra com que Jesus Vos encomendou sua alma no
momento se sua morte, Vos induza a receber a minha alma no último suspiro de
minha vida.
Que a palavra que Ele proferiu, dizendo: “Está tudo
consumado”, me obtenha a graça de que consumeis em mim, antes que eu morra,
quanto pretendeis para a vossa honra.
Que a água sagrada e o Sangue precioso que saiu de seu
lado, lavem as minhas manchas, e que o seu Coração, traspassado por mim, me
sirva de refúgio na minha última agonia.
Escondei-me no Coração amorosíssimo de Jesus, vosso amado
Filho, meu Salvador. Ponde-me a coberto das ciladas de meus inimigos, nesse
divino santuário e nessas chagas sacrossantas.
Lançando os olhos
à cruz, beijando-a
Pertenço a Vós, ó Jesus, salvai-me! Vós sois meu
protetor, não Vos afasteis de mim, porque a tribulação está próxima, e não há
quem me ajude.
Lembrai-Vos de mim. Tende piedade de mim. Vede a minha
dor, e perdoai-me todos os meus delitos.
Ato de Aceitação
Meu Senhor e meu Deus, Vós bateis à minha porta; aqui
tendes o meu coração aberto para Vos receber; estou pronto a passar à outra
vida, logo que assim o queirais.
Sois justo, Senhor, e reto é o vosso juízo; adoro a vossa
eterna justiça, e confesso diante do céu e da terra: Mereço a morte por minha
culpa, por minha culpa, por minha máxima culpa.
Ah meu Pai, devo algum dia morrer e descer ao sepulcro.
Que castigo tão doloroso! Mas se é grande a vossa justiça, maior é a vossa
misericórdia. Vosso divino Filho, Jesus Cristo, meu Salvador, morreu por mim,
livrando-me da morte eterna e suavizando os horrores da morte temporal. Se eu
aceitar e sofrer a morte por vosso amor, ela será um ato heróico, um sacrifício
sublime que Vos agrada.
Assim morreu Maria Santíssima, minha Mãe, e sua morte foi
preciosíssima; assim morreram os Santos, e sua morte foi o trânsito feliz à
vida eterna.
“Portanto, Senhor, meu Deus, desde já aceito de vossa mão, com resignação e de boa vontade, qualquer
gênero de morte, conforme Vos aprouver, com todas as suas angústias, penas e
dores” *
Aceito a morte, ó meu Deus, para Vos reconhecer por
supremo Senhor da vida e da morte, e para adorar assim com a mais profunda
humildade a vossa divina Majestade, o vosso poder divino e o direito absoluto
que tendes sobre mim. Quero morrer, ó meu Senhor e Deus, para Vos adorar.
Aceito a morte, meu Deus, como Jesus, em espírito de
gratidão e amor. Oh, quanto me amastes desde toda a eternidade! Como poderei
retribuir-Vos os inumeráveis benefícios que me fizestes? Nada tenho neste mundo
que me seja mais caro que a vida, eu Vo-la dou, de boa vontade, em testemunho
do meu amor e de minha gratidão. Quero morrer, para Vos mostrar o meu amor.
Aceito a morte, é meu Deus, pelo zelo de vossa honra,
como uma confissão pública que faço de meus pecados, diante de vossa divina
Majestade, diante dos Anjos e dos homens e diante de todas as criaturas, como
um suplício que quero sofrer em desagravo e reparação de todos os pecados do
mundo, e para restituir-Vos, do modo que me é possível, a glória que Vos tirei
durante a minha vida. Consinto, pois, que minha alma seja separada do corpo em
castigo de tantas vezes se haver separado de Vós pelo pecado. Aceito a perda de
todos os meus sentidos em desconto dos pecados que com eles cometi; meu corpo
seja enterrado, comido dos bichos, e reduzido ao pó, em castigo e penitência
pelos prazeres mundanos, e pelos crimes com que, por meio dele, tantas vezes
Vos ofendi.
Ó meu Deus, quero morrer em reparação dos meus pecados e
de todos os pecados do mundo.
Enfim aceito e ofereço-Vos a minha agonia e morte, para
chamar sobre mim e sobre todos os homens as graças de vossa divina
misericórdia. Ofereço-Vos, meu Deus, a minha morte em união com a sagrada
paixão e morte de Jesus, pelo Coração imaculado de Maria, para consolar os
aflitos, para converter os pecadores, para ajudar aos moribundos e para livrar
as almas do purgatório. Assisti-me, Senhor, meu Deus, para que assim minha
morte, ainda que dolorosa, seja ao mesmo tempo preciosa, pelos merecimentos de
Jesus e pela intercessão de Maria. Amém.
* Nota: O fiel
cristão que, em qualquer dia, tendo-se confessado e comungado, com sincero
afeto de amor para com Deus, rezar estas palavras, ganhará uma indulgência
planária na hora da morte.
"Dê-me, Senhor, agudeza para entender,
capacidade para reter, método e faculdade para aprender, sutileza para
interpretar, graça e abundância para falar. Dê-me, Senhor, acerto ao começar,
direção ao progredir e perfeição ao concluir"
(Santo Tomás de Aquino)
LADAINHA
(Para obter a
graça de uma boa morte.)
A Nosso Senhor
Jesus Cristo.
Ó Jesus, meu Senhor e Deus de toda a bondade, pai de
misericórdia, eu me apresento diante de Vós com o coração humilhado, contrito e
confuso; imploro a vossa misericórdia para minha ultima hora, e para o que
depois d’ela me espera.
Quando os meus pés imóveis me advertirem que minha
carreira neste mundo está próxima a
Terminar, ó
misericordioso Jesus, tende piedade de mim!
Quando minhas mãos trêmulas e entorpecidas não puderem já
sustentar vossa imagem, o crucifixo, e a meu pesar o deixarem cair sobre o
leito de minhas dores, ó misericordioso
Jesus, tende piedade de mim!
Quando os meus olhos, já vidrados e ofuscados pelos
horrores da morte eminente se fixarem em Vós com um olhar languido e moribundo,
ó misericordioso Jesus, tende piedade de
mim!
Quando os meus lábios frios e trêmulos pronunciarem
pela última vez Vosso Nome adorável, ó misericordioso Jesus, tende piedade de mim!
Quando as minhas faces pálidas e lívidas inspirarem
aos circunstantes, compaixão e terror, e os meus cabelos, banhados em suor da
morte, anunciarem estar próximo o meu fim, ó misericordioso Jesus, tende piedade de mim!
Quando os meus ouvidos, próximos a cerrarem-se para
sempre aos discursos dos homens, se abrirem para escutar Vossa Voz, que então
pronunciará a irrevogável sentença que fixará minha sorte por toda a
eternidade, ó misericordioso
Jesus, tende piedade de mim!
Quando minha imaginação, agitada de horrendos e
temerosos fantasmas, estiver submergida em mortais tristezas; quando o meu
espírito, perturbado ao aspecto de minhas iniqüidades e pelo temor da Vossa
Justiça, lutar contra o anjo das trevas, que quererá privar-me da vista
consoladora de Vossas Misericórdias e precipitar-me no abismo da
desesperação, ó
misericordioso Jesus, tende piedade de mim!
Quando o meu débil coração, oprimido das dores da
enfermidade, e tomado dos horrores da morte, estiver extenuado dos esforços que
houver feito contra os inimigos da salvação, ó misericordioso Jesus, tende piedade de mim!
Quando eu derramar as minhas últimas lágrimas,
sintomas da minha destruição, recebei-as, ó meu Jesus, em sacrifício
expiatório, para que eu expire como verdadeira vítima de penitência; e naquele
temível momento, ó
misericordioso Jesus, tende piedade de mim!
Quando os meus parentes e amigos, estando em torno
de mim, se enternecerem ao ver o meu lastimoso estado, e por mim invocarem o
Vosso Nome, ó misericordioso
Jesus, tende piedade de mim!
Quando eu tiver perdido o uso de todos os meus
sentidos, e o mundo inteiro tiver desaparecido diante de mim; quando eu gemer
nas aflições e angústias da última agonia, ó misericordioso Jesus, tende piedade de mim!
Quando as últimas ânsias do coração forçarem a alma
a sair do corpo, aceitai-as como efeito de uma santa impaciência de me achegar
a Vós; e Vós, ó
misericordioso Jesus, tende piedade de mim!
Quando a minha alma, como que voando pelos meus
lábios, sair para sempre deste mundo, e deixar o meu corpo pálido, frio e sem
vida, aceitai esta destruição do meu ser terrestre, como uma homenagem que de
boa vontade presto à Vossa Divina Majestade, e então, ó misericordioso Jesus, tende piedade de
mim!
Quando, finalmente, a minha alma comparecer diante
de Vós, e vir pela primeira vez o esplendor imortal de Vossa Majestade, não a
expulseis de Vossa Face, mas dignai-Vos de me receber no seio amoroso de Vossa
Misericórdia, para que eu cante eternamente as Vossas Misericórdias: ó misericordioso Jesus, tende piedade de
mim!
Ao Padre Eterno
Ó Deus que, condenando-nos à morte, nos ocultastes
a hora e o momento dela, concedei-me a graça de viver em justiça e santidade
todos os dias de minha vida, e de merecer, assim, sair deste mundo no Vosso
santo Amor. Pelos merecimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, que convosco vive
e reina, em união do Espírito Santo.
Amém.
(100 dias de indulgência. Uma vez por dia.)
Desejos do Céu.
Meus Deus, sumo Bem de minha alma, quando comparecerei
diante de Vós, para Vos ver? Quando contemplarei a glória de vosso reino?
Quando em Vós, Senhor, exultarei de jubilo e eterna alegria? Oh! Quando estarei
convosco, no reino que desde toda a eternidade preparastes para os vossos
eleitos?
Ó meu Jesus, fazei-me ouvir já a vossa dulcíssima voz: ×Em verdade te digo, hoje mesmo estarás
comigo no paraíso! Ø Oh! Quanto me desgosto da terra, quando me
lembro do céu!
Um dia nos vossos átrios, Senhor, é melhor, do que
milhares neste mundo, melhor é o menor gozo no céu do que todas as delícias da
terra. Desejo, pois, ser dissolvido, para estar com Cristo, meu Deus e
Salvador. Os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, nem jamais entrou no
coração do homem, o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Por que
estás triste, minha alma? Espera em Deus!
Vinde, vinde, ó Deus do meu coração, para que eu Vos
possa louvar, amar e possuir eternamente em união com todos os Anjos e Santos.
Vinde, Maria, minha Mãe Santíssima, vinde Anjos, e levai a minha alma em vossa
companhia!
Despedi, Senhor, o vosso servo em paz, e fazei com que os
meus olhos vejam para sempre o vosso ungido, Jesus Cristo, vosso Filho, Nosso
Senhor, que convosco vive e reina em Glória e Majestade, por todos os séculos
dos séculos.
Amém.
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